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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (109) -- 02/08/2013 - 07:28 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (109²)
"servo servorum dei"
provérbio latino


De volta ao mundo real, a jovem multidão contrita retorna os pés ao chão e as mãos à massa. Depois de homilias, vigílias, admoestações papais e ingestão de hóstias feitas do trigo redentor, a juventude estará pronta para o enfrentamento do seu dia-a-dia? Os peregrinos se defrontam com o caminho da volta, do retorno a si mesmos. Como em toda festa turístico-religiosa, há de se ter em conta que a dura realidade cotidiana não se parece em nada com o idealismo transcendente. Ela não aparenta ser tão efêmera quanto indulgências, orações, arrependimento ou peregrinação. E vamos e venhamos, não acredito que essa turma inteira, na flor etária, aja como o jogador Kaká. Seu compromisso com a religião foi maior do que com a própria mulher, ao optar por se casar virgem (sic). Fala-se que depois ele abdicou de seus orientadores protestantes, infratores internacionais.

Desconheço princípios, senão os da lei natural, cujo conteúdo seja a proibição do uso do sexo antes da idade da sexualidade. (Se é que exista idade para isso). As religiões, ao julgarem que ser humano é feito de matéria-prima extraterrena, acreditam que um jovem, qualquer que seja sua nacionalidade, tem de se casar casto. Não nos esqueçamos de que, num tempo não tão distante, a masturbação era vista como coisa do diabo. Conheci um cidadão, a quem eu chamava de Frei, possuidor de extrema carolice. A ponto de ser autorizado pelo arcebispado para prestar extrema-unção a agonizante. Ao morrer minha mãe, ele ofereceu-se para administrar esse último sacramento. Ele próprio, quando a bordo de um carro antes de uma curta viagem, rezava o pai-nosso. Não sei por onde anda agora, vai ver aposentado e auxiliando algum pároco na conversão de incautos. E era casado e pai de filhos.

Às vezes dá a impressão de que é necessária a presença de alguém especial, humilde e carismático, para puxar orelhas dos pecadores. E a presença de um líder religioso de alta patente é sugestionável o bastante para mitigar os males da conduta humana. Mas esse tipo de opção é feito gosto: não se discute... mas se lamenta. Há uma falácia recorrente que propugna para sermos lenientes com o plano espiritual. É um ensinamento comumente aceito e bastante curioso. Todos, até o mais insensível do ser racional, acreditam atiçar sua chama imaterial, cada um a seu modo. Eu próprio venho cultivando há muito tempo as coisas do espírito, mormente quando ouço - já disse aqui uma vez - o andante de uma sonata de Mozart. Não existe nada tão confortante e de extremo enlevo, quanto isso. Ao menos para um cético como eu.

Desde algum tempo a ciência tem provado que o espírito, o nous no qual o grego antigo acreditava existir, é segmento inseparável do corpo material e com ele sucumbe na morte. Nada mais natural. Se essa regra biológica provoca mal-estar na gente que crê na imortalidade da alma, aí é outra história. Os kardecistas me veriam como um herege, logo a mim, que algumas vezes tentei aceitar tal conceito, participando mais de uma vez de ritos de incorporação. Não excluo, porém, a mente aberta de ter participado da experiência.
Na volta para casa, o participante da Jornada, agora embebido de bênçãos papais e da missão cumprida, deve ter sentido na pele as trapalhadas governamentais. Horas infindas nas filas de coletivos superlotados e eventos adiados por escassez de planejamento e logística. Ele, o jovem cidadão que se torna contribuinte, encarou cheio de fé o conteúdo dos eventos, mas com decepção a infraestrutura para cumpri-los. Essa repetência de falhas as quais o Estado não está habituado a gerir, contrasta com o cerimonial de intenções e rapapés. Continua pairando no ar a pergunta: o Estado é mesmo laico? Difícil crer. Talvez ele se mostre laico na essência, mas visivelmente lacaio na substància de como deve administrar grandes manifestações culturais.
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Em tempo:

"Em 1980, acompanhei a primeira visita de João Paulo 2º ao Brasil. Por interferência de dom Eugênio Sales, fiz parte da comitiva papal e guardei profissionalmente, como jornalista, as impressões de sua passagem por 13 cidades brasileiras.

O que me ficou não teve nada com a visita em si. Ao voltar para Roma, após um passeio pelo rio Amazonas que o deslumbrou, a um grupo pequeno de jornalistas que o rodeavam em sua cabine no avião da Alitalia o papa em certo momento desabafou: "Depois de tudo o que vi e ouvi, nem sei ao certo o que devo fazer em Roma". Carlos Heitor Cony - FSP 27.07.13

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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
28.07.2013
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