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Artigos-->500 anos de quê -- 13/07/2001 - 10:16 (Alan Carlos Dias) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos






Há 500 anos, o sol nascia virgem no horizonte náutico. O seu brilho, apenas encontrava o obstáculo da gaivota real, vigilante alado do paraíso do atlântico que guardava as verdadeiras terras do jardim do Éden.

Como era bom acordar pela manhã com o canto do Bem-te-vi, que cantava no despontar de cada aurora no grande centro da mãe Oca.

Como era lindo vê o maestro Uirapuru regendo a orquestra natural que deliciava os ouvidos dos nativos com cantilenas tão bem elaboradas.

Um certo dia, quando a aurora despontou na perspectiva do infinito mar, viu-se ao longe um brilho que a priore nos encanou de sonhos. Nunca havíamos visto coisas de tamanha magnitude. Pensamos ser deuses que orgulhosos de nossa organização social, vinham nos mostrar seu contentamento, nos trazendo o favo do Jati.

Quando aqueles objetos longínquos se fizeram próximos e notamos as coloridas e gigantescas velas a mercê do vento norte, não tivemos dúvidas de que eles eram realmente deuses. Quem mais poderia voar sobre as águas, com aquela destreza e velocidade? Quem mais poderia construir canoas tão grandes? Quem mais, além dos deuses, ousaria enfrentar os perigos daquelas águas atlânticas? É , eram grandiosos e coloridos e por isso nos conquistaram, desde os olhos a confiança. Olhamos suas roupas, sentimos o cheiro deles e percebemos que em seus cabelos havia a força do fogo!

Deram-nos presentes e nos encantaram com seus gestos, dialetos estranhos, mas que a nós, leigos e nativos, soavam como vozes celestiais.

Logo após fazerem os primeiros contatos, eles já se sentiam à vontade em nossa terra, como se aqui já residissem há muito mais tempo. Prova disso é que foram logo tomando conta de nossas formosas filhas e mulheres, de nossas riquezas , crendices trabalho e nossos sonhos.

Quando percebemos que algo começara a ficar estranho e inocentes, pedimos a eles que não levassem todo o nosso pau-brasil, pois precisávamos dele para colorir os nossos corpos nos festejos em honra a Tupã. Mas eles, poderosos e altivos, de forma uníssona, falaram que toda aquela riqueza e beleza, a Portugal, agora pertencia.

Tolos de nós. Não eram deuses, eram demônios que sedentos de sangue e almas foram nos matando, como se faz com os insetos à beira da fogueira, cada vez que tentávamos nos livrar deles.

Nossa armas, coitados de nós: machado de pedra lascada, tacape de andiroba, arco e flecha de bambu e um grande espírito guerreiro. Enquanto eles, “civilizados”, carregavam pau de fogo: mosquete, carabinas, canhões e uma cede insaciável pelo sinistro.

Essa desigualdade de poder, tivera uma conseqüência devastadora em nossas civilizações nativas. Pois, a cada português que abatíamos, vinha ao chão, sessenta, setenta e até oitenta de nós, deixavam de existir e se tornavam, sonhos!

Tentamos então, fugir do homem do cabelo de fogo que trazia a morte em seu olhar. Pobre de nós. Os demônios não admitiam uma única alma liberta, pois isso, poderia enfraquecer o seu poder aterrorizador.

Contra eles, não tivemos a menor chance a exemplo de nossos irmãos Incas, Astecas e Maias que existem apenas em nossas lembranças e nos livros de histórias.

Fomos praticamente aniquilados por ousarmos enfrentar “os donos do mundo”.

Escravizaram-nos. Estruparam nossas mulheres e filhas e trouxeram outras tribos de lugares ainda mais distantes que o nosso. A esses “novos” índios que não usavam cocar, que não possuíam a pele avermelhada e não caçavam com arco e flecha, eles chamavam de “negros”. E esses receberam toda a plenitude de sua fúria dominante.

Com a vinda desses negros, a exploração desordenada do litoral brasileiro, acelerou de tal modo, que em questões de meses, já se podia avistar do alto do Monte Pascal, uma clarera tão grande nas matas do Brasil, que fazia chorar o sabiá sem ninho e o Uirapuru que se calara para sempre. Esses tais “descobridores”, iniciaram no Brasil o processo de extinção de várias espécies de nossa flora e fauna. Graças a eles, a maioria da população deste país não conhece o pau-brasil e parte de sua história. Graças a eles. civilizações inteiras tiveram sua trajetória ceifada bruscamente. Graças também a eles, o racismo, a desigualdade social e o apadrinhamento ( já constante na carta de Caminha), chegou e habitou em nosso meio.

Quando a então Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, libertando os escravos, pensamos que realmente teríamos liberdade e justiça social. Pobre de nós mais uma vez que acreditamos ser verdade tamanha aspiração da humanidade.

Hoje, plena virada do século XX, continuamos escravos , mesmo após a assinatura daquele documento tão importante. Só a assinatura no papel, não foi capaz de mudar a mentalidade da burguesia dominante que queria continuar dominando e que domina até os dias de hoje.

Sempre tivemos na história de nossa sociedade poucos com muito e muitos sem nada. Nada da tal dignidade humana.

Basta olhar, muitas vezes para o vizinho que mora a seu lado, para as pessoas que vivem em sua comunidade , em seu Município e em seu Estado que vai perceber o que os quinhentos anos significaram para nós.

A cada dia, os nossos financiadores internacionais, “os verdadeiros donos do Brasil” : O FMI, O BANCO MUNDIAL, O BLOCO DOS CINCO, nos impõe condições para continuarmos existindo, como se eles, além de serem donos do país que já foi nosso, também fossem donos de nossas vidas, se na verdade não o são.

O índio, ontem dono da terra, hoje é expulso até mesmo de nossas favelas e se teima a ficar, é queimado vivo como aconteceu com o Patacho em Brasília. O negro, até hoje tem muito pouco espaço nessa sociedade feita de branco mestiço e com parasitas da classe dominante, que censuram em pleno ano 2000 o índio a mostrar sua indignação perante a opinião pública.

O negro de hoje, não é apenas o ser humano de pele escura e com traços africanos. É todo aquele que como eu e você, sofrem por falta de humanidade, de uma elite burguesa, que a cada dia, nos explora sem nenhuma dor na chamada consciência.

Tenho certeza que a nossa grande Metrópole (Portugal), tem tudo para comemorar neste quinhentos anos, afinal de contar, cresceram com nosso suor, sangue e nossa riquezas e nos deixaram a miséria. O Brasil tem muito para comemorar neste quinhentos anos: a miséria, a prostituição, o desemprego, a falta de moradia, a venda do patrimônio público, a submissão ao países ricos e a incapacidade nossa de sermos honestos. Resta a nós, os brasileiros, nada além de lutar mais quinhentos anos por justiça social.

A cada dia percebemos que o Brasil não é mais nosso e diferente daquela época (descobrimento), morremos hoje sem lar e sem pátria, gritando nos mais distantes rincões deste país por: DIGNIDADE HUMANA, JUSTIÇA E PAZ.





ALCARÍAS.

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