Usina de Letras
Usina de Letras
73 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62137 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10447)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10331)

Erótico (13566)

Frases (50547)

Humor (20019)

Infantil (5415)

Infanto Juvenil (4748)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140778)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6172)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (133) -- 01/11/2013 - 12:32 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (133)

Num domingo desses, há onze anos, eu esperei receber uma terna visita. O país despertava para votar no segundo turno de 2002. Saí bem cedo como de hábito e fui votar no Colégio Tito Pereira, no km 12 em Camaragibe, município onde resido desde 1997.
A visita não seria concretizada. Soube em torno das dez da manhã, em meio à grande mobilização bissexta das eleições majoritárias, da morte do meu irmão.
Na segunda-feira 28 escrevi esse modesto poema ainda engasgado pela notícia e depois de sepultá-lo, mas não de minha memória.



POEMA DE FRATERNIDADE
( Dois meninos)

ao meu irmão VALDIR ANTONIO* (Nenê)


Sentados no muro do tempo,
joelhos feridos no estio
cansados, jogados ao sol
numa rua chamada "do rio".

A poeira barrenta, argilosa,
e a sala frugal, tons azuis,
onde a mãe decorava a parede
com a cara do mago Jesus.

Ali éramos dois, tão meninos
como a vida a correr, centroavante
e os gols fossem amiúde marcados
sem a parca arbitragem constante.


Eram só dois irmãos e unidos
sob algumas crendices herdadas
numa casa-família onde a mãe
na parede frontal em azulejo

Santo António e o menino afixara
piedoso, milagreiro, presente
a quem ela atribuira contrita,
pão diário, transporte, batente.

Contrição que herdou dum passado
arrastando-se pé ante pé
dos meninos que um dia começam
a quebrar as vidraças da fé.

A escola primária e o bonde
sobre trilhos, dormentes, guarida
dois amigos, sinais circunscritos
a abrir a cancela da vida.

Meu irmão que eternizas comigo
tua mão a cortar rente e forte
no volibol subindo além da rede
a porrada no ventre da morte

E quem sabe me frustro e perdoas
por me haveres tirado do tom:
como vou cometer meus 60
sem obter teu labor de garçom?


O barman que servia com brilho
amizade, amor e Martini
vai ficar me devendo essa quadra
por mais que eu a esconda e confine.



Nosso ciclo se encerra: só eu resto
do quinteto da Rua do rio,
o Raul, a Zezé e um cão negro
encantados no eterno vazio.

Não me culpes, perdoa essas linhas
mal traçadas, capengas, triviais,
que a gente algum dia se encontre
numa terra onde mora o jamais.

Nessas ruas do rio navegas,
até quando houver vida e caminhos
a trilhar, sol a sol sobre os ombros
os teus filhos, netos e sobrinhos.

Essa gente tem dito que ronda
certo Deus, em quem crê e com pio,
ai de mim, sou poeta descrente
não avisto horizonte ou navio.

Uma foto num arquivo distante:
dois meninos sentados no muro,
quando um se assusta no agora,
há um outro que jaz no futuro.

__________________________
* 13.06.1945 - 27.10.2002.

WALTER DA SILVA
28 de Outubro de 2002.



Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui