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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (123) -- 19/09/2013 - 09:43 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (123)
"No mundo nada se cria, tudo se copia"
Abelardo CHACRINHA

Meu raso espírito de imitação não para. Acompanha-me desde um vago tempo em que imaginei fosse tão criativo quanto Jobim ou Sérgio Ricardo. E nunca desisto de criar. E jamais abri mão de que, imitando os melhores, poderei ser um deles. Serei? Teria sido? Autocrítica não me falta nem sobra. Ela coexiste comigo desde que suponho me ter feito gente. Aprendi e aprendo diariamente que se possuo essa qualidade de poder-me autojulgar, me será possível julgar outrem. Não pessoas, mas obras. Também, por absoluto sentimento de falibilidade, aprecio quando me julgam as obras, parcas conquanto persistentes. Confesso ter havido uma época em que escondia o que escrevia. Ou as melodias ou poemas rascunhados. Talvez por excesso de encabulação ou escassez de coragem, altivez ou cara-de-pau.

Sigo adiante sabendo que continua ligado em meu foro íntimo, um eficiente desconfiómetro. Ele me alerta, como uma febre, de quando as coisas não se encontram no adequado ponto de maturação. Acredito que isso possa ocorrer com algumas pessoas, na medida em que sabem suas limitações. Mas conheço algumas, cuja ousadia excede a minha, se a possuo. Conheço alguns poucos, ainda que não os frequente, nem os tenha como amigos. São capazes de, em qualquer circunstància, exporem suas obras, sentimentos, palavras, crenças ou valores. Para alguns, dependendo da situação, uma mensagem por tosca ou rústica que seja, há que ser divulgada. Se não me engano, mestre Aristóteles defendia esse mister. As mensagens não devem - ainda que possam - permanecer na gaveta por muito tempo.

Recentemente encontrei um desses amistosos camaradas que, diferentemente de mim, é capaz de fazer rodar num botequim, seu penúltimo CD. E ao fazê-lo ele demonstra uma autoconfiança de
quem adentrou a jaula do leão. Isso ocorreu outra tarde de julho, em Camaragibe. Trata-se de um homem simples, de pouca educação formal, mas de alguma educação doméstica. Ao me ver passar ele me chamou pelo nome e acorri em atendê-lo. Estava bebericando um vinho tinto de qualidade duvidosa. Depois dos cumprimentos de praxe, acomodei as sacolas do mercado e me sentei. Ao recusar o copo de vinho, argumentei que não bebia vinho daquela forma, nem àquela hora. Ele e o acompanhante, mergulhados na segunda garrafa, insistiram, mas voltei a recusar. Era antes do meio-dia e a essa hora, prefiro água mineral. Daí a pedir uma, foi um passo curto. Havia uma música tocando e alguém cantando. O assunto em pauta era tão interessante quanto traçar uma apreciação musical sobre as obras do Michel Teló. De repente, Miro, apelido do cidadão, me pediu a atenção sobre o que estava cantando. Acedi e agucei ouvidos
no que notei que ele possuía uma voz agradável. Certa vez me havia convidado e a seu filho, para vê-los num bar. Ao saber que ele estaria cantando esse tipo de MPV, declinei do convite, polidamente.

Perguntou-me o que eu achava da música. Eu, sem muita cerimónia disse-lhe que não era meu tipo. Ele insistiu e aí procurei da forma mais polida possível, dizer o que pensava sobre a obra gravada. Havia algumas lacunas no arranjo e o executante, desses tecladistas que adoram colocar no modo órgão, era comedido demais e meio claudicante. Teci uma mínima consideração sobre o que ouvia e me calei. A água mineral já estava acabando quando Miro, a exemplo de alguns perpassantes, bradou que eu só gostava de música sofisticada. Rebati perguntando se Luiz Gonzaga era sofisticado. Ele não acreditou que eu tivesse citado o velho "Lua". O companheiro dele, já bastante inebriado por aquele conjunto de uvas desconhecidas,
afirmou categoricamente que gostava mesmo era de brega.
Rearrumei as sacolas nas duas mãos, ergui-as e me levantei daquele tipo de cadeira que imita a dos melhores pubs londrinos. Com um "tenham um bom dia, senhores", saí de fininho convencido de que aquele tipo de gente, me seria muito cruel querer imitar.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
19.09.2013
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