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A gota dágua e o mar..
Ana Zélia
A gotinha sonhava um dia fazer parte daquela imensidão, daquele mar...
Vivia num lugar longínquo dele.
Como tudo se projeta no maior, no mais belo, ela não desistiria.
Falaram-lhe que o mar era junção das pequenas gotas d’água, dos rios,
riachos e cachoeiras.
As ondas era o marulhar dele, seu bramir agitado.
“Tudo se converge para o mar!” diziam.
Tentaria chegar a ele. Tudo é questão de tempo, de desejo, de fé...
Os pequenos só atingem os píncaros da glória se forem afoitos.
“Os loucos precisam de sorte!”, diz o adágio.
Chegou o grande dia.
Afoita começou a escalada. Era o subir ou cair.
O importante era tentar e foi assim.
Ao defrontar-se com o verde do oceano sentiu-se um nada.
Quis voltar, era difícil o retorno.
Temos caminhadas na vida sem retornos.
Melhor seria enfrentar.
Outras tantas almejamos o impossível e por ideal lutamos até atingi-lo.
Impossível é fazer retornar um minuto do tempo passado.
É se retornar à vida após a morte.
Toda vez que atingimos um ideal surge o medo, o desejo de voltar atrás,
de retornar ao nada.
Mas a gotinha era como as mulheres bruxas.
Enfrentam Deus e o Diabo para terem consigo o homem amado.
Foi ter com o mar e falou:
__ Quis te ver e vim de tão distante.
Eu que temia as tempestades, as tormentas, o mundo. Aqui estou.
Por favor! Faz de mim uma força a mais em ti, ou torne-me sua escrava.
Disse-lhe o mar:
__ Te junta a mim. Será uma força a mais.
Os grandes também precisam dos pequenos para serem fortes.
Juntaram-se. A gotinha sentiu-se grande como o mar.
Naquela hora não se lembrou de que era mais importante.
Devemos viver o momento presente, porque o futuro é de incertezas.
Tudo muda, todos mudam. Mudam...
Chegou a hora do retorno e ela chorou junto a ele.
Deveria partir. Aos pequenos existe apenas o sonho de se tornarem grandes.
A realidade é outra.
O mar era demais a ela. Pertencia a outras águas.
Chorou! Chorou! E retornou.
O mar cansou. Não precisava lutar para tê-la.
Bastava querer e ela estaria com ele.
O Mar é como a vida. Calmo num instante convida a marear...
N’outro repleto de marolas. O importante é não temê-los.
O Mar é belo.
A VIDA com todos os percalços, mais bela ainda.
Rio de Janeiro, 1989
Este poema foi dedicado a um Deus que do Olimpo não volve mais os olhos aos mortais. O sonho acabou. Ana Zélia, parte integrante do livro Mulher! Conquista Fácil!... Poesias e Crônicas, editado pela UFAM, 1996.