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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (110) -- 02/08/2013 - 07:36 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (110)
"Olha que isso aqui tá muito bom/isso
aqui tá bom demais".
Chico & Dominguinhos

Numa manhã friorenta de julho/agosto, 1987, eu estava esperando o prato de comida num bar da Rua do Hospício, centro do Recife. O nome do restaurante era "REX". Por lá serviam um filé comível a preço módico. Nessa época eu andava enfronhado no negócio sindical e dirigia um sindicato de profissões liberais. Assim que voltei do lavabo, avistei alguém a quem supunha já ter visto antes. Era Dominguinhos.* Estava só e bebia uma água mineral. Como havia sentado numa mesa próxima, resolvi ir cumprimentá-lo com uma simples pergunta: "O que faz por aqui?". Ele foi muito receptivo e possivelmente não tinha ainda uma agenda tão cheia. Se tivesse, não sei. Respondeu que estava à espera de certo maestro, meu amigo, conhecido por maestro Formiga.

Conversamos muito pouco, diga-se. Mas conseguimos travar algumas palavras sobre o panorama musical brasileiro, o frevo, o baião e seus derivados e, como não poderia se nos escapar, a tal arrecadação de direitos autorais. Falei-lhe que gostava de música, escrevera alguma coisa, blábláblá. Mas devo dizer que procurei ouvir mais e nesse advérbio, repousa certamente sua queixa de que viver de música neste país é uma piada de mau-gosto. Exagero ou não é melhor afirmar categoricamente que direito autoral por aqui, significa extorsão, roubo, achincalhe. Se o artista nacional tiver fólego suficiente para efetuar shows, aí a coisa muda. Esse estranho fenómeno também ocorre com literatura, arte plástica, publicidade e outras áreas menos visíveis.
Considerando que para quase toda manifestação cultural é necessário um contrato bilateral de direitos e deveres, sem um advogado lúcido, não se chega a nada. A legislação sobre direito autoral foi aprovada recentemente e vi no noticiário, a reunião de artistas de renome, pressionando o maneiroso Congresso Nacional. Mas estou certo de que há outros itens não contemplados no projeto que não foram levados em conta. O que nos Estados Unidos sobra no cumprimento da lei na liberação de recursos, aqui se abre um profundo abismo. Isso sem se levar em conta a esperteza de certos empresários de artistas, a cobrarem comissões escorchantes. O talento do artista é muitas vezes pago pela metade da metade do seu valor real, já que a maior fatia escoa direto para o bolso de quem não emite sequer um simples chiado.

Alguns grupos musicais já decidiram incumbir a própria família, mulher ou filhos, para gerirem o faturamento e a contabilidade oriunda da produção artística. É que todo o empreendimento é legítimo enquanto surge idealmente, mas no momento de se quantificar e exigir a presença de uma coisa chamada dinheiro, a linguagem é outra. Os meios, nesse caso, nem sempre justificam os fins. Não nos iludamos que a longevidade de um grupo musical, depende diretamente de como gerenciam seus recursos.
O aspecto da criatividade não pode ser tolhido pelo que poderá repercutir no público e no mercado. Esse planejamento é fundamental, pois que nem sempre uma obra tem o impacto esperado. Fama, sucesso e glória não são fatores excludentes, mas resultado de muito suor e longa estrada.

Quando uma empreitada artística alcança o nirvana mercadológico, tanto melhor. Um exemplo que me vem é o tempo de serviço dos Rolling Stones. Eles conseguem conciliar o talento extremo com a venda do produto. E nisso já se vão mais de 40 anos. Bandas que são muitas no país, já acordaram para a necessidade de constituir pessoa jurídica e montar um negócio empresarial expressivo, sob pena de desperdiçar substància. Nossos valores artísticos, a exemplo de Dominguinhos, não são relevados como deveriam. Depois de toda uma vida sustentada no ofício de sanfoneiro virtuoso, a fragilidade física retira-o da ribalta. Num documentário recente onde está retratada sua simplicidade franciscana, Dominguinhos já dava sinais de fadiga, resultado do agravamento de doença que o acometera muitos anos antes. O show dos amigos mais próximos já estava programado para angariar fundos e custear altas despesas com internamento hospitalar. Mas ele não resistiria. O último herdeiro de Gonzagão se despede e se eterniza nos acordes sanfonados de um réquiem-jazz-baião.
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*José Domingos de Morais (12.02.1941/23.07.2013)

WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
30.07.2013














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