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Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (82) -- 20/04/2013 - 11:06 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (82)

Nem tudo está perdido. Nos bons momentos em que pude privar da companhia de Ismael Caldas, era a primeira frase que ouvia, quando nos avistávamos. Além de um grande papo ali na Rua da Assembleia Legislativa, no centro do Recife, a noite também se alongava. Artista plástico premiado, expositor em Nova Iorque, Ismael é detentor de espírito aguçado e uma bagagem enorme de informações. Exatamente do tamanho de seu talento e de sua generosidade. Em minha modesta galeria em casa, conservo sempre limpa da poeira e intempéries, uma tela sua da coleção "Quadrilha". Quantas boas noites varadas com ele, ao lado de Roberto Martins, emérito Sociólogo e acadêmico de renome.
Nessa época minha sede por uísque era muito maior. Regando esses papos de maneira fonográfica, pontificavam as figuras de Chet Baker, Duke Ellington, Count Basie, Ella Fitzgerald e toda a patota disponível, produzida para perpetuidade do jazz. Além de telas em processo e outras em acabamento, o espaço era cheio de livros, tintas e pincéis. E o notável nisso tudo era que ouvíamos, deglutíamos e nos divertíamos. Os comentários sempre convergentes às vezes suscitavam um clima de divergências. Numa dessas vezes, ficamos eu e Ismael a discutir qual das duas bandas era a melhor: The Beatles ou The Rolling Stones? Que pese minha admiração pelo gingado enlouquecido de Jagger, fui, sou e serei preferencialmente admirador do quarteto de Liverpool.
Afora os 730 minutos gravados pelo velho companheiro Falcão Galápagos, cujo primeiro nome é Sidney, ainda tenho alguns CDs, incluindo a obra-prima, "Sgt. Pepper´s, lonely heart club band". Mas Ismael, depois de ligar sua metralhadora arguível para cima da minha frágil pessoa, se aquietava quando eu propunha uma trégua, sempre aceita com ternura e carinho de um cabra sensível. De minha parte, como nunca abri mão de minha sensibilidade, devo dizer que o repertório na cerimónia do meu casamento, continha "Eleanor Rigby", essa peça imortal digna de uma dupla de criadores, uma das maiores da história da boa música: Lennon & MacCartney.
Quando removo os excessos de nostalgia barata e do falso saudosismo, quero me reportar e fincar os pés nos dias atuais. Essa noite, ao chegar de viagem cansativa, fui participar de um velho sarau. Ocorre todo segundo
sábado de cada mês. É uma ideia do acadêmico (Academia camaragibense de letras) Geraldo Alves, filósofo, poeta e diretor do CEFAPE, Centro de Filosofia Águas Perenes. Ali se reúnem poetas, cordelistas e cantadores de diversos naipes sociais, ainda bem. Nessa sexta-feira 12, ocorreu num Colégio local. O paràmetro que desejo traçar entre o início deste texto e a sessão de poesia é que, diferentemente de outros tempos, ela parece não ser o forte dessa audiência.
De minha parte, cético que nem, já não espero muito do adolescente de hoje, com raras, raríssimas exceções. Pudera! Com essa produção artística que vige nos nossos dias, pouco importa se insistimos nalgum espírito nostálgico ou saudosista. Para nosso desencanto - ao menos meu - a plateia quase era igualada em termos quantitativos ao grupo de versejadores do palco do educandário e era-lhe indiferente. A apatia dos estudantes rima com o termo poesia. Os gatos pingados espalham-se ao longo do auditório, como que se refugiando em si mesmos, talvez pela ojeriza, ou quem sabe pela falta de hábito. E olha que lá se encontrava uma professora de filosofia, interessada e receptiva. Noutro texto assinalei que, se não for para balançar o esqueleto, a galera não curte.
Por falar nisso, eu também adoro um rela-rela, um bolero e uma salsa de quando em vez. Comentei com meus pares que, quando ainda muito jovem, nos encontrávamos para produzir arte. Éramos de uma geração interessada em literatura, música e poesia. Certo dia resolvemos, eu e um grupo de rapazes, amigos e vizinhos, compor uma longa peça musical, denominada SUITE SUBURBANA. Nesses meus contatos eletrónicos, estão vários desses companheiros de criatividade. Elói, Iwaldy, Ivan Pedro, Edvaldo Roque (que fez anos ontem), meu irmão morto em 2002 e meu amigo luso-brasileiro Luís Maia, que se foi faz dois anos.
Não competíamos, não arengávamos, apenas buscávamos essa sinergia criativa propiciada pelo belo casamento entre a música e a poesia. Extraído desse luminoso tempo de criatividade e juventude, surgiam versos, notas musicais e companheirismo. Tudo isso sem a espera de uma gratificação extrínseca, mas cingida pelo reconhecimento intrínseco de quem se satisfaz em participar do seu tempo. Quantas páginas foram debatidas, escritas e consolidadas com a harmonia grupal que a criatividade e a imaginação proporcionam. Ao menos, na pior das hipóteses, éramos todos e cada um, cavaleiros quixotescos ou não de algo que justificasse os quilómetros de libações. Atualmente, não vislumbro quase nada de empenho artístico nos grupos que observo de longe ou de perto.
E para não dizer que estou sendo injusto, surge aqui e acolá, uma gente corajosa e inserida culturalmente, a ponto de recriar a originalidade dos que legaram algo de bom, Chico Science, por exemplo. Já propus outro dia apoiar um pequeno grupo de rapazes e moças que se interessaram por esse tipo de arte, mas faltou o combustível essencial: a persistência.
Quem sabe surja alguém ou alguns que possam dedicar um pouquinho do seu viço temporal à necessidade da arte; talvez apareça mais dia menos dia, um punhado de loucos suburbanos que, como eu, justifique sua curta existência em priorizar o belo e o sublime.

WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
13.04.2013





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