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Artigos-->EDUCAÇAO - COMO SAIR DO VERMELHO -- 20/08/2003 - 04:37 (Welington Almeida Pinto) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Welington Almeida Pinto

......

* Recentes avaliações sobre a alfabetização no Mundo, feitas pela Unesco e a Ocde - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, mostram, mais uma vez, o mau desempenho do ensino no Brasil. Divulgado no último dia 7, na Inglaterra, o levantamento avaliou a capacidade de leitura, as habilidades de matemática e os conhecimentos de ciências de estudantes na faixa dos 15 anos em 41 países.

Alunos com o ensino fundamental concluído, selecionados em escolas públicas e privadas de cada país, foram submetidos pelos organizadores a uma série de provas. Pena. O Brasil não foi bem, ficou em 37º lugar no teste que mediu a capacidade de leitura, à frente apenas de Macedônia, Albânia, Indonésia e Peru. Em Matemática e Ciência, em quadragésimo. O relatório classifica nossos alunos entre os mais burros, uma bordoada na cabeça do cravo e outra na ferradura.

O Programa de Avaliação de Alunos (Pisa), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), também apuraram a triste realidade do ensino brasileiro, registrando que nossos alunos estão classificados entre os piores do Mundo em interpretação de leitura, e lideram o analfabetismo funcional na América Latina.

A última análise do Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais joga mais lenha na fogueira: 41% dos brasileiros não terminam o ensino fundamental e 60% deles não fazem o ensino médio.





QUADRO AMARGO



As lições do estudo mundial sobre a educação no Brasil, coloca o país na lanterna de um ranking que mostra uma enorme deficiência na estrutura da política de ensino, revelando vergonhosa fragilidade numa área criticada por vários setores da sociedade.

No teste de capacidade de leitura da Unesco, nossos estudantes obtiveram péssimo desempenho, merecendo o 37º lugar. Conseguem ler, mas interpretam mal as palavras - o primeiro lugar foi conquistado por alunos da Finlândia. Em matemática, os brasileirinhos apresentaram domínio apenas das quatro operações básicas, o que deu ao Brasil a 40º posição, à frente do Peru, apenas. Em ciências, idem. Além do mais, o aluno brasileiro demonstrou que possui baixo índice de aproveitamento em conhecimentos gerais.

Cadê o Fundep? O processo de aperfeiçoamento da área é também de responsabilidade do Fundo de Desenvolvimento e Valorização do Magistério, criado pela Emenda Constitucional 14 estabelece regras claras e objetivas para o uso dos recursos que a Legislação reserva para a educação, especialmente nos Estados e Municípios, onde um quarto de receita de impostos é destinado à educação. Entre outras medidas, vincula 15% dos recursos apenas ao ensino fundamental, e estabelece sua distribuição de acordo com o número de alunos matriculados em escolas estaduais ou municipais.

Não se pode negar que nos últimos 10 anos, houve um salto de quantidade no sistema educacional brasileiro, garantindo matrículas praticamente para todas as crianças. No ensino médio e superior o número de vagas foi ampliado. O ex-ministro da Educação, Paulo Renato de Souza, organizou um sistema de avaliações que monitora do ensino fundamental ao superior. Para 2004, o Governo Lula prepara uma política avançada para o ensino médio: pretende dar a essa fase da educação pública o caráter obrigatório.



A DANÇA DOS ÍNDICES DO ANALFABETISMO



O Saeb – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica, em 23 abril último, apurou que 33 milhões de brasileiros não sabem ler, escrever e contar, embora formalmente alfabetizados, a maior parte concentrada em regiões metropolitanas e grandes cidades.

Entre os estudantes de 18 a 24 anos, 66,8% não concluem o ensino médio. Independentemente disso, uma criança negra, entre 7 e 14 anos, tem duas vezes menos chances de freqüentar a escola do que uma criança branca. E um adolescente pobre, entre 12 e 17 anos, tem cinco vezes menos chances de freqüentar a escola do que um adolescente de classe média.

Tudo isso constata claramente a crescente impotência dos organismos públicos, como o próprio MEC, na mediação entre as escolas públicas do país espalhadas pelos 5.507 municípios; uma boa parte delas não consegue ter, em média, uma escolaridade de oito anos, conforme garante a legislação brasileira.

Um alerta. A informatização dos meios de produção e os avanços tecnológicos ampliam a cada dia a competitividade no mercado de trabalho, exigindo dos candidatos mais escolaridade e melhor nível de informações para preencher as escassas vagas, exigindo sempre mais qualidade técnica da mão-de-obra, como matéria-prima para o desenvolvimento econômico.



