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cronicas-->É todo um processo kármico -- 13/05/2001 - 22:32 (José Pedro Antunes) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Uma vez nos Estados Unidos ou na Europa, o estudante brasileiro, no fundo, passa a viver como quem se safou, como quem evitou o pior. Nào é raro vê-lo exclamar platitudes do tipo "viver no primeiro mundo tem lá suas vantagens".

E há bom tempo, todo mundo sabe, vivemos sob a ideologia da "vantagem em tudo", verbalizada, em momento de rara infelicidade, por um incomparável armador da seleção brasileira em seus melhores dias.

Uma vez de volta à pátria, os ex-estudantes bolsistas, agora promovidos a "estudiosos", soem ser fidelíssimos a essa lei, sacrificando o viver em nome de carreiras meteóricas, na base do "navegar é preciso", podendo muito bem descambar rapidamente para o "salve-se quem puder e estamos conversados".

E não há sinais de que a famosa lei possa cair em desuso, possa abandonar, por assim dizer, a cena ideológica.

É todo um processo kármico, diria, em tom hilário, uma amiga chegada a misticismos. Não perde capítulo de "Estrela Guia".

Pensei em "zeitgeist", mas achei que seria um exagero. Vai que o nobre deputado Aldo Rebêlo, acaso dos acasos, tenha acesso a esta minha crónica. E vai que se abespinhe com o uso de mais um vocábulo estrangeiro. (Ou o alemão, por mais filosófico e discreto, está liberado?)

Fiquemos com a palavra "conveniência", que, não há negar, condiz à maravilha com a realidade dos fatos.

Mas eu arrisco, mesmo porque já vão longe os anos da minha experiência européia (com este adendo, só faço antecipar os meus tantos desafetos, todos com diplomas estrangeiros pendurados nas paredes atrás das escrivaninhas): ser periferia também tem lá suas vantagens.

Digo isto em resposta à afirmação de um colega, estudioso da indústria cultural, de que a internet é só mais um, e talvez o mais eficaz de todos os meios de dominação das consciências.

Bombásticas, afirmações como essa costumam deixar classes inteiras de Ciências Sociais de boca (mais) aberta (ainda) e olhos arregalados. Soam quase a arregimentação. Sempre haverá quem já adivinhe, para logo mais, um horizonte de "eias" e "avantes" apaixonados. E, pronto, ei-los todos perfilados. Aquele clima das traduções dos escritos teóricos de Brecht, bem-intencionadamente perpetradas nos anos 60. Onde o dramaturgo dizia: "é preciso transformar a sociedade", o tradutor sapecava: "é preciso fazer a REVOLUÇÃO". E estávamos todos perfilados, prontos para a batalha de nossas vidas.

68: parece que foi antes de antes de ontem...

Mas, de volta ao século XXI, eu repito: Ser periferia também tem lá suas vantagens.

E, se quisermos, nisso talvez resida uma boa saída para a humanidade tão distraída. Talvez esteja aí a grande esperança de escaparmos ao pior, e que tão insistentemente se anuncia: a dominação total das consciências, que a ficção antecipou, e que os acontecimentos em curso (mapeamento do genoma humano, clonagem humana e etc.) só fazem acelerar vertiginosamente.

Mas, pelo número de pessoas com acesso aos bens da informática, e pela qualidade dos bens e serviços de que dispomos até o momento, já dá para calcular o tempo que ainda vai levar esse processo aqui por estas nossas bandas (não, não é nada disso, meu chapa, ninguém pensou em banda larga, nada dessas coisas, vamos com calma). O tempo que vai levar até estarmos, como quer o colega, inteiramente dominados.

Poupemo-nos, por favor, de referências aos bailes funk, seus hits incontornáveis. Elas poderiam complicar, e muito, o bom andamento de qualquer tentativa de reflexão teórico-crítica. Nenhuma dialética sobreviveria ao impacto desse como que embaralhamento, digamos, sonoro-conceitual.

Mas, já que vieram à baila eventos e sons tão primitivos, não me resta senão fazer coro aos adeptos da dialética negativa, sempre sujeita a aplicações tão fervorosas quanto selvagens, e admitir, resignada e autocriticamente: Ser periferia também tem lá suas desvantagens.


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