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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (103) -- 11/07/2013 - 08:06 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (103)


Durante um tempo menos turbulento do que este, eu já estava interessado em algum tipo de aeróbica. Era na época em que possuía uma bicicleta de dezoito marchas. Não a utilizava como transporte no dia-a-dia, mas em fins-de-semana e feriados. Além de um lazer agradável, não me lembro de ter me preocupado tanto com o trànsito. Durante as férias, nas praias de Maria Farinha ou Janga, ambas no município do Paulista, zona norte do Estado, usufruí lepidamente deste tipo de esporte. Todos sabem que o ciclismo traz várias vantagens ao corpo humano, incluindo o lado estético da questão. Este consiste na retirada da gordura localizada no abdómen, comumente chamada de barriga de chope. Mas os especialistas já provaram e comprovaram que diuréticos de levedo e cevada, não proporcionam tal adiposidade.

Mesmo ciente do risco que sempre corri, não havia ainda a grande epidemia de veículos de duas rodas. E salvo melhor juízo, as pessoas em seus carros não destilavam tanto ódio aos menos protegidos. Outro detalhe do qual me lembro claramente é que quando adquiri um carro vistoso à época, a primeira atitude que tomei foi colocar o cinto de segurança. Sei lá se aquilo me veio instintivamente ou por achar apenas elegante. E, ao lado dessa aparente boba medida, um carona certa vez me chamou de exagerado, alegando não precisar usar o tal acessório. Se argumentei ou não, difícil afirmar. A consequência disso é que anos depois chegamos ao que chegamos: a obrigatoriedade do uso sob força de lei e da alegação factual de que acidentes podem ser fatais sem seu uso.

Isso tudo faço vir à baila, não porque seja um bom e eficiente chofer, não sou. Já admiti nesses textos que não me agrada dirigir automóvel, por mais penduricalhos que possua a bordo. Embora não esteja equipado financeiramente para contratar um motorista, o que ainda não me passou pela cabeça. Já imaginou se a receita federal descobrisse que contratei um chofer particular? Mas não vislumbro a mínima possibilidade. A rigor, viajo muito de coletivos, principalmente de metró que é confortável e onde posso ler durante uma viagem. Dirigir atualmente para quem necessita e não tem alternativa é um teste de paciência. O estresse resultante da marcha lenta do trànsito é motivo de grande desgaste físico e mental. É provável que a engenharia/medicina de trànsito já esteja prevendo o aumento de doenças oriundas desse hábito que se tornou uma usina de problemas sócio-económico-hospitalares.

As soluções dependem exclusivamente de o Estado reestruturar as cidades para a alternativa do transporte coletivo de massa. Alguns motoristas estariam dispostos a deixar o carro na garagem, houvesse um sistema mais eficaz, rápido e seguro de meios coletivos para atender o grande e inevitável aumento da população humana. Outro aspecto do planejamento das cidades está cingido na tradição de que grandes setores burocráticos ou de serviços devam estar instalados nos centros urbanos.
Os espaços estão desaparecendo e correntemente tudo que se planeja e executa, há que levar em conta a vaga de um automóvel. Ademais é óbvio alguém se deslocar a um shopping para fazer compras e não conduzir seu transporte-bagageiro. Ao redor dessa problemática que planejadores urbanos enfrentam, permanece a violência das áreas urbanas e periféricas aumentando substancialmente vítimas que morrem de modo muitas vezes banal. O pano de fundo desses crimes pontuais e diuturnos é de largo espectro e mexe com aspectos socioeconómicos. A meu ver, há um propósito inconsciente de ostentação, quando uma pessoa adquire seu objeto de desejo. Não sei exatamente se interessa aos ladrões de automóveis, o status do condutor, senão de surrupiar rapidamente o que ele exibe com sabido prazer atrás do vidro escuro.

O esperneio da população contra a ideia de rodízio na capital pernambucana, surtiu algum efeito quando parlamentares adeptos do projeto desistiram dele. Adentrar o centro do Recife com um desses semoventes poluidores é tarefa complicada. Estacionamentos não são suficientes e o preço é motivo de descontentamento. E para ilustrar ainda mais minha tese de que alguns fazem do automóvel objeto de ostentação, tem mais; tenho observado que a maioria talvez inconscientemente, se pudesse, conduziria o veículo até o banheiro. E é incrível como uma boa maioria reveste-se de autoridade e jactància, ao não privilegiar o pedestre nas vias de acesso. Encerrando meu apontamento, devo dizer que ano passado, em outubro, me preparei para voltar a pedalar. No momento da decisão final, covardemente desisti. E não foi outra a motivação diferente do receio que tenho de meus contemporàneos lerem na mídia ou na própria internet: "Idoso atropelado e morto na via pública de Camaragibe conduzindo uma bicicleta importada".

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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
10.07.2013




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