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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (97) -- 24/06/2013 - 08:42 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (97)

A entrevista no "Roda Viva", do canal público de televisão, nessa segunda-feira 17, pós na berlinda da notícia, os manifestantes Nina Capello e Lucas Monteiro. Ambos de nível universitário, ele professor, se saíram muito bem, ao menos até o penúltimo bloco da apresentação. Presente no plano superior, entrevistando, estava a jovem jornalista golpeada num desses tortuosos embates de rua. Ainda mostrava no olho direito, o roxo da agressão que sofreu ganhando o pão de cada dia. Só que, em vez de pão, o tema era a estabilização e qualidade na oferta dos serviços de transporte nas grandes metrópoles brasileiras. Como se fosse uma reprise em outras dimensões das "Diretas já" ou do "Fora Collor", a grande mobilização de ruas tem em sua principal motivação, reduzir tarifas do transporte público, sob as ordens da iniciativa privada.

Tendo como berçário as redes sociais virtuais, o movimento do "Passe Livre" teve seu início há alguns anos antes, mas só eclode no momento em que promessas de campanhas são cobradas. E não creiam que é apenas a pequena diferença de vinte centavos que está fazendo a população se indignar e, em certos momentos, dilapidar o património e eriçar a polícia urbana. Essa é apenas a ponta do grande iceberg metropolitano, que descongela e despetrifica o bastante para instigar a colisão entre comando e comandados. Não se pode ocultar ou disfarçar a realidade do péssimo serviço prestado pelo transporte coletivo como um todo, incluindo táxis, ónibus coletivos, vans e trens intermunicipais, com algum amaciamento para trens de metrós que, de maior porte, transportam mais passageiros relativamente confortáveis. A malha ferroviária do Brasil hoje, não está servindo nem para "inglês ver", porque sucateada de há muito tempo.

O que sobrou da REFESA teima em sobreviver em pequeníssima quantidade no sul do país, em Paranaguá ou em algumas cidades que tentaram erigir uma espécie de museu do trem, ainda precocemente. No fundo do tacho da indignação está o senso popular que não é bobo o bastante para não ver a perdularidade nos gastos públicos por parte do governo. Outra face desse protesto absolutamente inevitável é que, por sermos a sexta economia do mundo, tenhamos que dar um exemplo de fachada, fingindo que, em sendo país do futebol (!), possamos e devamos arcar com custos altíssimos numa Copa internacional. Não precisa ficar imaginando, basta acompanhar pela tevê, o fiasco - que eles chamam de teste - que está sendo a oferta do serviço de logística, presente na Copa das Confederações, ao menos no exemplo de Pernambuco.

Até me animei para ver Iniesta e sua cambada a vicejar no jogo maravilhoso da seleção espanhola. Mas desisti na hora, não somente pelo preço alto, mas pelo meu espírito também longevo de querer ser bem tratado. (Claro que ver o mestre Charles Aznavour não foi tão barato, mas valeu pelo conforto e a comodidade no acesso a ele).
Todo esse quadro de contradições me faz rememorar o espírito brasileiro classe média: se endivida até o piloro, mas adquire um carro de preço alto e não tem como mantê-lo, muitas vezes se obrigando a devolver. A repercussão que está ensejando o movimento do Passe Livre é, na pior das hipóteses, uma forma lúcida e racional de se botar o pé no chão e a boca no trombone. Evidente que tamanha empreitada não vai enxotar da noite para o dia, a grande máfia dos transportes coletivos no Brasil. Sabe-se que os três parlamentos federal, estadual e municipal, estão sendo capitaneados em seus ardilosos lobbies, por empresários de grandes conglomerados no transporte coletivo.

Nina e Lucas me pareceram bastante lúcidos e conscientes do que estão tentando liderar. E não somente pela sua juventude e o grande balaio de sonhos que carregam. São bem informados e sabem muito bem dos riscos de uma mobilização desse porte. Se toda essa algaravia promove baderna e vandalismo, isso não tem como ser controlado. Afinal, até nos mais altos postos do país, a presidência da República por exemplo, ações perpetradas perifericamente, não constituem, a priori, responsabilidade do grande timoneiro. Ou isso é mera especulação e ingenuidade? Afinal, em todo o movimento popular que se preza, as infiltrações alienígenas estão sempre presentes, se queira ou não. Com a ressalva de que, no mais alto escalão, o dirigente-mor pode dizer ad-hoc que "não vi e não sei de nada". Durante o programa de televisão, que procuro não perder às segundas, não foi informado porque capitais representativas, não tivessem aderido. Refiro-me a Recife. Será que a população pernambucana, recifense, está satisfeita com a tarifa de R$2,85? Ou perdemos o fólego histórico de protestar nas ruas como nossa principal vocação de cidadania e engajamento político?

No Nordeste, Maceió aderiu e supostamente, em menor escala, Aracaju. É muito provável que mais cedo ou mais tarde, venham aderir ao movimento, as cidades que ainda não deram o ar da graça. Os governos acenam com a perspectiva de negociação visando à redução da tarifa, e diz-se até que a diferença será repassada para o empresariado, o que duvido. Ainda é muito cedo para vislumbrar aonde chegarão os objetivos do movimento, mas há indício de que crescerá na medida em que outros agentes e outras categorias se vejam envolvidos. Quem sabe até aqueles que já não pagam transporte público por uma questão de faixa etária, façam uso da ocasião para reivindicarem moções até agora adormecidas. Esperemos, mas não de braços cruzados, para, direta ou indiretamente, fazer valer direitos, já que obrigações são em maior número e não necessitam de mobilização.
Afora a convicção de que não se trata de guerra civil, senão duma forma de conquistar certo tipo de batalhas, prejuízo maior seria não houvesse esse despertar, numa nação que busca e luta por um tipo de democracia que não seja privilégio apenas de uma pequena fatia oligárquica do grande bolo social, como parece ser.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
18.06.2013
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