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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (95) -- 15/06/2013 - 11:14 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (95)

Dentre os poucos itens que aprecio e cultivo em minha vida, dois estão inclusos: viajar de avião e degustar um bom vinho. Do primeiro guardo bons episódios ocorridos no início da experiência. E o medo era a principal barreira. As estatísticas, se é que se deve acreditar nelas, demonstram que o medo de voar atinge a maioria das pessoas. Não fugi à regra, confesso. Lembro-me da primeira vez que voei. O equipamento (é assim que os aeronautas chamam os aviões) era um DC-6, da VASP, que antes de falir agregava o engraçado apelido de viação aérea sem pressa. Era um avião confortável e fui apresentado a ele exatamente em 1963. Já em plena era do jato, o modelo concorria pari-passu com os da Varig, os Electra 2, dos quais fui usuário durante um bom tempo. Esse mantinha a tecnologia dos turboélices, uma forma híbrida de propulsão, um tanto barulhento, bem se diga, mas bastante confortável.
Quanto ao segundo item, a enologia, prometo explorar na segunda parte deste texto, porque ambos têm muito a ver entre si. E voltando ao espaço, devo dizer que jamais estimei as horas de voo consumidas. Mas sei que voei bastante, dentro e fora do Brasil. Nesse ano mencionado, ganhei um festival de música em nível nacional e me mandei pra Sumpaulo, como chamava o supremo maestro Jobim. Foi uma experiência singular, eu, noviço pau-de-arara usufruindo de uma das maiores invenções da cientecnologia. A me acompanhar estava um radialista da extinta TV Jornal do Comércio, hoje absorvida pelo SBT, como todos sabem. Ele se chamava Amarílio Nicéas e era um dos diretores da empresa de rádio e televisão. Pelo pouco que nos falamos durante a viagem, ele se mostrava um bom copo e era um tabagista de primeira linha. Mas, apesar de minha já à época, tagarelice, me mantive em silêncio, refém desse sentimento misterioso que carregamos conosco: o medo.
Mesmo assim, pude aproveitar as boas quatro horas de voo, que, por ser primeira vez, me prenderam quase todo o tempo à cadeira. Não se constituiu em nenhum momento, um clima de pavor, mas me vi muitas vezes em apuros. E a ingestão de água com um ansiolítico fora de boa medida, até o dia em que a VASP, bem antes de se extinguir saindo do ar, viesse por fim me administrar a grande terapia. Em fascículos, a companhia de aviação publicou durante um bom período, textos sobre a origem, o desenvolvimento, a tecnologia e todos os itens de segurança e prazer de voar, disponíveis na época. Foi a sopa no mel. Leitor voraz como sempre fui, estava em minhas mãos, uma, senão a única forma de acabar de vez com o maldito medo de voar. Li todos os fascículos com prazer e acuidade, atentando para os detalhes que proporcionam a uma aeronave as condições de decolagem e aterrissagem.
A terminologia técnica foi mantida e esmiuçada em seus detalhes. Se me lembro bem, ainda outro dia conservava comigo essa propícia coleção informativa sobre a invenção de Santos Dumont. Quando me vi, digamos, sarado da síndrome do pànico de voar, passei a me interessar pela aviação e me apraz ainda hoje assistir na tevê por assinatura, um programa intitulado "mayday" que é a forma codificada de uma tripulação informar que está realmente em perigo. Supondo que esse assunto se correlaciona de algum modo com o prazer de beber vinho, imagine-se você agora sentado numa poltrona confortável de primeira classe, num 747-800 da Boeing, ou, de acordo com sua conta bancária, num Airbus A380 da MacDonnel Douglas. Feche os olhos e sinta-se navegando a 33 mil pés de altitude, ao lado de quem você mais ama ou admira.
Com um simples erguer de braço aproxima-se a comissária (antes era aeromoça) e lhe fornece a carta de vinhos. E você, do alto do seu mais extremo prazer e alegria de estar vivo(a) pululando, visualiza a menção de um espumante, de preferência champanhe, quem sabe Tatinger ou Cristal. E se modestamente lhe servirem um Dom Pérignon? Há feito melhor do que esse? Não vale se preocupar como é que você, mais que de repente, se viu acomodado(a) na classe especial no melhor espaço da aeronave; não vale a pena também estar fazendo as contas se a viagem de 10 ou mais horas, emagrecerá sua conta bancária. Você também tem direito a esse tipo de "sonho" que somente as verdinhas podem proporcionar. Foi por isso que adverti no início dessa quadra, que um item tem muito a ver com outro.
"Ah... e minha dor de cabeça depois?" Jamais formule tal pergunta. Um voo que se preza não lhe vai servir "Quinta do Morgado" ou "Carreteiro". Guarde-os em casa, na estante da cozinha, ou sobre o balcão, apenas para lhes servir de tempero. Num momento como esse, em pleno voo, longe da poluição das cidades, livre do barulho dos bares infestados de novelas da televisão, lépido(a) você degusta com sua iguaria predileta - a que estiver disponível a bordo, claro - um bom cabernet sauvignon, que é uma uva preta de origem francesa, apropriada para escoltar uma boa vitela.
E se você é daqueles(as) que prefere ir a fundo, seguem duas dicas especiais: "Vinho" de Jean-François Gautier, um livro de bolso da coleção L&PMPOCKET, que pode ser lido durante uma pequena viagem de metró ou VINHOS, do médico Mário Santos, que ainda é para mim, um grande conhecedor lato senso da matéria da vinha e do vinho. Na internet há de se encontrar a editora. Mas o ministério da prudência adverte: pratique os dois itens de preferência com a pessoa que você mais gosta. Não há medo ou dor de cabeça que resistam.

WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE 15.06.
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