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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (116) -- 29/08/2013 - 12:07 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (116)
"No creo em brujas, pero que las hay, las hay!"
velho provérbio hispànico

Cada um corre o risco conforme o tamanho de sua coragem. Eu, por exemplo, não vou muito longe. Confesso que aprendi a retirar serpentes de cisterna e piscina, mas porque fui devidamente adestrado para. E juro que não me amedronta andar um quilómetro até a casa, altas horas da noite. Quando me vi desmotorizado e sem alternativas de carona, enfrentei a escuridão de uns sábados sem luar. Já dormi de porre esquecendo o portão principal da casa escancarado. Já mergulhei anos atrás no canal de Santa Cruz, na Ilha de Itamaracá, supondo que me tornaria o melhor dos esquiadores. Sendo o mais normal dos homens, com apenas a coragem suficiente para enfrentar meus próprios dragões, certos episódios me desconcertam e até constrangem. Recentemente, no noticiário da Band, assisti a uma cena patético-deprimente: um instrutor de parapente (que não me atrai em nada) rezando uma ave-maria em voz alta e se borrando de medo.

Convenhamos, a alguns pés de altitude e carregando um cliente entre as pernas, surpreendido pela intempérie e sem bússola para orientar, o que se esperaria? Você aí que é pessoa corajosa, destemida e de alto poder decisório, como se sentiria? Bem, vejamos com serenidade: a um professor, qualquer que seja sua disciplina ou ofício, é-lhe facultado responder ao aluno curioso, a pergunta que foi formulada, numa outra ocasião. Isso se ele, o professor, não reunir recursos intelectuais bastantes, para satisfazer o aguçado discípulo ali e então. A um instrutor de parapente ou o que seja, boiando no espaço, espera-se ao menos que, dada sua experiência, ele procure manter a calma e resolver. É fato que ele mencionou a palavra calma, mas não no sentido de que iria ter sucesso na busca de soluções. De fato, ambos foram salvos pela deusa circunstància. De minha parte, jamais ingressei no interior de uma nuvem, cirrus, cumulus, nimbus ou a designação que se queira dar.

Ficar sem avistar a linha do horizonte agarrado numa espécie de paraquedas, levando um macho colado ao corpo, não deve ser lá uma tarefa agradável, mormente em condições anormais. Mas esperava-se ao menos, que o dito cidadão instrutor, por não ter orado no início, não orasse no fim.
Essa atitude no mínimo demonstrou ao cliente-voador, que o preço, por menor que fosse, não justificaria o cagaço, como se diz no popular. Claro que estou comentando dessa forma, porque não rezo em nenhum momento, simplesmente porque não vislumbro evidências de que serei atendido. Ademais, é pouco provável que invocar o sobrenatural, num momento em que é o natural que comanda o espetáculo, constitua um sintoma de segurança, eficácia e capacitação profissional. Esse tipo de esporte radical requer o dobro do ferramental de segurança dos demais. Estar acima do nível do mar, suspenso no espaço, confiante e apoiado num tipo de tecnologia e navegação, até certo ponto primárias, requer algum sangue frio.

No início de sua aventura na Terra, os primeiros seres humanos, primitivos e assustados com o meio ambiente hostil à sua volta, acreditavam que voar é com os pássaros. A experiência de ícaro, contudo, contrariou essa assertiva. Depois desse tempo mitológico, o ser humano é capaz de voar com o rabo quente, isto é, movido a turbo, como se viu outro dia. O impressionante é que o piloto solitário estava a mais de quinhentos quilómetros por hora. Vai ter coragem assim, lá na toca dos leões. E por falar nisso, o imaginário bíblico está eivado de passagens improváveis de acontecer. Como inspiração de fé religiosa, sabe-se que vale tudo para aqueles que a possuem. Essa é uma questão individual e intransferível.

Durante esta prosa, cruzam os céus centenas de milhares de aeronaves, de todos os modelos e tamanho e a altitudes pertinentes. No comando delas, encontram-se pessoas comuns, embora diferenciadas por assumirem esse tipo de posto, especialíssimo. Assíduo espectador de programas de aviação, como já citei noutro texto, estou ciente do perigo que se corre a mais de trinta mil pés de altitude. É como estar mercê de variáveis incontroláveis. E para se tornar um piloto, exige-se muito mais do que treinamento, mas atitude mental para poder tomar decisões em situações imprevistas. Equilíbrio emocional também faz parte do cardápio de um programa de pilotagem.
E já que os elementos da natureza são muito mais complexos e imprevisíveis do que os medos que ameaçam a aventura humana, é bem possível que o instrutor do parapente tenha optado pelo recurso mais fácil, porque menos técnico e indolor.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
29.08.2013
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