Durante o domingo passado quando mexia em alguns papéis antigos deparei-me com uma missiva que julguei atual. Por considerar Van Grogue amigo do peito, achei que ele não se importaria se a publicasse hoje aqui na www.usinadeletras.com.br e no http://laranjanews.blog.terra.com.br.
A carta que ele escreveu à Ana K. Onda, mas não enviou, segue na íntegra:
“Tupinambicas das Linhas, 10 de maio de 1997
Prezada amiga:
O que tem de maluco que não fala coisa com coisa, em Tupinambicas das Linhas, minha amiga, não é brincadeira não. Geralmente são amontoados de gente – duas ou três famílias – agrupadas em casas pequenas, tabagicos, alcoolistas, e desocupados. Ficam tensos e nervosos e após algum tempo passam a murmurar palavras sem nexo. Eles julgam poder influenciar os vizinhos e por isso insultam e rogam pragas. É um inferno. Eles crêem nas teorias da seita maligna-do-pavão-muito-bem-louco e depois de certo tempo não conseguem mais distinguir a realidade da fantasia. Psicólogos dizem que essa verdadeira doença social que se espalhou pela cidade é decorrente da situação mundial, outros que a base é a adolescência rebelde; mas tem quem afirme serem os motivos, os de ordem econômica; há outros ainda que garantem, ser essa afecção social, o resultado da somatória de todas essas variáveis”.
“Existem professores que mal sabem escrever o próprio nome. Diretores de escola que conseguiram tal cargo, não por notório saber ou por méritos culturais. Nada disso. A grande maioria ascendeu por força de ajeitamento político; e o resultado qualquer um pode ver. Milhares de crianças sem o mínimo de conhecimento que se poderia esperar”.
“E por trás de tudo isso um governo municipal dado a astúcias, composto por gente desejosa de provar que pode enriquecer cometendo crimes sem punição. São ladrões que se eternizam no poder. O lema dessa súcia é:”O segredo vale ouro”.
“A disfunção denunciativa que se observa na imprensa da cidade, especialmente no jornal O Diário de Tupinambicas das Linhas, pode ser atribuída à cumplicidade existente entre os donos do jornal e os políticos corrompidos. Não é são um jornal viver jogando confete e serpentina num governo denunciado tantas e tantas vezes por suspeita de roubo.”
“Temos visto pela televisão o derretimento das calotas polares. O aumento da quantidade de matéria na forma líquida sobrepondo-se às superfícies sólidas tem provocado destruição. E tudo por causa do aquecimento dos ares pela queima dos combustíveis retirados do subsolo. Os países industrializados sabem que pela atividade que exercem modificam o status quo do meio ambiente levando tudo de volta ao caos novamente. A loucura cresce tanto, que em alguns locais há a inversão de valores: o correto mesmo é cometer crimes. Ser careta não é bacana. Pois quem vence não é o traficante e o assaltante de bancos, não são os piratas?”
“Sabe minha amiga, não quero ser pessimista não, mas acho que estamos vivendo um tempo semelhante àquele em que viveu Noé. Os momentos antecedentes do dilúvio, que destruiu tudo, continham aberrações como essas que vemos agora. É homem com homem, mulher com mulher, que dá até nojo; mulheres com vários filhos de homens diferentes, confusão social e colapso total nos serviços públicos. Não quero ser pessimista, mas acho que estamos no fim”.
“Um forte abraço. Espero vê-la sempre feliz.
