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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (93) -- 14/06/2013 - 09:22 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (93)
"Todo livro é um plágio, excetuando-se
o que ainda não foi lido".
Jorge Luís BORGES

A História do Brasil que aprendemos, dá conta de que três naus confundiram o caminho das índias ocidentais e vieram parar num continente desconhecido. Mas não por acaso. Outra versão talvez não oficial (ou que seja) segundo alguns autores mais persistentes, insiste em que um tal Vicente Pinzón já houvera desembarcado antes nessas terras de pau-brasil. (Lembram-se do Tratado de Tordesilhas?). Os primeiros navegadores falavam o português antigo e o espanhol Pinzón , uma língua castelhana bem anterior a Borges e Vargas Llosa. Independentemente de quem esteja ou não com a verdade factual, parece que todos estão de acordo que, em qualquer circunstància, a história é e será escrita pelos vencedores, de cujo idioma se escreve estas linhas.
Passados mais de quinhentos anos, nós, brasileiros "invasores", assistimos a uma refrega antiga em tese e novinha na prática: a terra é dos índios e eles não querem apito. A população indígena, na ótica do IBGE é hoje calculada em torno de oitocentos mil seres. Se for mais ou menos, o valor estatístico não mudará o quadro real. A Constituição federal de 1988 no artigo 20, estabelece que são bens da união: ..."XI - as terras tradicionalmente ocupadas pelos índios". Não se sabe exatamente o que "Tupã", o deus indígena, pensaria dessa decisão legislativa. E é pouco provável que a maioria das nações aborígines tenha tomado conhecimento desse ditame constitucional.
Noutro espaço da Carta Magna, há uma previsão de que em cinco anos, a partir da promulgação da nossa maior lei, nossos irmãos de pele vermelha, teriam demarcadas suas terras. Pelo que se sabe, nada aconteceu nesse sentido e está aberta agora a temporada de invasões, gerando um conflito complicadíssimo. As tribos mais aculturadas, aquelas que se identificam e falam o idioma brasileiro, conseguem se aproximar do governo e seus prepostos. As mais isoladas e fincadas nos confins da floresta nacional, essas permanecem em stand-by, aguardando algum sinal de fumaça positivo. Terena e Mundurucu são as que conhecem bem a manha republicana e se mantêm à frente das negociações com o governo que, vez por outra, comete algumas gafes, pautado na política das boas intenções.
A exemplo de quase tudo que se nos acontece no território nacional, vamos empurrando com a barriga e no mais das vezes, nos deparamos com o inevitável. Se o governo brasileiro "esqueceu" de cumprir a constituição, no que tange a demarcar terras indígenas, qual a justificativa a ser dada, senão inépcia e desdém republicano? Leve-se em conta também que esse fato já está provocando prejuízos e perdas materiais, nos latifúndios antigos e já estabelecidos. Na televisão se puderam ver pecuaristas choramingando o solo já prejudicado pela ação de invasores. Habituados à lengalenga e ao sempiterno jogo de cintura, membros do segundo escalão se encontram atónitos, porque o colégio eleitoral indígena não conta muito e ainda, porque já se tem uma mancha histórica dos últimos conflitos e sua repercussão internacional.
As reservas indígenas são compostas do meio ambiente e seus biomas, incluindo mananciais, rios, florestas, fauna e flora. E, independentemente de qualquer magna lei, há que se respeitarem esses sítios porque têm para eles, um significado diferente da cultura nacional como um todo. Faz alguns anos, assisti a toda uma série sobre a região do Xingu, que levava o mesmo nome. Ela foi idealizada e realizada por um jornalista brasileiro sensível, mostrando o cotidiano das tribos que ali habitam e todos os detalhes de sua cultura, estranha, mas legítima, porque autóctone. Se a miscigenação é o único retrato possível de um povo, então há que se valorizarem suas origens e idiossincrasias.
Durante um curso de pós-graduação na Universidade Rural de Pernambuco, tive a oportunidade de visitar com um grupo de professores e alunos, a conhecida tribo Fulnió, no vizinho município de Pesqueira. Já aculturados, ali convivem entre si e produzem artesanato ao lado de manterem viva a tradição da pesca, da dança e dos variados costumes. Não será necessário apelar para o arquivo implacável do cinema americano, para tomar conhecimento da dizimação dos índios que por lá habitavam.
E a cultura americana privilegiou muito mais os faroestes de bangue-bangue do que propriamente a sensibilidade dos caras-pálidas mediadores de conflitos.
Os brasileiros Villas Boas, dois irmãos que dedicaram toda sua vida ao conhecimento/desbravamento indígena, de certo modo evitaram um conflito maior. Do ponto-de-vista da antropologia cultural, o saldo é positivo, mesmo se tratando de uma missão espinhosa e mercê de um perigo iminente. No centro-oeste do país se situa um Estado que leva o nome de outro desbravador, Marechal Càndido Rondon, que teria pronunciado uma frase lapidar: "morrer se for preciso, matar, nunca!". Já que se começou mencionando História, por que não advertir o Governo e o Estado sobre sua noção de que fazem parte dela?
Espera-se - por não se poder declarar irresponsavelmente: eles são brancos e índios que se entendam - busquem-se soluções mais humanas, advindas da prudência, do conhecimento e da Justiça; ainda que, no fundo, sem prejuízo de maior explicitação, a terra possa e deva ser de todos, sem a dicotomia de vencidos ou vencedores.
_________________________________________________________
Erratum: no texto 91, em vez de "Casablanca suburbano". leia-se "Casanova suburbano".

WALTER DA SILVA Camaragibe-PE
07.06.2013
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