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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (115) -- 27/08/2013 - 08:21 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (115)

Espero que se o assunto for chato, maçante e repetitivo, você incontinenti pressione essa tecla vizinha do "End" e abaixo do "Insert", acompanhado pelo perdão das mal traçadas. Só que há vezes em que não me controlo. Ontem, depois de tentar colocar um "blu-ray" da bela Natalie Portman, esplêndida em "Cisne Negro", adiei a tentativa. Súbito comecei a rir e a me lembrar da coisa suburbana. Não é preconceito, também fui e creio que ainda seja um pouquinho suburbano. Nada de errado nisso. Como num rápido e colorido flashback me reportei ao subúrbio de Campo Grande, já mencionado aqui. Vai que me lembrei também de um camarada, frequentador assíduo da esquina da fofoca, contemporàneo de Universidade. A principal característica dessa família era que, entre muitos irmãos, ocultava uma irmã, um tanto estranha e taciturna. Essa filha única era como que enclausurada a sete chaves, quem sabe para manter preservada sua clássica e natural virgindade, como se fora território exclusivo de privilegiado futuro príncipe.

Honestamente, não me cabe saber se ela teria rompido o hímen ou não, se casado ou não, se fosse feliz ou não. Tal o esconderijo a que os irmãos machistas neandertalenses concordavam manter, com a anuência parental. Ele próprio, esse meu colega de faculdade, hoje certamente Contabilista bem-sucedido, também mantinha hábitos conservadores, atrasados mesmo. Um detalhe curioso era o de passar em frente à minha casa, agarrado estreitamente à noiva, que era uma figura social feminina, portadora de um "pneu" de dezoito quilates na mão direita. Nunca entendi isso muito simpaticamente. Outro detalhe não menos careta e atrasado era que ele mantinha-a do lado contrário, voltada para o leito da Rua do Rio, mostrando-se anticavalheiro.
O nome dessa artéria hoje e durante muito tempo tem sido Gerónimo Vilela, quem sabe em honra de algum vereador obscuro daqueles tempos.

Essa figura, cujos irmãos eram em número de cinco, havia sido militar e contava umas histórias nada edificantes sobre sua passagem pelo glorioso exército brasileiro. Um item inescapável era o fato de ele pronunciar sarrento, em vez de sargento. Ele próprio alcançara essa honrosa patente, embora tivesse um irmão que chegara a oficial, segundo tenente, salvo engano. E, para tornar meu domingo ainda mais propositalmente nostálgico, vem-me outro grupo de imagens desse tempo. Havia um vizinho nosso, chamado Arlindo, cujo principal talento era ter sido um grande "pé-de-valsa", desses que se vestiam de branco e sapatos bicolores bem engraxados. O salão onde se exibia era num clube chamado Madeiras do Rosarinho num bairro lá pras bandas da Avenida Beberibe. Pois muito bem. "Seu" Arlindo, amigo do velho meu pai, todo fim de semana abandonava sua/dele mulher em casa com os dois filhos e ia dançar, balançar o esqueleto.
Infelizmente, contudo, os "pontuais do viver comum" no dizer de Sergio Ricardo, não têm a vida toda como um salão de dança lustroso e eternamente disponível. Certo dia, provavelmente pela vida desregrada que levara, nosso bailarino suburbano sofreu uma espécie de derrame cerebral, isso que a medicina popularmente denomina AVC.

E é aí que entra outra faceta do personagem, que protegia a noiva mais do que a uma botija de moedas de ouro puro. Estacionado no muro da casa, sem conseguir mobilizar os membros inferiores, nosso agora ex-dançarino Arlindo, ouvia diuturnamente a voz do hoje Contabilista dizer na mesma monótona entonação: "Tá melhor "seu" Arlindo?". Lembrai-vos nobre leitor, que ele passava no mínimo três vezes em frente à casa do inválido senhor. Eu, do meu tribunal implacável em achar aquilo muito folclórico, ouvi certa vez do próprio paraplégico vizinho: "Ora merda! Esse cara passa aqui faz tempo e sempre pergunta a mesma coisa. Como se eu fosse sair por aí andando. Eu `tou é quase morto, não é Raulzinho?" Ele me tratava assim, porque o velho se chamava Raul.
Um dia, nalgum daqueles vulgares, mas inesquecíveis momentos do subúrbio, eu soube que o grande bailarino de cabaré havia morrido, talvez para se libertar de vez da uníssona e dispensável pergunta sobre sua frágil saúde física.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
26.08.2013

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