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Contos-->Morrer Droga Nenhuma! -- 27/09/2001 - 13:17 (Wir Caetano) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Autor: Wir Caetano


O Santo Padre vai morrer. O presidente brasileiro. A bailarina e o pas-de-deux vão morrer. A gostosona do 7º andar. A simpática. A feiosa. O bonitão, o banguela, vão morrer. Mãos dadas no elevador. Vão morrer. O vovô. A vovó. As lesmas, geladas, vão morrer. As grávidas. O exército norte-americano.

Tu vai morrê, mané, diz o garoto de touca e sem camisa.

É de morrer, diz o filete de baba diante da stripper.

Viver morto, morrer a cada dia, insiste o pregador, citando, de memória, o lusitano Vieira.

Os vivos vão morrer.
Os mortos-vivos.
O suicida?

Morrer, morrer.

As crianças riem do barulhinho. As crianças riem. Os pais odeiam elas rindo, tapam a cara, diarréias de constrangimento. As crianças riem do barulhinho do anjinho caindo, ploft!, o caixãozinho quebrando. Ploft! Carpideirinhas rindo baixinho, tapando a boca, o riso vazando entre os dedos.

A madre superiora está casada comigo. Estou deitado no chão, a faca no coração, cinco minutos para o holocausto. Ela dá um pulo para não tropeçar no morto. Estou morrendo, baby, morrendo. Rodelas de cebola nos dedos dela abafam a litania do farrapo no carpete. Estou...

A amigona mudou o telefone. A amigona. Deve ter pernas grandes e muitas células sobrando na arquitetura do corpo. Deve ter considerado a palavra: amigona. Não sei, não me lembro. Ela sempre assim, sorrindo, sorrindo, uma cacatua à toa no zôo escancarado.
Mudou o telefone.
- Alô, mana!
- Sei não, cara, deve ser engano.

O amigão mudou o telefone.

O tempo todo as batatinhas estalam na boca de meus amigos. Risadas altofalantes na rua Rio Novo. Só eu estou no Dia da Paixão, quadros cobertos de roxo emoldurados no peito. Batatinhas estalando, olhares distraídos na rua Rio Novo. Baseado. O Dia da Paixão, os quadros.

Sessentão, o brilho no cocoruto. A morte passa, escorrega, sapatos finos na pedra-sabão. Não vejo. Meus olhos estão lá longe, na Resistência Francesa. Beleza. Buracos de sexo. Vinho seco. De repente, domingo. Putas migrantes babando na minha língua. Bom: a vida. C est la vie, potrancas e pombinhos!

As baratinhas também, mamãe?
As vidas, todas.
Pluralia tantum.
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