CAÇA AOS CULPADOS



Bem feito! Um país que gasta apenas 30 mil reais por aluno até os 15 anos, além de tudo mal distribuídos, não poderia esperar outra coisa. Entre as 200 mil escolas abertas, há centenas delas que faltam até carteiras escolares. Também, as que funcionam em uma sala acomodando alunos de várias séries do ensino fundamental, assistidos pela única Professora do lugar.

A falta de estrutura física dos prédios escolares, a insegurança que ameaça a tranqüilidade dos alunos, o desestímulo dos Professores pelos baixos salários e condições mínimas para ministrar suas aulas, certamente constituem a base dos problemas para o desempenho satisfatório dos estudantes brasileiros, comprometendo o futuro da Nação. Tudo isso pode ser creditado à falta de estruturação das equipes de trabalho em educação, do baixo orçamento federal para a área educacional e do repasse reduzido de recursos por parte dos Estados aos Municípios.

Nenhum país de indiscutível liderança mundial conseguiu bons resultados no campo da educação sem investimentos pesados e bem distribuídos. Os Estados Unidos garantiram o acesso de todas as crianças à escola há mais de 100 anos e gastam 210 mil reais na educação de cada uma de suas crianças, isto é, soma das despesas públicas efetuadas do dia em que o aluno entra na escola até completar 15 anos. A Coréia do Sul aplica 90 mil reais para cada aluno há trinta anos.





COMO SAIR DO VERMELHO



É preciso, dentro e fora do governo, entender que não basta garantir o ingresso em sala de aula, mas asseverar a permanência dos estudantes nas escolas, identificados com a educação oferecida como atores e participantes do processo educacional, de forma ativa, transpirando alegria e prazer na relação ensino e aprendizagem.

Dentro desse prisma, a política pública de ensino deve fazer os ajustes necessários, enfrentar o desafio de oferecer não apenas um lugar na escola, mas garantir que as crianças do Brasil absorvam bem o que está sendo ensinado em sala de aula. Acelerar a descentralização do sistema de educação pública, afinal, instrumento legal para isso a Constituição já estabeleceu, transferindo a responsabilidade pelo ensino fundamental aos Estados e Municípios.

Estudiosos e especialistas em educação há muito cobram investimento mais efetivo dos governos no setor educacional. Garantem que professores mal remunerados e mal preparados, além das escolas sem equipamentos necessários ou funcionando em prédios de construção precária, os índices de qualidade da educação no Brasil jamais atingirão os níveis reclamados pelos agentes econômicos e pela população, que têm consciência de que reside na absorção de conhecimento a possibilidade de extinção da pobreza e da miséria em nosso país.

Lendo a seção de cartas de um jornal de grande circulação nacional, deparei com uma missiva do ministro Cristovam Buarque, em que ele dizia... Li o artigo Educação, Educação, de Fritz Utzeri, de 13/7. Se tivéssemos mais opiniões como essa, conseguiríamos ter um movimento educacionista no Brasil, nos moldes do movimento abolicionista. Sem isso, não vamos conseguir mudar a educação no Brasil. Como brasileiro e ministro, muito obrigado.

Logo abaixo, outra carta que chama atenção: Um alerta bem formulado o artigo “Ler é mais importante do que estudar”, de Ziraldo (14/7). Os colégios particulares, principalmente os de orientação religiosa da Zona Sul, precisam privilegiar o importante e não encher a cabeça da criança com conteúdos sem validade para o pleno desenvolvimento delas. Como velha professora dos bons tempos em que a escola era prazerosa e eficaz em seus objetivos, encontro-me hoje uma avó sofredora por acompanhar os estudos de meus netos que, diferentemente do aluno da escola pública que tem promoção automática, precisam ter média oito para passar de ano. Voltemos urgentemente à cartilha, à cópia, ao ditado e às redações. Maria Thereza Ribeiro Corrêa de Araújo, Rio.

Não podemos deixar que estas prioridades se restrinjam apenas em números e propósitos, mas que sejam transformadas em ações voltadas para assegurar o direito à educação de todos, como forma de construção de uma sociedade mais justa e democrática.







