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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (131) -- 18/10/2013 - 11:16 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (131)
"Se as viagens não ilustram, no mínimo ensinam
a gente a atravessar a rua corretamente". WS

Já lá vão tantos anos dês que comecei a viajar. Muito moço ainda, inaugurava a adultez cometendo minha primeira viagem. Nessa época a maioridade se dava a partir dos 21 anos. E eu sequer havia ingressado nela. Eu estava indo a São Paulo, mas não no papel de pau-de-arara, feito um cabra de Caetés, ex-presidente da República. Meio assustado, embarquei num pássaro de aço, um "Viscount" da VASP, companhia já extinta. Viajava porque ganhara um prêmio na área musical. Ainda hoje, distantes quase cinquenta anos desse episódio, depois do prazer da leitura, empolgam-me as viagens. Nem me incomodo se os aeroportos mantêm serviços em terra que deixam a desejar; pouco me importo se os bancos de bordo são meio apertados, uma justa reclamação dos gordos, ainda que não seja um deles; ou se o voo atrasou, os cúmulos fizeram chover e o tempo de check-in consumiu um terço do livro que estive lendo.
Uma viagem constitui para mim uma espécie de liberação geral. Retiro fora o relógio, dispenso os sapatos e as indumentárias sociais. A velha Asahi Pentax comprada fora do Brasil, ainda é o único e útil luxo que se me dou. Ela já completou quarenta anos e como toda peça rara, exige certo tipo de manutenção. As lentes sensíveis, nessa alta umidade relativa do ar, tendem a proliferar fungos que dificultam a leitura da luz.
Até que poderia, com recursos de última geração, utilizar um aparelho celular. Não me surte o mesmo efeito. Se fotografar é pintar com a luz, então utilizemos as benesses naturais a nosso alcance. Os mais modernos como meu filho, utilizam càmeras mais sofisticadas, digitais e tão inteligentes como o proprietário. Ainda não me dei conta disso, mas pensarei no caso. Outro aspecto prazeroso de uma viagem é a observação.
Ela consiste em sair do hotel com um único intuito: ir à rua e observar os transeuntes, seus hábitos, sua forma de andar e se são silenciosos ou barulhentos, conforme a cultura. As grandes metrópoles, ainda que não conheça todas, guardam entre si características próprias, por mais globalizadas sejam em seus aspectos urbanos. As que conheço têm me proporcionado alguns instantes de prazer. Certa vez em Nova York saí caminhando a esmo e observei que havia um casal em pé com uma criança entre corpos. Andei todo o quarteirão bastante longo e no retorno ao ponto inicial, avistei o mesmo casal, na mesma posição e mantendo o mesmo cenário anterior. Achei aquilo tudo muito curioso e várias hipóteses me vieram à mente. A última delas foi constatada quando cautelosamente me aproximei, mas sem a càmera e vi que eles olhavam para um ponto distante. Estranha cena aquela que me reportara aos velhos filmes de Godard, Fellini ou Visconti. Os três estavam imóveis, olhar fixo num ponto além. Eureca! Pela cor da conjuntiva e a postura anódina revelada, estariam num estado letárgico, somente proporcionado por algum alucinógeno.
Da minha experiência anterior, percebi discretamente ao me aproximar uns dois metros e meio, que estava o casal sob o efeito de alguma canabis sativa ou similar. Noutra oportunidade, já que a cena me houvera impressionado bastante, contei a um amigo nova-iorquino e ele, macaco velho, me afirmou naturalmente: "Ah... são coisas de Nova York". Sem recusar sua análise de velho morador do Queens, acedi à hipótese. Como não me apraz de jeito nenhum subir numa roda gigante ou enfrentar o desafio de uma dessas serpentes desenfreadas que sobem e descem, nas alturas, só dentro de aeronaves. A paciência do viajante contrasta com a do homem sedentário, estacionado na monotonia de seu cotidiano. As viagens nos ensinam a retirar certas máscaras, essas a que nos habituamos no viver comum. Se no silêncio nada nos assusta, quando tentamos usar o idioma do local, a existência de uma torre de babel, parece mera fantasia.
No próximo ano, durante o imprevisível evento da Copa do mundo de futebol, pretendo cruzar continentes e oceanos e aportar no oriente. Lá, com uma ideia na cabeça e càmera na mão, espero concretizar meu projeto sobre Confúcio. Sem nenhuma outra pretensão de que, nessa missão, redescubra a pólvora ou ouse imaginar que possa fazer um negócio da China.
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ERRATUM: no texto 130, onde se lê "Inspirée, leia-se Inspiré. E onde se lê vrai, leia-se vraie.

WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
18;10.2013
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