Desde muito jovem aprendi a cultivar a independência pessoal. Tentar pensar com a própria cabeça, questionar ao me sentir desconfortável ou esmiuçar aquilo que me soava esdrúxulo. Com isso quero exatamente dizer que uma das melhores formas de aprender é o questionamento. Acreditei desde sempre que um ser humano há de buscar diuturnamente sua autonomia. E imagino que um pouco de ceticismo não há de fazer mal a ninguém. Não sei como me sentiria num cargo de dirigente máximo, um Presidente de República, por exemplo. Toda aquela mordomia e salamaleque próprios do mandato. Aquele bando de vassalos a cujas mãos se exigem abrir portas e portar maletas. Nada contra esse tipo de gente, de servidor público. Isso tudo terá sido resultante de uma invenção do próprio ser humano: uns mandam e outros obedecem. E alguns observam.
Nesta semana que se finda, presenciei um quadro que, se não me fez trocar de local, ao menos intimamente me envergonharia, caso fosse um desses cidadãos. Na mesa contígua à minha, num bar, pedi uma água mineral e na do lado estavam dois homens jovens, de uns quarenta anos, suponho. Como de hábito, abri algo para ler e ouvi claramente um trecho de sua conversa. Versava sobre conquista e traição conjugal. O de bigode demonstrava orgulho superior por estar sendo sustentado por sua "coroa", termo utilizado várias vezes por el