UM EXEMPLO QUE VEM DE FORA



Portugal, Chile, Espanha, Canadá, Escócia, França, Austrália, Inglaterra, Itália, Escócia, Suécia, Irlanda, Estados Unidos, Alemanha, Finlândia, Alemanha, Noruega, Israel, Dinamarca, Bélgica e Holanda adotam a concepção fônica para o ensino da leitura. O resultado é excelente. Especialistas que adotam o sistema garantem que com um ano de instrução, a grande maioria das crianças é capaz de ler e escrever com segurança, fluência e compreensão, coordenar os indicadores fônicos, gráficos, sintáticos e contextuais, guiando e corrigindo seus erros. Governos desses países passaram a recomendar ostensivamente a adoção da Concepção Fônica do ensino, acreditando que uma criança bem alfabetizada segue bem até o fim de sua vida escolar.

Quem não sabe que não sabe, nunca vai saber o que aprender. Mas quem sabe que não sabe, vai aprender o que é preciso saber. O Ministério da Educação e as Secretarias de Educação dos Estados admitem que a alfabetização brasileira foi reprovada pela Unesco. Mas não aceleram estudos para corrigir as distorções ou mesmo verificar se os Parâmetros Curriculares Nacionais estão sendo corretamente aplicados.

O MEC ainda não descobriu que melhorar a educação é aprimorar o ensino e que isso tem pouco a ver com a eleição de dirigentes escolares, alfabetização de adultos, distribuição de bolsas e discursos que anunciam projetos com a pressa de um esquilo, mas, para executá-los, com a lentidão de uma tartaruga.

Melhorar o nível do ensino é a meta. O que implica mais verbas para pagar salários dignos aos Professores qualificados; não podemos esquecer que deles dependem a formação intelectual e o interesse dos alunos pelo estudo. E também criar bibliotecas e laboratórios, mesmo que financiados por uma loteria cultural.*

Professores estimulados podem construir a mudança que precisamos nos próximos relatórios do PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. No último anunciado, o IDH – Índice de desenvolvimento Humano classificou o Brasil abaixo de Barbados, Malta, Argentina, Cuba, Macedônia, Líbia, São Cristóvão e Nevis, Lituânia, Letônia, Colômbia e outros 55 países; ficamos em 65º lugar, entre as 10 Nações mais injustas da Terra, ao lado da Namíbia, Lesoto, Honduras, Paraguai, Serra Leoa, Botsuana, Nicarágua e República Centro-Africana.

É como se o Brasil estivesse dando passos para trás, onde analfabetos cursam séries avançadas das escolas públicas, diplomados com péssimos resultados nas provas do Saeb, Enem e Inep. E pior, os tristes vexames internacionais na Unesco, Ocde e Pisa.



O DOMÍNIO DA LEITURA



O domínio da leitura e da escrita é considerado hoje, entre as Nações mais desenvolvidas, uma aptidão básica. Através de seus centros de pesquisas concluíram que a habilidade de identificar e de manipular os sons do idioma e os fonemas em particular (consciências fonológica e fonêmica) é a variável isolada que melhor permite prever o sucesso da alfabetização, recomendando a adoção da concepção fônica do ensino.

Para especialistas em educação de boa parte do mundo civilizado, o analfabeto tem que aprender a identificar e a manipular os sons elementares do idioma (fonemas) e as relações entre estes sons e as letras do alfabeto (grafemas), deve entender as palavras escritas como seqüências de letras que representam combinações de sons formando palavras faladas. Consolidar a mecânica e a compreensão do que lê com a leitura supervisionada, trabalhando as habilidades da escrita.

Ler e entender o sentido das palavras é uma habilidade que a criança aprende na sala de aula para o resto da vida, uma competência básica para qualquer tipo de aprendizado e para o exercício pleno da cidadania.

Durante a última Bienal do livro em São Paulo, o Ministro da Educação, Cristóvão Buarque, aproveitou a ocasião para afirmar que pretende ser um fabricante de leitores. E justifica: vinte milhões de brasileiros não reconhecem a própria bandeira do país e essa é a maior prova de elitismo. Ele ainda ressaltou que o número de analfabetos hoje no Brasil é maior do que há 150 anos.

E se a escola é a fonte do aprendizado, a leitura é o fio condutor. Portanto, mais livros de boa literatura em sala de aula se pretendemos fazer do Brasil um país de leitores.



* Loteria Cultural – ler o artigo EDUCAÇÃO PRECÁRIA NO BRASIL, publicada no site www.ensinofundamental.kit.net/educacaoemfoco



** Welington Almeida Pinto é Escritor, Jornalista (08124/JP-MTE). Autor, entre outros livros, de Santos-Dumont, No Coração da Humanidade. * E-mail: welingtonpinto@globo.com * Sites: www.welingtonpinto.kit.net e www.ieditora.com.br



*** Reprodução permitida.









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