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Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (94) -- 17/06/2013 - 09:03 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (94)

Sem o propósito de transformar textos em uma série recorrente, obrigo-me a retomar o assunto do artigo 93. Justifica-se apenas pelo fato de abordar o mesmo tema: a questão indígena, mormente por outro àngulo. No canal Discovery, do qual sou assíduo espectador, pude ver um documentário cuja temática abordava a epopeia de um cientista, etnólogo californiano. Sua biografia, composta de episódios marcantes, me fez ver a mim mesmo, quando ainda muito jovem. O primeiro aspecto consiste no gosto pela música. O segundo reporta-se ao fato de, aos 17 anos, já estar quase convicto de que a religião não me traria nenhum benefício. No caso de Daniel Everett, nessa idade ele já aderira ao ateísmo, complementado pelo Rock - guitarrista rebelde - e por ter se tornado um apreciador de marijuana.
Ele casou-se muito cedo, aos dezoito anos, contra uma metodista, o que o fez tornar-se também protestante, por absoluta coerência. Aplicado, decidira por foro próprio, optar pela carreira de missionário, tornando-se assim um membro da igreja. Influenciado pela mulher, filha de protestantes, Dan começou a levar a bíblia a sério, acreditando por sua vez, que lá está escrito que quem não crê num deus, vai direto para o inferno. Sendo assim, da mesma forma que se embriagara com o rock e as drogas, aderira agora, por conversão circunstancial, a outro tipo de lavagem cerebral. Agora missionário, foi destacado para ser treinado nas florestas do México e em seguida escalado para a igreja na Amazónia, junto à pequena tribo dos Pirahãs.
Talentoso no que concerne ao estudo de idiomas, Dan quisera mesmo era transformar-se numa espécie de irmãos Villas Boas, mas o governo brasileiro não permitiu sua entrada na aldeia pirahã. Inteligentemente ele matriculou-se num mestrado na Unicamp, no município de Campinas, São Paulo. Sendo assim, com um handicap acadêmico, Mr. Everett passou a conviver com os indígenas e por lá ficou sete anos, aprendendo os costumes e principalmente o simplificado idioma, já que se tornara etnólogo e linguista. Mas, frustradamente, não conseguira seu primordial objetivo: catequisar os aborígines.

Circunstancialmente também, a doutrina religiosa perdera um catequizador não-jesuíta mas ganhara um etnologista, provocando na comunidade acadêmica internacional (leia-se MIT e Harvard), uma polêmica federal. Claro que recomendo aos leitores que rastreiem em sua tevê por assinatura, essa bela e proverbial contenda científica. Seu maior contendor foi ninguém menos do que o renomado etnólogo e linguista Noam Chomsky, que, no meu parco entender, mostrou-se um tanto "fundamentalista" durante a pontual divergência com Daniel Everett. Afinal de contas, só se conhece dogmas na religião, jamais no seio da Ciência. E é por isso mesmo que faço questão de acreditar na segunda. O assunto tomou vulto quando Dan, mercê de sua incapacidade de transformar seres humanos especiais em gente "civilizada", se viu diante de um cacique que simplesmente lhe respondera: "Eu não o quero aqui". E ele, o cacique, se referia ao deus das religiões.
A reação do pirahã foi tão impactante e definitiva que o próprio cientista viu-se inclinado a abandonar sua fé, para a qual dedicara tempo e esforço emocional, ao invés de espaço e dedicação intelectual. Sim, um simples indígena, sob a singeleza telúrica peculiar, derrubara com mero e terreno argumento toda uma doutrinação "branca" e, consequentemente, alienígena. Mas o principal, o cerne da questão linguística é que Everett descobriu que deveria redefinir o conceito de linguagem dizendo "que ela é a verdadeira ferramenta criada pelos homens com diferenças culturais importantes". O idioma pirahã, estranha mas culturalmente, não conhece aritmética (ordem numérica) e nomes das cores, mas atribuem a cada planta, a uma dada espécie, uma denominação, segundo seu entendimento. Para um pirahã não existe futuro nem passado, mas apenas o aqui e agora. Uma espécie de fenomenologia primitiva. No Massachusets Institute of Technology - MIT, a briga ainda persiste, por motivos óbvios. Afinal, o cacique, ao contrário dos jogadores de futebol, só aponta para o chão, jamais para o que está acima dele, aonde as religiões acreditam que um dia, irão todos os homens brancos que creem.


WALTER DA SILVA
Camaragibe- PE
11.06.2013


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