Hoje falo do meu desejo de que seja assim, quando ELA me tocar:
Que chegue sorrateira, mesmo que há muito, eu me reconheça como caça.
Que me encontre virando a penúltima página de um livro e, mesmo que eu não tenha chegado à ultima, possa sair com a sensação dos meus olhos correndo pelas letras, para saboreá-las uma a uma.
Que as vozes vindas de longe cantarolem em meus ouvidos a mesma melodia que costumam retinir em alguns dos meus sonhos.
Que a friúra das mãos e pés não permaneçam por tempo demais. Apenas aguarde o sinal das últimas notas celestiais e o lastro do perfume das flores.
Que permaneça o sorriso de uma vida bem vivida, enquanto os meus olhos se fecham.
Que o vento não esteja triste por não ter cor e avance sobre a cortina sem assustá-la demais. Que ele feche com cuidado a página em aberto do livro caído no chão, enclausure palavras que não mais serão lidas com tamanho apreço e encerre com fé um precioso ciclo.
Que seja tal qual uma viagem inesperada, na qual eu somente possa levar, o essencial.
Que me permita ter a mesma sensação de uma criança saída da escola: alegria, tarefa feita, mochila jogada em qualquer canto, mãos livres, nenhum rancor, nenhum pesar.
Que se concretize com muita luz sem o risco de que eu me confunda na bruma de um cavo.