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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (107) -- 26/07/2013 - 08:23 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
















TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (107)

E vem o Papa. Com sua simpatia de cantor de tango. Portando eugenia sobrenatural e inspiração divina. De evemia diferenciada. Representante da divindade na Terra e sucessor de semelhante que ouvira o galo cantar. Mas num anúncio previsível por alguém de convívio comum. Sem querer compará-lo a quem quer que seja, não resisto em admitir que ele, o pontífice, se parece com um ator que protagonizou Perón no filme "Evita". Veja se você se recorda. Com ele desembarcam também na terra do pau-brasil, suas carruagens modernas. Ao lado de uma dúzia de súditos. Esse é um governante hodierno, cibernético, protegido aqui e acolá pelo que há de mais avançado. Além da suposta proteção sobrenatural, sua assessoria não é nada tola de prescindir da tecnologia científico-pagã. Há exemplos anteriores.

Em todas as partes, em todos os becos do Rio de Janeiro, ali estarão os olhos e a multisensorialidade que convém a uma segurança papal. Aí vem meu funcionário, um tanto ceticamente e me pergunta: "Oxente... e ele não é assim com o hóme?" dispara ele esfregando os dedos indicadores. Respondi-lhe no mesmo tom: "Epa! Mas não é assim não. Acontece que o diabo também é onipresente e estraga-prazeres". Blagues à parte, dou um salto em minha memória de vários bytes e visualizo claramente o ano de 1955. O entusiasmo pio de minha mãe e seu desejo, como me confessou, de estar também no Rio de Janeiro. Era um evento semelhante que reuniu os milhões de católicos brasileiros para saudar Pio XII, o político vaticanista que apertou a mão de Hitler, sem fazer caras e bocas.

Esse 36º Congresso Eucarístico Internacional reuniu àquela época, a comunidade católica num tempo em que o protestantismo ainda não se alastrara. Eles, os evangélicos, estavam longe de ameaçar o povo das novenas, das imagens de santos e das missas do galo. Ainda saindo da puberdade, eu começava a meu modo a entender qual o sentido precípuo de toda aquela mobilização. Foi nesse período que ouvi falar do Pe. Hélder Càmara, a quem pude conhecer anos depois. Em nada se poderia compará-lo ao estoico Pio XII, um intelectual poliglota que jamais abriu mão das benesses do mandato. Carrancudo tal qual seu conservadorismo, ele era um italiano que certamente nascera para assumir seu trono indestrutível. Durante a ocupação nazista ele se aproximou de Herr Adolf Hitler, de cujo catolicismo póde capitalizar para que não derramasse sua fúria antissemita sobre os ícones da religiosidade cristã. Sem esse traço de comunhão entre um e outro estadista, não estaríamos hoje a contemplar a suntuosidade do vaticano e seu acervo de arte.

Desta feita, quero crer, a missão papal num país emergente e sincrético como o Brasil, não seria outra senão catequizar pela base da juventude. Talvez não saiba detalhadamente Sua Santidade argentina, das peripécias dos luteranos, calvinistas e zwinglianos, agrupados no neo-pentecostalismo. Sua estratégia capitalista e suas ações voltadas para a prosperidade, parecem surtir mais efeito imediato do que o simples exortar aleatório do catolicismo. Aquele prega um relativo conforto no exórdio da vida mundana, para a glória definitiva e absoluta numa vida eterna; enquanto o catolicismo, mais flexível em referência à conduta humana, não abre mão também de uma imortalidade confortável, desde que cumprida a dogmática liturgia cristã.

Do meu parco conhecimento não vislumbro quase nenhuma condição de o jovem contemporàneo bem informado, levar a sério costumes obscurantistas e que em nada têm a ver com o mundo atual. Ainda acredito que uma vida virtuosa é inspirada no amor e guiada pelo conhecimento. E isso aprendi e me convenci depois que tive acesso aos textos memoráveis de Russell*. Sem muito esforço sou testemunha de que meu único filho tem isso na mais alta conta. Não creio, até prova em contrário, que um ensinamento religioso, ainda que com a melhor das intenções, possa convencer a juventude atual, por mais rebelde que seja, na crença e adoção de princípios que já não se adequam mais a seu tempo. Senão por tradição, medo e auto complacência.
Isso não exclui, porém, que a comunidade agnóstico/ateísta brasileira não dê as boas-vindas ao pontífice; mas na convicção de que seria muito mais solidária e respeitosa se pudesse convencê-lo de que:
"A felicidade não é, absolutamente, menor e menos verdadeira apenas porque deve necessariamente chegar a um fim e tampouco o pensamento e o amor perdem seu valor, por não serem eternos.".*
____________________________________________________________________
*Bertrand RUSSELL (1872/1970) -Filósofo, ensaísta, matemático e pensador galês, no livro "Por que não sou cristão"- 1957


WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
17.07.2013
























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