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cronicas-->Nehyta Ramos * -- 14/05/2013 - 11:12 (Benedito Pereira da Costa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Nehyta Ramos *


Segundo a tradição japonesa, todos os cidadãos que cumprimentam o Imperador prestam a ele uma homenagem, curvando-se, reverentes, ante a sua pessoa.


Mas o único súdito dispensado de tal honraria é o professor que, pelo contrário, recebe do Imperador tal reverência.


Quando estive no Palácio do Kirinal, no Japão, tive oportunidade de verificar a liturgia que envolve o cerimonial daquele país, e a importància dada à pessoa do Imperador, que se coloca abaixo do merecimento do professor.


E não se diga que os professores de lá são melhores do que os nossos, pois, meus professores do Alegrete até hoje ecoam aos meus ouvidos, sempre que olho o mapa do Brasil e do mundo que hoje conheço.


Pois foi D. NEHYTA RAMOS quem primeiro me falou sobre o Japão e seus mistérios, durante as aulas de geografia na Escola Normal Oswaldo Aranha, do meu Alegrete.


Do Japão, que ficava "do outro lado do mundo...", em cuja direção nossa imaginação decolava celeremente, nas asas douradas da eloquência da Professora idealista.


Essa aparente ficção geográfica "do outro lado do mundo...", foi, sem dúvida, uma constante preocupação de D. NEHYTA, que sempre procurava demonstrar aos seus alunos a possibilidade da existência de um mundo sem fronteiras e sem hemisférios diferentes, onde todos se encontrassem independentes das cercas e muros eletrificados que demarcam as barreiras dos corações humanos.


Com tal visão, ela ministrava, sobretudo, a fórmula hábil de atingir pontos geográficos aparentemente inatingíveis "do outro lado da vida", através da educação.


Por isso mesmo, no elenco de tantos professores admiráveis, a Professora NEHYTA sempre se destacava dos demais, pois, além da beleza física com que era dotada, tinha uma eloquência na voz que facilitava o entendimento da matéria a ser ministrada.


Além disso, D. NEHYTA nunca se limitava a falar apenas da geografia que lecionava, sempre indo além dos limites geográficos do território, para adentrar em terreno que ela mais conhecia, quando tangenciava o sentimento humano.


Lembro-me da descrição de uma viagem que ela fez à Bahia, falando sobre o sincretismo religioso existente naquele estado, onde ainda hoje convivem, pacificamente, a lição dos Evangelhos com a hierarquia dos orixás, e onde se verificam em muitas igrejas católicas as antigas diferenças de lugares para os negros e para as pessoas brancas.


Lembro-me de sua explicação a respeito do ritual de iniciação em terreiros de candomblé, em uma aula de grande sentido cultural, que mais tarde eu próprio comprovaria em passagem pelo estado baiano.


De outra feita, D. NEHYTA descreveu, em detalhes, sua viagem à região da Cordilheira dos Andes, em trajeto rodoviário partindo da Argentina.


Dessa forma, suas aulas não eram descrições monótonas para alunos desinteressados, mas diálogos que despertavam nos alunos um constante desafio e uma grande motivação na busca do conhecimento.


Hoje, quando conheço todos os pontos do território brasileiro, neles incluído as ilhas oceànicas e a base Comandante Ferraz no polo sul, lembro-me com saudades das aulas de geografia da D. NEHYTA, que tanto se empenhava para transportar seus alunos na decolagem rumo às alturas de sua visão tão grande e abençoada.


Muitos deles, como eu, decolaram de uma pista pedregosa da cidade de Alegrete, graças ao idealismo de professores exemplares como D. NEHYTA, nas salas de uma escola pública onde não tinha cotas para ninguém, e o mérito se aferia pelo valor da nota alcançada.


De suas aulas abençoadas retirei a infraestrutura para edificar o passo naqueles mundos que ela nos apontava com tanta sabedoria, e do qual conhecia por sua sólida cultura, negando-se a guardar só para si tão vasto cabedal de conhecimentos.


Naquela época, mais do que respeitados, os professores eram também amados por seus alunos, que os recebiam em pé, quando chegavam nas salas de aula.


Infelizmente, essa meritocracia está mais rara nos tempos presentes, como raros são também os exemplos iguais ao de D. NEHYTA, que vivenciava o problema de seus alunos e com eles compartilhava o ideal sublime de grandeza dentro do mérito próprio.


Quis Deus que ela nos deixasse muito cedo, chamada que foi para junto Dele. Mas sua imagem continua fulgurante, no mesmo brilha que ela ostentava diante de seus alunos na sala de aula da Escola Oswaldo Aranha, como um exemplo inesquecível de mãos estendidas de semeador, que não se assusta com o anonimato, ao semear para os outros a glória da colheita.


D. NEHYTA é o tipo da pessoa que partiu para a imortalidade com o aplauso de seus alunos e a reverência do Imperador...


* Brasília,DF, 25 de março de 2013. Escrita pelo Dr. Jõao Batista Fagundes, advogado, ex-Aluno da Escola Oswaldo Aranha.
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