Pedra Preta é um pequeno município no estado do Mato Grosso do sul. Foi emancipado em 13 de maio de 1976, assemelhando-se ao município de Camaragibe, que se emancipou na mesma data no ano de 1982. As semelhanças geográficas são algumas, excetuando-se a população que lá é em torno de 16 mil habitantes. Mas se considerada apenas a quinta região de Camaragibe, o número é quase o mesmo. O território do município mato-grossense perfaz uma área de pouco mais de 4 mil quilómetros quadrados. A prefeita detém um nome inusitado, talvez sem homónimo, pois alguém chamado Mariledi Philipi não se encontra por aí nem de fato nem de direito.
A altitude (248 metros acima do nível do mar) quase se assemelha à camaragibense, conhecida como região de Aldeia, que se inicia no bairro do Curado no Recife e termina no município de Abreu e Lima, cruzando portanto várias cidades. Nós, entretanto, estamos num planalto de 135 metros de altitude. Quem sabe por alguma razão especial, se resolveu denominar a área serrana com o mesmo nome, levando em conta as características do solo, do clima e da agradável temperatura local, nomeando-a área de preservação ambiental com fragmentos da mata atlàntica e abundantes recursos hídricos.
Historicamente este sítio já abrigou, séculos antes, uma tribo indígena, que levaria o nome de camará. Considere-se, no entanto, que a origem do topónimo reside numa espécie silvestre encontrada na região, formando Camaragibe, ou rio dos cambarás ou camarás.
O município pedrapretense continuaria tão anónimo quanto, antes deste texto, não fora por ter caído na malha da probabilidade, quando a Caixa premiou uma aposta da mega-sena no valor de 43 milhões e uns quebradinhos. E isso ocorreu justo nesse sábado primeiro de junho. Para quem gosta de cálculo inútil, lá vai um: se você dividir esse montante todo pelo número de habitantes do município, obterá algo em torno de dois mil e setecentos reais. Nada muito representativo para uma região onde a renda per capita gira pela casa dos vinte e três mil reais e a densidade demográfica é zero hab./km².
Não se sabe ao certo, mas é muito provável que um pequeno grupo de pessoas haja apostado num bolão gerenciado pela própria Caixa. Mas não se descarta a possibilidade de algum (ou alguma) sortudo ter abiscoitado a polpuda bolada.
O que mais me deixou surpreso é que o PIB local é de mais de trezentos e oitenta milhões de reais. Bem diferente do de Camaragibe que hoje não ultrapassa os oitocentos milhões de reais se considerada sua vocação para o setor terciário, o de serviços, numa população que já está além dos cento e sessenta mil seres humanos. Em contrapartida, seu PIB não ultrapassa os cinco mil e trezentos reais.
O motivo que me fez gerar estas linhas é a semelhança em alguns itens e a dessemelhança nos itens mais relevantes, como por exemplo, a geração de riquezas entre um e outro município. Daí que, estimulado pelo fato da aposta premiada na cidade, outros pontos chamariam a atenção e seria de bom alvitre levar ao conhecimento dos leitores. Aposto dez por um que essa quantia milionária vai ser investida localmente, e não se duvide que se destine ao incremento do rebanho bovino mato-grossense. E também não duvido que tantas garoupas juntas não possam engordar a já polpuda conta corrente bancária de um esperto criador de gado.
Só pra contrariar o velho companheiro Paulinho da Viola, quando diz que "dinheiro na mão é vendaval", ainda creio que, se bem gerenciada, qualquer quantia desse vulto terá sido bastante o suficiente na cobertura das despesas de custeio. Até mesmo do mais perdulário dos mortais.
Doravante, cabe apenas esperar-se que o felizardo pedrapretense cuide em garantir as seguintes etapas: primeira, não extravie o bilhete premiado; segunda, não seja egoísta e ajude a família e os amigos mais próximos e terceira, que a sede não seja maior do que o tamanho do pote, transformando essa brisa leve e confortante num terrível e desastroso vendaval.
