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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (117) -- 04/09/2013 - 17:11 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (117)

Num recente encontro com um companheiro de longas datas, ele me falava que se aposentara da vida acadêmica e agora só iria rosetar. E ele deve ter lá suas razões. Quando se passa dos sessenta e começam a surgir os primeiros sintomas de etarite*, nada melhor do que uma bem-vinda aposentadoria. Utilizo esse termo, mas lhe tenho a maior ojeriza. Ele me passa a impressão de que depois do dever cumprido por anos de contribuição ou tempo de serviço ou por limite de idade, o indivíduo vai mofar nos aposentos. Vestido de pijama listrado. É uma palavra infeliz, do meu ponto-de-vista. Convenhamos que se aceite a denominação do jeito que ela é. Quem começou muito cedo, antes dos dezoito, aproveita o apoio legal e se desvincula de quaisquer atividades. Isso não significa dizer que se vá desativar a produção intelectual. É sempre interessante poder exercer outra atividade, correlata ou não. Esse exercício depende fundamentalmente da profissão ou ofício.

O advogado passa a advogar autonomamente, o administrador vai praticar consultoria, o engenheiro vai fazer o que não póde fazer durante seu tempo de servidor público ou privado e assim vai. Em alguns casos, pode-se até tentar um hobby ou outro talento de escritor, poeta, cantor-compositor, inventor e outras facetas.
O que mais incomoda e é sobremodo injusto é o desgaste salarial que se submete o inativo por conta de um cálculo atuarial ilusório e demandante de urgente reforma. A previdência social, como todos sabem, sobrevive num buraco deficitário de quarenta bilhões de reais. Não sou nem me arvoro em especialista do assunto, mas reconheço que já não se justifica prescindir de uma reforma previdenciária profunda, aliás bastante atrasada. Nossos filhos, hoje com aproximadamente a metade de nossas idades, não vislumbrariam condições de se inativarem dentro do raciocínio matemático aplicado às nossas aposentadorias. Por isso que já se tornou praxe se verem homens e mulheres recém-aposentados, voltar à ativa, porque o provento é bem menor do que o mês fiscal.

Não é justo também que uma pessoa madura e em pleno uso de sua criatividade/maturidade se aposente, qualquer que seja sua atividade profissional. Mas talvez não seja a velhice o principal impedimento à continuação de uma vivência profissional. Muitos, aos setenta ou oitenta, ainda estão íntegros no que tange à criatividade e ao trabalho mental, ainda que se depaupere fisicamente. O que pesa, entretanto, é a mísera remuneração que provê a inatividade. Antes de se priorizar a reforma da previdência em seu sentido lato, seria necessário se debater sobre qual o tipo/tamanho de Estado se deveria construir e manter em funcionamento. Algumas profissões gozam de privilégios que outras sequer sonhariam pleitear. O serviço público ainda é o melhor patrão, como se fosse um pai abastado a proteger a prole com um presente e um futuro confortáveis. Dentro dessas atividades profissionais estão aquelas que se destinam à advocacia, à auditoria e à diplomacia. A primeira se explica por si mesma, haja vista ser o Estado protecionista, patrimonialista e assistencialista. Afinal de contas, se ele, o Estado é um paizão, tem que preservar as atividades públicas e fiscalizar/regular as privadas. Essa contradição é explicável tendo em vista a ambiguidade quando se traveste de estatal e capitalista privado, ainda que, ilusoriamente, ele se imagine socialista. Não seria substancialmente tecnocrático?

Se considerarmos que o todo é maior que a soma de suas partes, há que se visualizar o aparelho estatal como um grande arranjo republicano, onde se harmonizam tributação, educação, saúde, habitação, segurança e, necessariamente previdência social. Mas essa orquestração onde todos os instrumentos se afinam e produzem um majestoso concerto, só se dará se a reforma holística ocorrer antes do início da próxima década. As previsões pontuais não são das melhores. Principalmente agora que as questões socioambientais são flagrantes e primeiro item da grande pauta internacional. Desde sempre ouso dizer que o Meio ambiente somos todos nós, uma vez que protagonizamos jusante e montante desse grande reservatório social. Esse quadro não configura apenas um diagnóstico brasileiro, mas internacional. Se o assunto é aposentadoria, as cores que se o compõem formam uma grande paleta no mundo terceiro-mundista e em muitos países da Europa.

A se crer nas estatísticas, no meio desse século a população de idosos se duplicará e essa duplicação implicará necessariamente ofertas e demandas especiais. Uma vida menos desconfortável e mais digna de se viver, dependerá de como o Estado respeitar aqueles que o ajudaram a construir as riquezas do país e a estabilidade nacional. Meu ceticismo que é de minha inteira responsabilidade, não vislumbra algo tão melhor do que o presente. Claro que não esperaria nunca, especialmente por razões culturais, que fossemos uma Shangri-La ao modo da Nova Zelàndia ou dos países escandinavos. A única luz que espero ver no fim do túnel é aquela que consiga iluminar de forma modesta, mas dignificante, o apogeu de uma existência pela qual optei usufruir como uma razoável maneira de rosetar.
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*termo que inventei significando uma espécie de inflamação pela idade.


WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
04.09.2013













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