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cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (132) -- 27/10/2013 - 08:57 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (132)

Não sei se foi Renato Russo quem gravou uma obra contestando: "Que país é esse!?". E outros tantos artistas teriam protestado com frases semelhantes. Abordo isso para comentar no varejo, aquilo que já foi por demais explorado na mídia nacional, semana passada. Refiro-me à morte da atriz Norma Bengell. Famosa muito mais pela nudez total do que pelo talento, ela se expós pessoalmente além do que uma càmera poderia captar. O desfecho não teria espaço em qualquer roteiro idealizado. Quase octogenária, como póde alguém tão bela, corajosa e libertária aos 27 anos, encerrar de forma tão dramática as últimas tomadas? Endividada e processada pela Justiça, estava sendo acusada de se apossar de quantia vultosa sem lhe destinar o fim original. Seu empenho em obter dinheiro para uma autobiografia, foi diferente do desempenho na sétima arte. As revistas hebdomadárias, cada uma a seu modo, tentam interpretar a epopeia da preparação do filme "Norma", com duvidosa realização até agora.

Há motivos extraordinários que justificam a frase de Russo. Neste país, artista não é tratado como gente normal, exceto enquanto jovem e viçoso, manipulado pela avidez da mídia. Ao envelhecer e se não houver se preparado para a aposentadoria, amargará um fim sombrio. Quantos estão quase vegetando no tal Retiro dos artistas, que uma vez quase me bateu na telha visitar no Rio de Janeiro? Diferentemente dos Estados Unidos, ao se transformar em ídolo, ao artista cabe apenas se apresentar no palco ou diante de càmeras, jamais gerenciar os recursos que envolvem a carreira. Por isso tudo, convencionou-se delegar a um agente ou empresário, a agenda, os horários, as viagens, o vestuário e outros detalhes. Quanto ao faturamento e o lucro líquido, aí são outros quinhentos, por sinal, sempre a menos. Alguns artistas colocam no papel de empresário, algum membro da família, às vezes a própria mulher com quem partilha a cama.

Quando vi "Os cafajestes", o filme sofrera cortes rigorosos, pela censura da ditadura militar. A cena da nudez frontal, a gente só pode apreciar, nas cópias mais recentes. Como cinéfilo voraz, preferiria ver outra vez, porque me lembro ser a fotografia muito pertinente, em preto e branco. Se Norma possuísse à época, uma bola de cristal, quem sabe poderia ter vislumbrado imagens atuais, num fastforward, isto é, um mergulho no futuro. À medida que envelhecia, ia sendo convidada para alguns papeis, nem tão representativos e à altura do seu talento. Duvido - já que falei em artistas estrangeiros - que uma Bardot, hoje quase naturalmente caquética, esteja numa situação semelhante. Afinal de contas, a previdência estatal é uma só para todos, ainda que todos sejam ou não tratados da mesma forma. Não ficou muito claro para mim, se a megalomania de La Bengell tenha querido contracenar com ela nos últimos dez anos de vida. O narcisismo inevitável a que se entrega a maioria do artista, em qualquer ramo, leva-o muitas vezes a construir um mundo particular, longe do real.

Fiquei pessoalmente surpreso, quando vi o ator Claudio Cavalcanti, morto recentemente, num papel secundário numa série da tevê por assinatura. Não me refiro ao envelhecimento em si, porque esse é nosso irreversível clímax. Mas principalmente ao escanteamento que sofre a maioria, seja ator global ou não. As exceções são honrosas e mínimas, principalmente se levam uma existência convencional e longe da fofoca mundana. As participações a que tive direito de ver na tevê, não condizem decisivamente com o projeto de velhice da atriz premiada de "O pagador de promessas". Norma Bengell já havia escolhido quem lhe representaria na tela, ao longo de sua trajetória como mulher e atriz.
Resta, no entanto, esperar se o roteiro do filme autobiográfico sobreviverá e será concluído, ainda que não esclareça para o espectador, onde a ficção se mescla com a realidade no que ela tem de mais amargo.
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WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
21.10.2013

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