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Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (113) -- 24/08/2013 - 08:08 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (113)

Medo e ignorància são irmãos consanguíneos. O que excede num, falta noutro. Não conheço ninguém que não possua ambos os itens, embora à maioria ocorra bem mais o segundo. Há de se considerar, todavia, que medo pode ser genético e de origem primitiva, em face do desenvolvimento do instinto. Já ignorància, em sentido latente, pode ser minorada e reduzidas suas fronteiras. Por conseguinte, não existe vivalma que não deseje libertar-se dos grilhões do obscurantismo, da bruma do desconhecimento. Tenho observado que muita gente confunde ignorància com estupidez ou grosseria. Isso não exclui, no entanto, aqueles que, portadores de muito estofo e alguma sapiência, não revelem nalgum momento de suas vidas, os dois últimos traços. O que minha mãe chamava de botar as unhas de fora.

Conheci um dado camarada, portador de um diploma de Direito, cujas principais características pessoais eram falar alto e comer como um bicho do mato. E fazia questão de demonstrar ambas as habilidades onde quer que estivesse. Resolveu morrer faz alguns anos, depois de haver libertado muito cabra ruim do xilindró. Sua gula incontrolável e o estresse levaram-no a um infarto fulminante, para tristeza de seus constituintes. Daí se poder inferir que ele, nem tão ignorante, era suficientemente grosseiro no trato pessoal. Quanto a seu grau de temor, não tenho evidências que me informem se era alto ou baixo, embora saiba que, dada sua extrema grosseria, se metia a valente vez em quando. Nossos primeiros contatos ocorreram quando nenhum de nós dois havia ainda concluído a graduação. Eram os tempos de SUDENE e fato curioso é que o infeliz causídico era casado com uma mulher que mal abria a boca de tanta discrição e timidez. Ambos eram funcionários desse órgão federal.

Alguma vez nalgum livro, li que o medo é o arauto da morte.
E não é à toa que o poeta falava: "alguns homens matam a vida por medo da morte". E li também que uma pessoa primitiva e muito ignorante sofre muito menos do que alguém que se tenha arvorado a querer saber além do possível. A par de que somos todos filósofos de algum modo, a vida se nos vai levando na flauta, de modo a esquecermos de seu real sentido. Até alcançarmos a obviedade que o sentido dela é simplesmente saber vivê-la a cada minuto, como se fora o último. Lugar-comum? É sim, mas o que fazer se a maioria concorda com isso? Noutra oportunidade, durante minhas divagações, imaginei se não seria possível inventar-se um medómetro, ou um instrumento que mensurasse o momento que antecede o pico adrenérgico. Os sintomas, todos sabem quais são, mas não o suficiente para detectar em que grau ou intensidade. Seria algo a exemplo do polígrafo, utilizado por algumas agências de inteligência para extrair a verdade de algum suspeito de espionagem.

Não sei qual o benefício científico uma mensuração dessas poderia trazer para o campo da psicologia forense ou para a criminalística, mas sei que não feriria o brio de quem o aplicasse.
Dos mais ridículos medos de que se tem notícia, está o das baratas. Com o perdão daqueles que o têm. Alguns especialistas referem-se a uma mera fobiazinha, ou um micro trauma oriundo de uma infància peculiar. Sem dúvida, a tal cucaracha é digna de todo nosso pejo. Outros, por ignorància precoce, sofrem do medo de dormir no escuro. Tal ojeriza ocorria comigo no início de minha carreira humana. Certo dia, não me lembro exatamente quando, parei com aquele pantim, termo utilizado pela mãe, repetidora dele.

Certos medos são tão entranhados nas pessoas que muitas vezes nascem simplesmente de uma tênue superstição. Ou um mito familiar. Haja vista aquele certamente haurido no colo da mamãe que consistia no hábito de rezar antes de dormir. Sua ancestralidade estava explicada, posto que ela própria o aprendesse desde tenra idade, herança da vovó. Desse, convenhamos, me libertei muito cedo porque vinha sempre antecedido de uma ameaça: se não rezar o bicho-papão vem te buscar. Tenho cá minhas dúvidas se ainda existe algum rastro dessa doutrina um tanto medievalista.
No final, crescemos, aprendemos e nos desenvolvemos sobre a superfície deste barco chamado viver, cuja quilha é feita da mesma matéria-prima que ignoramos por que nos ensinou a ter medo.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
19.08.2013





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