Saudosismo*
Pela vidraça do quarto, no quinto andar do meu prédio, observo um carteiro que percorre as calçadinhas sinuosas do gramado puxando sua pesada caixa de correspondências. Abençoo-o, como faço com todos os desconhecidos que vejo passar, em especial os que estão indo ou vindo do trabalho, carregando cada qual sua bagagem de preocupações ou alegrias. Tenho especial carinho e admiração por todos os que exercem profissões arriscadas e cansativas, no mais das vezes não valorizadas (que a maioria não quer para si ou para os seus filhos) como a dos garis, dos motoristas e cobradores de ónibus, dos vigias e porteiros de prédios, dos homens dos caminhões de lixo, dos garçons que servem os clientes durante a noite e também das mulheres e homens exaustos que vendem seus corpos nas madrugadas, por falta de outras oportunidades ou por pura luxúria. Por todos eles tenho um especial respeito.
Mas penso muito nos carteiros, que incansáveis, percorrem grandes distàncias trazendo as correspondências que são entregues de porta em porta: incontáveis "folderes" e boletos de cobrança. Nunca as cartas, as antigas cartas que agora jazem, na era da informática.
Ah, as cartas... Tenho tantas saudades das cartas! Eu corria ansiosa para abrir a caixa do correio na ànsia de encontrá-las. Muitas das vezes traziam notícias não tão agradáveis, mas outras tantas, faziam meu coração bater mais forte. Eram doces palavras de carinho, de amor e de saudades... Eram perfumadas, Ã s vezes. Como era gostoso preparar a resposta, de forma a devolver as gentilezas, os gestos de amor, as promessas...
É claro que a internet veio facilitar muito as nossas vidas tão agitadas. Somos uma geração de homens sem tempo. Então os emails agora resolvem tudo. Na maioria das vezes são sucintos: oi, td bm? Vc foi lá? Qd? Ok, bj" Meu Deus, só isso?
Ai, não! Quero minhas cartas de volta! Benditos sejam os carteiros que passam trilhando os caminhos e me trazendo saudades de um tempo tão feliz!...
Recebido, nesta data, por e-mail, de minha amiga Walnízia.
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