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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (86) -- 17/05/2013 - 09:07 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (86)

Siamo tutti trasgressori. Atrevo-me a dizer que somos todos transgressores. As várias situações correntes ou passadas comprovam isso. Já ultrapassamos semáforos de forma equivocada e perigosa; mentimos para alguém sem nenhuma necessidade aparente e já vendemos gatos por lebres. Evidente que não em todas as circunstàncias fomos os principais personagens, mas seus cúmplices por algum motivo. E diga-se também que nalgum momento em nossas vidas, tiramos vantagem de alguma eventual situação.
Numa ocasião durante uma tarefa complexa numa empresa onde trabalhava, perguntei ao superior imediato o que deveria argumentar naquela tarefa, se não havia efetuado pesquisa. O superior, apesar de muito amigo e eu seu assessor, respondeu tranquilamente: "Chuta!". Quantas vezes em alguma quadra de sua vida você não teria passado por evento semelhante? Exploro o assunto porque testemunho quase todos os dias, alguém burlando a regra de trànsito, fraudando algum documento para escapar do leão da receita federal ou "chutando" alguma solução não convencional.
Tais ocorrências se dão em qualquer lugar do planeta e através de gente simples ou altamente letrada. Quantas e tantas vezes a testemunha escolhida pelo jurisconsulto, mentiu cinicamente, depois de jurar contrita com a mão sobre a bíblia? Esclareço que a frase italiana que encabeça o texto, foi ouvida certa vez por um cidadão da Justiça italiana, tendo minha pessoa como testemunha. E tudo isso ocorreu na velha Itália, de cuja história a cosa nostra foi, é e será sempre protagonista principal. É a velha história: quem é capaz de atirar a primeira pedra? Pessoalmente não sou eu quem atiraria. Neste município de Camará, onde acontecem todos os dias, as mesmíssimas coisas, pronunciei a frase para um vendedor de discos e filmes piratas que ocupa o mesmo espaço faz anos.
Ele no início reagiu com alguma estranheza, depois compreendeu tudo. Devo confessar que nunca adquiri nenhum artefato de sua coleção. Não porque não seja também infrator, transgressor, mas porque não quero danificar meu sensível equipamento de som. Assim mesmo, como um brasileiro comum, não posso nem tenho o direito de censurar um homem que comercializa produtos piratas, porque precisa alimentar a família. Contradição? Talvez. E estou convicto de todo aquele blábláblá alertando sobre a evasão de divisas, a sonegação de impostos, etc. Paciência, não serei eu o salvador da pátria, embora, desde muito cedo como consumidor, venho exigindo a nota fiscal, série "D", você se lembra dela?
Outro dia, com minha família, resolvemos parar num desses quiosques metidos a besta na região de Aldeia. Preços altos, serviço de bordo péssimo e frequência condescendente. Imagina você, apreciador de cachaça- que já não é mais meu caso- pedir umazinha e, servida em copo elegante, pagar por ela a bagatela supra de R$3,50. Pelas barbas do profeta! É mesmo preço de uísque do professor, não? Pois bem. Mesmo assim, tive que pagar por uma cerveja em lata, o horror numerário de R$4,80, numa garrafinha dessas do tipo pescoção. Por isso, ao final do serviço péssimo e inoperante, exigi do garçom a notinha fiscal. E você acredita que ele tem? Não, não tem. E mais: gritou lá do balcão que não trabalha com esse tipo de nota. Somos todos transgressores, inclusive o dono da feijoada do GUGA, um cara espertalhão que, apesar de minha atitude de cidadania, denunciando-o, juro que não sei o que aconteceu depois pela fiscalização da Fazenda estadual.
Mas todos sabem que este país, prolífico na elaboração de leis ordinárias, não tem como/quem fiscalizar. Não tem pessoal, para ser mais explícito. Nos países que têm alguma vergonha na bandeira, a relação ideal é de um magistrado para vinte e cinco mil pessoas; no Brasil brasileiro, está faltando juiz titular para enfrentar os milhares de processos que se acumulam. Ademais, a maioria do brasileiro é do tipo que brada sem nenhum escrúpulo: não é meu nem teu... E o legislativo continua produzindo mais e mais leis ordinárias, sem prever em nenhum momento, como é que vai gerenciá-las, através de uma fiscalização eficiente. Dado o grande clamor popular e do espalhafato causal da mídia, a lei seca está de vento em popa, ou, sem pipa. Apesar da alta fiança que devem pagar, os alcoolistas automotivos, continuam transgredindo a lei.
No dia em que o Santa Cruz, meu time desde os dez anos de idade, sagrou-se bicampeão de futebol pernambucano, ingeri uns bons uísques com um grande amigo. Fosse eu fazer o teste de alcoolemia, estaria com meu passivo mais magro do que faquir. Apanhei as chaves do carro e entreguei-as para o dono do bar, a quem conheço bem. Essa transgressão não me atrai por razões que a própria existência reconhece. Mas não é isso que presencio no dia-a-dia. Tenho visto duplas de rapazes, jovens e cheios de vida, embarcar numa moto, completamente embriagados, sem capacetes, sem medo e sem futuro promissor.
Não guardo na algibeira, meu kit de soluções para alguns dos mais sérios problemas que compõem o pacote de transgressão nacional. No entanto, sei que leis mais rígidas e severas em sua aplicação, reduziriam sobremodo índices tão altos de mortalidade. Isso sem falar sobre a questão do seguro, da assistência hospitalar e suas variações. Essa cultura transgressional vem de longa data e, pela sua herança de geração a geração, não será jamais extinta. Trata-se dum ancestral que libera ao descendente costumes que se repetem e repetem, provocando um caos intenso na capacidade instalada da república. No mais, para não dizer que não me autocritiquei e/ou me autodenunciei, me lembro de uma frase muito engraçada do Chico Anysio, num dos seus inesquecíveis programas: "Samos todos igual"!
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
02.05.2013
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