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cronicas-->Veluziano Justiniano -- 09/10/2013 - 10:14 (Brazílio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Cinco casamentos, quatro viuvezes e um pouco mais que oito décadas de laboriosa

existência e Veluziano expirou, cercado pelo carinho da família contristada.

Justiniana, a primogênita do quinto matrimónio que o assistiu nas horas derradeiras

recitava aos sobrinhos, anos depois, parte da agonia estertoral do progenitor, a

pedir água,..."um quarto d`água".

Seleiro de profissão, mas raramente a cavaleiro da situação, Veluziano muito fiou e

mais se endividou ao longo dos anos, deixando, ao partir, obrigações que os filhos,

já empregados, e em mutirão, foram desbastando até a total liquidação.

Do espólio, além das paternais recomendações, exemplificadas numa vida de

paciência, esperança e compreensão, sobraram as ferramentas do ofício: um

compasso de ferro, um par de sovelas ( o sovelão e a sovelinha), um vazador, um serrote cheio de dentinhos, e

alguma peça mais genérica, como a foicinha e a enchó.

Foi o filho António, que com sua eclética inclinação profissional, e apenas ligeira

aptidão funcional, encarregou-se de ampliar aquele lote ferramental, adicionando-
lhe, ao sabor de suas tentativas de novo ofício, coisas como colher de pedreiro,

nível, facas de sapateiro, feitas do melhor aço de arco de barril, torquês,

martelo sem pé-de-cabra, pé-de-ferro de três extremidades (pezão, pezinho e

salto), tamborete das pernas curtas, bateia... enfim, um arsenal de aspirações

profissionais que ficava em sua maior parte confinado naquela lata de querosene,

num cantinho do quarto de António.

Havia o bombardim também, aquele instrumento que pertencia à banda, que lhe

fora confiado, e apesar do esfuziante entusiasmo, pouco executado. Mas esse já era

um capítulo da arte, não do artesão.

Outras peças remanescentes dos cuidados profissionais de Veluziano, embora não

classificadas, erravam pela casa, ou pelo terreiro, sem um repouso fixo, de tanto

que os netos lhes tentavam achar nexo. Assim, havia uns blocos ou pesos de ferro

de vários tamanhos que achavam serventia escorando portas contra a ventania.

Teriam sido pesos usados no esticamento do couro, arreios, selas? Havia também

uns ferrinhos e umas prensas de madeira que só um outro seleiro daquele tempo

é que poderia lhes dar nome e utilidade. O José, filho do terceiro casamento de

Veluziano, meio-irmão de António, bem que poderia ter ajudado nessa definição,

pois como o pai, teve seus pendores para a profissão, mas suas visitas à casa dos

meio-irmãos eram raras, e geralmente da sala - onde fumava Douradinho, cantava

alguma modinha ao violão - não passavam. Assim como ele próprio, já sessentão,

não passava de seus admitidos 38 anos.

Por fim, a bengalinha, ou manguarinha, como a chamava Justiniana. Fininha,

elegante, lustrosa até, foi encontrar serventia ao ser serrada e conformada a escora

de cortina de plástico entre a sala e copa.
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