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Poesias-->Lago Ano-Luz -- 10/04/2000 - 00:47 (Alberto Nunes Lopes) |
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O lago é feitiço
Quando anoitece
As águas são turvas.
Dorme o navegante...
O lago mira quieto
O espelho é o do rio-mar.
Saltam todos os peixes
Apaga-se a idéia
Ilumina-se um filete clarão
Nas distantes margens
O lago silencia...
Sua rima é a natural.
A lamparina reacende
Fixada na proa.
A sombra
Despediu-se
Incorporou-se
Na outra vez
Balança o nascer do sol, na canoa.
Selvagem
O grito desperta o vento
Um vento leve agita pequenas ondas
A asa abana o remo,
É tempo de pescaria
Momento de contos e imaginação
O rei fiel esquenta.
Outra vez o gelo seco derrete
Faz-se a realidade dentro do ouriço da castanha do Pará.
E o dia, então, flutua
Chora o leite das seringueiras
O que saber sobre o olho d água
A mãe d água é preta, assim...
O caminho é interminável até à beira.
Destino comum do homem e da mulher
Paridos de cócoras dentro d água
Quando menos se espera
O ouriço estala e abre
Cai
Curumins e cucas
Por que não haverá mais nada
Escondido na mata.
Pia a tamba-tajá
Verde curupira olhar vermelho
Vem ao rio beber água
Espanta as aves pintadas
Provoca os arranhões e descola os mosquitos
Pisa no terreiro
Lá voando um socó só...
Deus criador do ano-luz
Trouxestes o projeto de um lago artificial.
Os sobreviventes desse dilúvio
Estão catalogados como patrimônio ecológico
Da selva Amazônica.
Hoje vivem em reservas
E coabitam com os resíduos da usina
Sobrevivem do salário mínimo.
Enquanto isso,
Os camaleões espreitam silenciosos
Por entre as folhas.
Cadê os macacos sagüis na pulação
De galho em galho,
De boca em boca
De todo mundo
Cadê os jornais de oposição,
Aranhas tecendo nos cipoais,
Peixinhos soprando as bolhas
Todo santo dia, todo dia santo
Depois da chuva.
Lago grande, feitiço da mãe-d água,
Fazei com que os índios guerreiros
Fazei com que as onças
Peguem essa gente.
Fazei com que essa gente
Deixe em paz a mãe d água.
Fazei gente dessa gente,
Uma novo mistério selvagem
Pela vida afora.
Dê-lhes um tacaca apimentado
Com bastante folhas de jambu
E guarde bem o ardume,
Para que não se mexa - hepático,
O fígado amazônico
Com todas as resinas
Amargas, latejantes,
Com o suco do mijo dos sapos,
Aponte a saúde capivarol
do almanaque do pensamento
E cresça a barriga d água
Todos barrigudinhos.
Tantas e tantas palavras cruzadas
Some a lembrança da tartaruga no fundo do lago.
E nada mais restando o que fazer
Mergulhai-os no alguidar do açaí
Afogados de Tucuruí.
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