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cronicas-->Hologramas -- 20/05/2001 - 02:12 (Luís Maximiliano Leal Telesca Mota) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos



Enquanto isso na enfermaria, todos os doentes estão cantando sucessos populares.

Renato Russo in Mais do Mesmo


Desde que vim para Brasília, em abril de 1997, fiquei privado da companhia dos amigos mais próximos. A situação é um prisma pelo qual a luz das circunstàncias se separa, existindo, por óbvio, cores vivas e alegres, assim como matizes sombrias. As gestas da adolescência provocam, com efeito, nostalgia e, não obstante a satisfação com que vivo em família, jamais esquecerei, e sempre terei como paradigma de prazer, as sensações e aventuras vividas ao longo dos porres tomados com meus comparsas.


Coisas corriqueiras. Todos, pelo menos os normais, se entorpeceram na juventude ao som das rodas de violão, de cujas notas saíam músicas que embalaram os sonhos do treinamento lúdico envoltas em mantos de fumaças de fogueiras.


Meninas lindas, ou apenas necessárias. Um verdadeiro espírito que se apoderava das atividades comuns, a fixação pelo sexo e pela busca da exacerbação, através dos excessos químicos e físicos, dos sentimentos que representam a essência.


Mas tudo isso passa e cedemos para o sistema. Queremos, ao final, trabalho, poder e dinheiro. Felicidade? Abdicamo-la com a ilusão de que esse triunvirato a trará novamente.

Assim sendo, a inevitabilidade dos acontecimentos faz com que abandonemos as rodas, demos valor demasiado ao sistema, criemos famílias e, o que é pior e certo: nos afastamos.


Mas a gente não desiste, e vem tentando se encontrar mais, buscarmo-nos de maneira mais efetiva, pois amizades como as nossas são sólidas, construídas ao longo de um tempo muito importante para a formação de nossos caracteres, justamente porque foram à época moldadas em material maleável. Um amálgama de conceitos, paixões e contradições foi desenvolvido. Individualidades e características próprias foram transmitidas entre nós e o resultado é muito bom: pessoas do mais alto grau de generosidade, simpatia e coleguismo.


Desde que tivemos uma conversa virtual, José Menna e Taiane em Pelotas, Badejo e Rafael em Porto Alegre, Terres em um local chamado Pato Branco, e eu em Brasília, uma idéia me domina: as distàncias vencerão e os momentos em conjunto ficarão mais escassos.


Mas aí vem de novo a saudade, e numa noite dessas eu liguei para o Roberto, numa conversa muito agradável de duas horas tomamos um trago pelo telefone. Sim, enquanto debatíamos sobre o futuro, relembrávamos o passado e falávamos acerca de leituras e da finitude, uma caixa de latinhas foi consumida. Foi um espetáculo. Imagine-se que isso, depois de milhares de vezes acontecer in loco, agora, pela falta de proximidade física, teve, pela força da amizade, que se dar via satélite.


Todavia, não é a mesma coisa. Não pudemos dar uma esticada até o próximo bar aberto. Deitei misturando a alegria de poder conversar com o amigo distante, e a frustração de não poder tomar a saideira na rodoviária.


E aí fiquei pensando em formas mais efetivas de encontros. No mês passado, por exemplo, lembrando-me do embate que ocorreu entre Davos e Porto Alegre, quando o George Soros foi desancado por uma madre da Plaza de Mayo, vislumbrei o porre via conferência eletrónica. Coisa simples, logo deve estar popularizada. Imaginemos que, além de ouvirmo-nos, poderíamos nos vermos sentadinhos em nossas casas ou em nossos bares prediletos, na frente de uma càmera de TV que transmitisse a cena para o amigo, assim como veríamos o outro lado em um telão. Globalizaríamos, pois, o botequim.


Um verdadeiro sucesso. Já não existem bares que têm TV à cabo para atrair torcedores de futebol. Por que não botequins munidos de càmeras de teleconferência?


Pensei seriamente e lembrei que essa saída poderia ser mais fácil se tivéssemos càmeras de Internet nas nossas estações pessoais, mas a tal webcam é muito lenta, não acompanha o ritmo dos colegas.


Fui mais longe, imaginei-nos à moda Star Wars, com as imagens dos bebuns em hologramas tridimensionais dentro das nossas casas madrugada a dentro. Os hologramas, transmitidos por aparelhos de telecomunicação visual digitalizada, de ainda difícil acesso, praticamente resolveriam tudo. Teríamos quase um contato físico, pois nos enxergaríamos em 3-D dentro dos nosso (b)lares. Realidade virtual pura.


Imaginem uma reunião com aquelas pessoas que citei acima, todos em cidades diversas , mas que poderiam estar virtualmente em um só lugar, por intermédio dos hologramas.


Mas essa tecnologia, como disse, está ainda distante, e a autocrítica me veio de supetão num dia de ressaca.


Refleti, dessarte, que é da vida, que a separação é não só inevitável, como também profilática. Já se foi o tempo no qual as reuniões se davam em rodas intermináveis. Passaram e são lembranças saudáveis justamente porque passaram. Com efeito, foi bom exatamente por isto: fomos e ainda bem que não mais o somos.


Resignei-me e, por fim, deixei de lado os hologramas, concluindo que fomos criados para o mundo, pertencemos a uma realidade mais ampla e menos individualista, cujos conceitos precisam de transformação, mesmo porque, se ficássemos todos a repetir o que fazíamos naqueles tempos das rodas intermináveis, é muito provável que hoje nos reuníssemos aos cuidados dos Drs. José Menna e Roberto Lima no Hospital Espírita de Pelotas.


Brasília, em 14.04.01
Max

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