MARIPOSAS.
Ana Zélia
Mulheres sozinhas a vagar procurando afeto, abrigo, atenção, amor...
Mulheres da noite, do dia, das esquinas, dos bordéis.
Conforto aos homens solitários, carentes, inocentes, crianças, maus...
Odiada és pelas mulheres que se julgam superiores.
“Mulheres”. São tantas.
É difícil tua vida, lida.
Vendes um produto proibido. Teu corpo.
Tens valor. Podes expor oferecer, vender um produto que tantas almejam
fazê-lo. E temem.
Dona de ninguém. De nada.
_Dona de tudo...
Invejada por algumas que nada possuem.
A solidão é a única companheira.
E que gostariam de por instantes encontrar alguém que o quisesse.
Seu corpo.
Nada fazes. É mulher de “vida fácil”...
Por que te odeiam? Por que te invejam?
A vida é busca tentativa de busca.
É lida, é luta.
Faz tudo isto.
Tua coragem te coloca em confronto com as que se acovardam frente ao mundo.
És livre!...
Nada deves a esta Sociedade que te isola, te cobra, condena, pune...
Os feitores estão soltos prontos a cobrarem sempre.
Quem assumiria teu lugar se fechassem os bordéis?
_As madames? Donas de tudo? Senhoras do nada?...
És livre como os pássaros sem gaiola.
Cruzam ruas, esquinas, cama, lama.
Respeitada és por tua coragem quando confortas os homens “maus”...
És livre!
Vives!
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Publicado Jornal “A Crítica” Manaus, agosto de 1989.
Parte do livro Mulher! Conquista fácil!(Poesias e Crônicas), ed. UFAM/1996
Comentários: Como advogada fui às 2h da madrugada à Delegacia para tentar soltar uma prostituta da Itamaracá, rua famosa em Manaus, ela tinha furado um
cliente por não ter pago e ainda ter batido na mesma. Conversei com o delegado e
ele mandou soltá-la. Acompanhei-a até o prostíbulo para receber meus honorários.
A dona do prostíbulo me apresentou e pediu respeito enquanto ia buscar o dinheiro. Observei aquela vida, aquele sofrimento e escrevi. Me levaram pra casa sob cuidados. Ana Zélia
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