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Teses_Monologos-->DO NÃO PARA O SIM -- 11/12/2004 - 16:40 (Cheila Fernanda Rodrigues) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

DO NÃO PARA O SIM*

Cheguei ao Dr. Lowen
Em profunda depressão – morta –
Qual um violino sem cordas – morto –
Sem som, sem reação.
Longo silêncio Lowen fez
E isso me fez mal.
Seus olhos passeavam por mim:
De cima para baixo, de baixo para cima
Num passeio sem fim.
Justificou ser o corpo revelador
Diz mais que qualquer declaração verbal
Não vela nem a dor.

A terapia com o corpo teve início – difícil.
Difícil por conflitos liberar:
Falta de confiança no corpo
Eis o primeiro conflito.
Eu queria controlá-lo
Eu queria domá-lo.
E vinha a pergunta:
Sem minha vontade
Como meu corpo pode funcionar?
O segundo conflito: a sensação de desesperança
Que empurra a vontade para o colapso.
Aí não dá para resistir
O que resta é desistir.

O trabalho com o exercício do banquinho
Foi para me espantar:
Percebi minha respiração curta, curtíssima
Meu corpo rígido, rigidíssimo: uma estátua.
E uma estátua não precisa respirar.
Então como eu – uma estátua –
Poderia me dar a um homem real
Se meu coração aprisionado estava dentro dela?
Eu queria amor – esse era meu ideal
Mas os homens só me admiravam
Miravam a estátua perfeita
E tratavam de fugir
Porque ninguém pode, com toda razão,
Dar a uma estátua
Amor, calor e paixão.
Era preciso quebrá-la
Era preciso derrubá-la ao chão
Para a verdadeira pessoa surgir.

Fascinada, eu podia perceber:
Nosso corpo é um imenso repositório
Com todas as experiências de nosso viver.
Então minhas experiências foram escapando do corpo
Visitando de mansinho a memória
Pelos diversos caminhos:
Interpretação de sonhos
Análise de situações de transferência
Fantasias conscientes.
A vida ia voltando ao meu corpo:
Os olhos passaram a brilhar
A pele a adquirir cor
A voz a ressoar
Meu corpo era um livre motor.

A causa da depressão foi sendo revelada...
Doída, muito doída:
Aos 12 anos a morte de minha mãe.
Doidamente doída
Porque a perda ocorreu
Antes do dia em que minha mãe morreu.
Não estou louca, estou lúcida.
Minha mãe - sentindo-se abandonada
Com a constante ausência de meu pai
Trabalhando longe –
Ausentou-se de mim.
Negava-me seu calor
Negava-me seu carinho
Negava-me o AMOR!
Matou-se em mim.
Voltei-me para meu pai
Emocionalmente inexpressivo
E visita rara em casa.
Mas eu o via como um rei
E a mim como uma princesa
Que pela majestade de seu amor clamava
E pela sua aceitação esmolava.
Eu era educada
Prendada
Devotada
Admirada
Lindinha
Era toda certinha.
Onde fosse, eu o honraria
Mas nenhum sentimento dentro de mim moraria.
Ser estátua – eis a porta
Para na admiração dele entrar.

Cada descoberta doía
Mas sempre um pedaço da estátua caía
E muito mais forte podia me sentir.
Estava mais solta, sem medo ou raiva reprimir.
Algumas vezes, porém, eu recaía
E vinha a depressão.
Numa delas fui a uma festa
E com um pouquinho de bebida fiquei péssima.
Voltei para casa e dormi.
Às 2 da madrugada me vi
Tombada na depressão:
Ah, outra vez vou conviver com isso?
O corpo enrijecia
Faltava-me oxigênio
E a estátua aparecia.
Tomei banho quente, tomei lente quente. Nada.
Que bebedeira é essa que com tão pouco álcool aterrisso?
Eureka! Preciso respirar!
A energia precisa entrar! E eu me recuperava...

No processo fui me descobrindo.
Tinha preconceitos? Sim.
Tinha uma boa dose de fraqueza? Com certeza.
Era egoísta? Sim.
Conseguia chorar agora? E como! Com o corpo todo!
Que bom! Até que enfim tinha sentimentos
E podia trabalhá-los
Cada um ao seu momento.
Sonhos, corpo, voz
Corpo, voz, sonhos
Voz, sonhos, corpo.
Difícil trazer à tona tanta repressão.
Tentava mais uma vez a voz:
Não! NÃO! NÃÃÃO!!!
Nesse grito, o entendimento:
Depressão era uma forma
De meu corpo dizer não: Não, não vou tentar.
Era fruto de um padrão destrutivo:
Mãe inacessível + pai intocável = isolamento e solidão.
Era um modo de aliviar a dor.

Hoje digo sim... sim... sim...
Sim à vida.
Sim ao grande prazer de estar viva em meu corpo
De no campo voltar a morar
De ter fé em mim
De manter os exercícios bioenergéticos
De ser capaz de amar em vez de só do amor precisar.
Sei que o amor é um antídoto para a depressão.
Amor e carinho, com o mundo fazem conexão
E isso é um sinal de pertencer à vida.
Fiz minha escolha:
Nunca abandonar este meu lar – meu corpo.
E uma verdade simples pude entender:
Só sempre sendo totalmente eu
Posso completamente minha existência preencher.

*monólogo inspirado na conduta terapêutica
bioenergética de Alexander Lowen
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