Usina de Letras
Usina de Letras
142 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62178 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22532)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50582)

Humor (20028)

Infantil (5425)

Infanto Juvenil (4757)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (119) -- 10/09/2013 - 09:02 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (119)
"A mente é teu próprio lar"
John Milton

A cena que mais me provoca constrangimento e compaixão é ver seres humanos morando embaixo de um viaduto. Afora as causas conhecidas descritas em qualquer teoria sociológica, resta-me uma questão recorrente: esse quadro é devido a algum carma? Quando a curiosidade me levou a ler Alan Kardec e consoante meus vários contatos com Casas espíritas, ficou claro que situações dessa natureza são tributadas a boas ou más ações em vidas passadas. Não polemizaria essa estrutura de pensamento porque não me aprofundei em nenhuma de suas obras e devo dizer que em algum tempo o espiritismo (ou espiritualismo) me foi de certo modo plausível. O que me estranha no que toca às vicissitudes humanas à luz dessa doutrina é o fato de terem de acontecer na existência seguinte. O que quer significar tudo isso?
E mais esquisito se torna quando não encontro nenhuma menção nos textos de escritores céticos. O que leva os defensores do ateísmo científico a não mencionarem em nenhum momento, data vênia, a conceituação espírita? Seria pelo fato de não verem nela nada que seja importante relevar? Provocaria num pensador cético a mesma sensação de pesar e desconforto que me atinge quando presencio a cena do primeiro parágrafo? Esse leque de questões me assaltou mesmo depois de ter lido Freud, em duas ou três obras significativas. Ele, por ser ateísta, trata esses assuntos dentro do que convencionou denominar aspectos de neuroses obsessivo-compulsivas. Do meu ponto-de-vista, estranho também que o espiritismo esteja inserto no campo do cristianismo e não do budismo. O budismo tibetano acredita na reencarnação.
O que o espírita denomina reencarnação, os judeus chamavam ressurreição, embora os saduceus não cressem nessa possibilidade. Na parábola do senador Nicodemos está descrito que em seu encontro com Jesus, ouvira a resposta de que "ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo". A cultura egípcia também cria numa nova vida, embora os faraós não deixassem claro que seus súditos e o povaréu que dormia ao relento, tivessem a mesma sorte. A vantagem "política" do espiritismo - e isso goza de minha apreciação - é que em sua doutrina não há hierarquização, a exemplo da estrutura organizacional da igreja católica, onde há uma piràmide de poder capitaneada pelo papa. Ao sopé da piràmide estão os fiéis que respondem às orientações do pontífice, se é que nele creiam.
Quando mais jovem e ainda bisonho e ignorante dessas informações, também me intrigava avistar andrajosos e párias, a pedir esmolas pelas ruas. Vezes inumeráveis acompanhava a mãe à Rua do Imperador, na Igreja de Santo António, a distribuir pães aos mendigos que ali se postavam em frente ao templo. Nessa época eu ainda sequer sabia o que era um prefeito, um governador, um presidente de República. Mas achava muito estranho que uma instituição tão abastada, preferisse dar o peixe ao invés de ensinar a pescá-lo. E ouvi muitas vezes o padre da ocasião argumentar que todos deviam conviver e resignar-se com seu destino. Nobre mas inútil consolo.
E ressalte-se que o próprio espiritismo acredita que os desvalidos e excluídos merecem uma atenção especial, pelo carma que trazem consigo. Quanto ao primeiro item, é ponto pacífico que concorde ser a solidariedade a mais soberana forma de convivência humana. Há nesse esforço e dedicação dos seres entre si, um sinal inequívoco de que somos todos um, quanticamente falando. Independentemente de seitas e religiões, viver sob uma ponte ou viaduto é uma forma desumana de sobrevivência. Um contraste daninho e insuportável se comparado à vida nababesca que gozam alguns privilegiados.
Mundo, mundo, vasto mundo... o poeta sinaliza que uma rima supera sutilmente a busca de uma solução. Por fim, viva e conviva eu com minhas inquietações, não vejo como não repetir as palavras de Job: "Nesta guerra em que me encontro todos os dias de minha vida, espero que se dê a minha mutação". Não é necessário saber onde se encaixe tal frase, importante terá sido absorvê-la no que expressa de atualidade e humanismo.
_____________________________________________________________________
WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
10.09.2013
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui