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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (108) -- 26/07/2013 - 08:27 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (108)
"Homo sum et nihil humanum a me alienum puto"
provérbio latino

"Aprendi que para ter acesso ao povo brasileiro é preciso ingressar pelo portal do seu imenso coração; por isso permitam-me que nesta hora eu possa bater delicadamente a esta porta".

Assim começa o discurso do Papa Francisco na recepção do Governo brasileiro no Palácio Guanabara, Rio de Janeiro. Se algum poeta o haja escrito, melhor. Ninguém pode negar que se trata de uma peça de prosa-poesia, sem que com isso se lhe oculte um conteúdo de gratidão e humildade. Cada Papa é um Papa. Não por assumir esse tipo de cargo, função ou desígnio, mas por ser apenas humano que se dedica, aceita e crê num ofício criado faz séculos. Uma instituição milenar como a ICAR, por mais que se esforce (será?) para se inserir num mundo camaleónico, ainda se encontra longe, muito distante de se adequar a ele. De um aspecto, ela, a igreja católica, não arredará pé: o mundanismo não lhe interessa em toda sua exacerbação fora de limites. A ela cabe e subsiste certa santificação, como se inspirada nos céus não copernicanos.
Noutro àngulo, ela foi alicerçada numa aura de sobre naturalidade incompreensível aos nossos olhos mortais.

Embora me haja debruçado durante um tempo sobre os textos de Vieira, Tomás de Aquino e Agostinho, jamais me passou no plano consciente, aceitar tudo isso. Diuturnamente digo aos meus pares, amigos mais próximos que um cànon não é para ser entendido, mas simplesmente aceito, ou não. E não importa o tempo em que foi concebido. Ele cheira a certa atemporalidade, tal como se estivesse suspenso num fio tênue de sacralidade, impróprio à compreensão do ser humano que não respira, nem se inspira na profundeza do sobrenatural. Acata ou não acata e ponto final. A tudo isso se convencionou chamar de ceticismo, anticlericalismo ou ateísmo. Mas se quiserem a gente pode também denominar escapismo ou skatismo filosófico.

Assistindo à televisão à noite, é-me estranho, estranhíssimo, visualizar todos aqueles confessionários em forma piramidal. Eles servem para que os fieis contritos e à beira do arrependimento, desembuchem ao padre seus pecados. Coisa mais esquisita. Em pleno terceiro milênio, depois de Darwin, Marx e Freud, as pessoas buscam no exterior, tudo aquilo que negligenciam desvendar dentro de si mesmas. Mas, claro, faz parte do jogo. Com a trilogia ego, id e superego, o Sigmund instruiu com argumentação científica, por que e como perscrutar os fantasmas existentes, através da associação de ideias. Não esqueçamos, contudo, que Freud constitui para as religiões, apenas mais um louco, em cuja insanidade se refugiam os demónios criados por ela, a santa madre igreja. Quando adolescente inseguro e sem caminhos bem definidos, ficou muito obscuro pra mim esse tipo de conceito, quase axioma.

Minha alma estava voltada para outros mundos, mais ou menos imagináveis. Ao invés do trio científico citado acima, fazia parte do meu programa hebdomadário, a confissão e a remissão de pecados que nunca entendi carregar comigo. E como resultante disso tudo, eu levava à boca, uma pequena peça redonda e achatada, supondo ser a representação de um corpo ressurgido, num tempo imemorial. Não nego que gostava mesmo era do café da manhã, depois da comunhão. Mas eu duvidava cada vez mais do significado intrínseco/extrínseco de todo aquele ritual. Com o passar do tempo, ainda que por mero e casual solipsismo, fui descobrindo que, se existem pecados dentro das pessoas, isso se devia a circunstàncias específicas.

A adultez ocorre a cada pessoa de formas bastante diversas e é decorrente de como foram instruídas durante a infància e adolescência. Vai daí que vejo com certa repulsa quando alguém denomina um ser humano indefeso de criança católica. Não existe a rigor criança protestante ou islàmica ou judia; existe apenas criança. Li em algum lugar do preceptor B. Russell que uma boa alimentação na infància é mais útil do que o sermão de um adulto ou alguma palmada. Há quem seja contra tudo isso. Conheço jovens mulheres que gritam com as crianças como gritam com seus animais de estimação. Para nada vale essa reação. Ambos, crianças ou cães, não vão entender mesmo o que significa um palavrão de uma mãe que deste modo foi educada. E só para não me perder tanto em minhas divagações, retorno à simplicidade da frase papal. Ela vai direta ou indiretamente, em qualquer contexto, despertar as pessoas para o àngulo mais simples da questão: qualquer que seja a missão de uma pessoa, religiosa ou não, ela estará destinada a cumprir seu frágil e efêmero papel de apenas humana ser.

p.s. - Dominguinhos, o sanfoneiro, está morto. Viva Dominguinhos.

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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
24.07.2013


























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