Sei que nem as palavras
têm o poder de libertar o poeta
do estado de transe incorpóreo
quando mergulhado no desejo
de criar loucuras e fantasias
que o possa libertar de si mesmo
doravante não o deseja
na irracional emoção do tecer em versos
acorrentadas lembranças
descansando a alma noutra dimensão
sabendo que o inverno passa
e vem outra estação
Confesso que as palavras
migram de poema em poema
revelando cenas infantis
em desejos adultos sutis
colhendo pedras em lavras
aumentando o dilema
de escrever esculpindo
talhando letras antes tortas
modelando e seduzindo
num piscar de olhos abrindo portas
costurando sombras
rasteando rosas
Pudico amor virginal
de assentos e pontos
aguda dor que trema não evidencia
triste melancolia que num ciclo vicioso
repete o gesto de enlaçar gostoso
tontos de prazer mesmo na solidão
angustiante da bela dama
que segue adiante
distante mesmo quando presente
ausente e carente desejos sobre tela
sem saber sabendo montando sem sela