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Artigos-->ADOÇÃO NO BRASIL -- 14/07/2001 - 01:24 (Vera Regina Arco e Flexa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos




Não faz parte da cultura do brasileiro requerer a adoção por vias legais, e isso é um fato notório e incontestável. A adoção “à brasileira” sempre foi e continua sendo a mais corrente forma de adoção. Será que isso acontece porque o povo brasileiro gosta de fazer as coisas de forma ilegal? Será que se espelham na corrupção daqueles que nos representam? Difícil essa resposta... mas prefiro acreditar que não. Acontece, porque neste país existem leis que devem ser respeitadas ( as que favorecem os governos) e as que são letra morta (aquelas que possam a vir beneficiar o povo, em geral). Para provar o que digo recorro a uma história que aconteceu, recentemente, com uma senhora que sempre sonhou ter uma filha, uma menina. Como foi abençoada pelo Criador com três filhos homens acreditava, essa senhora, que isso havia ocorrido porque Ele sabia que , quando pudesse, ela iria buscar essa filha em meio a tantas alminhas abandonadas, órfãs ou retirada de seus pais biológicos por maus tratos. Amenizada a instabilidade financeira do Brasil, onde ter dois empregos era uma necessidade para garantir alimentação, moradia e boa escola para seus filhos biológicos, agora entendia ser a hora de partir em realização a seu sonho. Filhos criados, formados em boas Faculdades, situação financeira e psicológica estável, tempo disponível, família harmoniosa e muito amor ainda por dar... A adoção foi aclamada pela família, ou seja, seria uma maternidade planejada e responsável

Por onde começar? Primeiro consultou o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA para saber das possibilidades e das exigências. Em tudo se encaixava. O próximo passo? Procurar a Vara da Infância e Juventude, passar pela triagem e receber a lista de documentos de apresentação obrigatória.: atestado negativo de antecedentes, certidão negativa dos cartórios criminais, RG. CFP, comprovação de renda, atestado de sanidade física e mental e apresentação de propriedade de imóvel... Tudo entregue, cumprimentos da Assistente Social da Triagem pela presteza e a ótima notícia: na lista de adoção o casal estava em sétimo lugar e o seu bebê logo chagaria.

A partir desse momento o casal sentiu-se grávido! Diante de tanta garantia, iniciaram os preparativos: enxoval, berço, carrinho para os passeios, banheirinha, mamadeiras enfim, tudo... nos mínimos detalhes. Os amigos, à cada visita curtiam essa “gravidez” presenteando o casal com bichinhos de pelúcia, roupinhas, etc. Os irmãos queriam escolher o nome o que só foi possível por sorteio: NAIARA. A vovó, nos seus 79 anos, fez um acróstico para a netinha. O pai, orgulhoso, vai à joalheria e compra brinquinhos para sua filhota.

Um.. dois... seis........ onze meses depois, indo o casal semanalmente ao fórum, pela primeira vez puderam ver o processo. Foi nesse instante que o mundo desabou em suas cabeças. A indignação foi tanta que aproveitaram o despacho da Juiza - que pedia a confirmação da idade da criança a ser adotada - para contestar ponto por ponto as verdadeiras barbaridades constantes do estudo que pretendia ser psicosocial. Solicitaram a reconsideração do encaminhamento da Promotora e certamente compraram “uma briga feia”. Solicitaram audiência com a Juiza que, marcou dia e hora mas, não os recebeu. Já a Promotora nem resposta deu... Por fim... a sentença! Em resumo dizia: embora nada houvesse que desabonasse o casal, eles eram “velhos” para adotar mas que, certamente, seriam ótimos avós. Assim, aos 59 anos uma mulher – além de ver ruir seu sonho - foi considerada imprestável, descartável. Sua história de vida, de luta pela sobrevivência, foi decidida por alguém que nunca a viu e com quem nunca falou...

Advogados aconselharam que entrassem com recurso no Tribunal de Justiça... Alguns dias para pensar e entenderam que não iriam recorrer. Afinal o casal não desejava sentir-se como parte de uma contenda. Eram parte de algo maior: de sentimentos, de amor, de proteção, de carinho, de aconchego... Um Tribunal não é, e não deve ser, o foro competente para julgar sentimentos.

Ai, voltamos ao início: como exigir ética e correção por parte dos brasileiros? Como esse casal pode conviver com a realidade que lhes foi imposta quando qualquer pessoa, de qualquer país, através da Internet acessa o site www.adoption.com e lá encontra, por alguns milhares de dólares, pessoas que conseguem intermediar a adoção até de crianças brasileiras? Como conviver com a realidade de uma adoção que é festejada pelo “Fantástico” da Rede Globo, na qual um casal de americanos, por já terem criado seus filhos biológicos, tinha duas opções: ou trocar de casa porque estava grande demais ou “povoa-la” novamente? Em momento algum ouviu-se falar em sentimentos.... Todavia, a mídia transformou tudo isso em fato jornalístico... e mais, com direito a um puxão de orelhas, nos brasileiros, por parte do Juiz Corregedor da Infância e Juventude do Rio de Janeiro que afirmou ... “os brasileiros não têm a cultura da adoção”!?!

Assim, diante da cegueira dos legisladores - que insistem em dizer que o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) é estatuto de primeiro mundo - e da inobservância na aplicação da Lei específica pelo Judiciário, o que deve estar pensando esse casal após ter assistido ao programa Globo Repórter levado ao ar hoje (13.7.2001) ? Eu, no lugar deles, estaria usando nariz de bolinha neste circo que é a nossa Pátria Amada. Será que valeu a pena ter percorrido a trilha considerada correta ou melhor teria sido dispender de “uma boa quantia em dólares” e comprar uma criança? Será que, no Brasil, ainda há lugar para a honestidade e o respeito às leis? Até quando vamos ter que conviver com reportagens que nos dão conta de que membros do próprio Judiciário brasileiro, da Igreja e advogados enriquecem vendendo crianças? Para que, então, se necessita de lei? Só consigo pensar em uma resposta: para poder burlá-la... Melhor seria revogar o ECA e restabelecer a “Roda dos Desvalidos” das Santas Casas de Misericórdia onde realmente a adoção era coisa séria!



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