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Artigos-->Luiz Gama: A Poesia Negra da Abolição -- 24/08/2003 - 11:01 (José Ricardo da Hora Vidal) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Luiz Gonzaga Pinto da Gama ganhou fama como um dos mais intransi-gentes líderes dos movimentos abolicionista e republicano. Advogado das causas de liberdade e jornalista de língua ferina, foi autor de versos que tanto denunciavam as mazelas sociais como cantou a beleza da musa negra.



Luiz Gama nasceu em Salvador em 21 de junho de 1830. Mulato, filho de Luíza Mahin (principal liderança da Revolta dos Malês, em 1835) e de um fidalgo de origem portuguesa que participou da Sabinada em 1837. Mesmo tendo nascido livre, foi vendido aos dez anos e idade pelo próprio pai (para cobrir dívidas e jogos). Foi a última vez que viu sua família.



Durante o período em que foi escravo, aprendeu a ler e a escrever. Em 1848, após fugir de seu senhor, conseguiu as provas d sua liberdade. Alistou-se na Guarda Nacional, chegando a ordenança de Conselheiro Furtado de Mendonça, então chefe de Polícia e professor da Faculdade de Direito de São Paulo. Conforme confessou mais tarde, do conselheiro guardou a gratidão pe-las boas lições de letras e de civismo que recebera. Abandonando a carreira militar, entrou para os serviço público como amanuense (escrevente) da Se-cretaria de Polícia de São Paulo em 1856. Nesta época, tornou-se amigo do poeta e professor José Bonifácio, O Moço. Também se tornou autodidata em Direito e Humanidades.



Em 1859, publicou a primeira edição da seu livro Primeiras Trovas Bur-lescas de Getulino. Posteriormente, dedicou-se exclusivamente à imprensa, donde pode fazer uma carreira brilhante e polêmica na defesa dos ideais repu-blicanos, abolicionistas e liberais. Colaborou nos jornais O Cabrião, Radical Paulistano, Correio Paulistano, A Repúlblica (órgão do Partido Republicano Paulista), O Polichinello (do qual foi proprietário) e A Província de São Pau-lo( atual Estado de São Paulo). Na primeira dição d’O Polichinello, expôs em versos a linha editorial que seria adotado pelo jornal. Daí em diante, o ex-escravo autodidata entrou em definitivo para a seleta República das Letras que regia o Brasil.



Após ser demitido de seu cargo na Secretaria de Polícia, passou a traba-lhar como advogado provisionado, especializando em defender na justiça a li-bertação dos escravos. Em muita casos, sequer cobrava seus honorários.



Membro fundador do Partido Republicano, líder incontesti da esquerda liberal radical (chegando a ser acusado de agitador a serviço da Iª Internacio-nal Socialista), Luiz Gama faleceu em 24 de agosto de 1882. Morreu muito pobre, contudo, sendo um cidadão respeitado legando um nome honrado ao seu filho Caio Graco Pinto da Gama. Segundo jornais da época, seu funeral foi o maior jamais visto na capital bandeirante. Nele acotovelaram-se negros e brancos, abolicionistas e escravocratas, conservadores e republicanos.



Orfeu de Carapinha



Sua produção literária limita-se a um única livro, Primeiras Trovas Burlescas de Getulino, além de poemas esparsos e artigos publicados nos jor-nais.



A primeira edição foi feita em São Paulo e constava com mais dez pomas de José Bonifácio, o Moço. Em 1861, foi publicada no Rio de Janeiro a Se-gunda edição, correcta e augmentada (sic). O livro foi aclamado pela crítica da época.



A ousadia permeia os eu livro, começar pela própria situação de negro-autor, numa época que timidamente o negro entrava como personagem secun-dário na literatura brasileira. Precursor da Negritude Literária, sua produção antecede aos versos brancos de Cruz e Souza, o nosso Cisne Negro do Simbo-lismo mundial, e a prosa engajada e suburbana do mulato Lima Barreto. Tam-bém faz o contraponto com os poemas de Castro Alves. Enquanto este cantava a abolição como condor apaixonado, Luiz Gama açoitava com o riso o pre-conceito racial e a escravidão.



Seu livro se caracteriza principalmente pelas sátiras, que se tronara rara nas nossas letras, durante o século XIX. Em seus versos, retratava a política os costumes brasileiros da época com um humor ferino e inteligente. Na pele de Getulino, cuja lira é legítima descendente do Boca de Inferno Gregório de Matos, vai rindo a pretensa fidalguia branca das nossas elites, do preconceito racial, da política conservadora e monárquica do país – não poupando até a fi-gura veneranda do Imperador D. Pedro II.



Ao mesmo tempo, demostrava o orgulho de ser negro. Em seus versos, deixava claro ser um Orfeu de Carapinha. Também foi o primeiro a cantar nestas plagas a beleza da Musa de Guiné, da cor do azeviche, em pleno con-traste à musa branca européia que dominava (e ainda domina) a nossa poesia. Essa consciência étnica avant a lettre encontra eco na própria trajetória de sua vida, filho de uma negra malê e único intelectual negro a autodidata brasileiro a sofrer as agruras da escravidão.



De seus poemas, o mais lembrado é Quem sou eu, mais conhecido como A Bodarrada. Obra-prima da sátira nacional, o poema desnuda com maestria a hipocrisia da sociedade, a listar quantos “bodes” (apelido depreciativo dados aos negros e mulatos) escondidos em trajes alva ovelha existia (e existe) nas elites brasileiras, além de reafirmar sua simpatia pelas classes marginalizadas.



Livro ímpar, é leitura obrigatória para que quer conhecer um outro lado da nossa literatura e pouco discutida nas escolas.

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