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Contos-->Algo Além... Não Muito... -- 29/09/2001 - 22:40 (Gustavo Henrique) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
-Hoje eu fui atormentado por alguns fantasmas do passado.
-E por que isso é tão ruim? São fantasmas ruins?
-São fantasmas bons, mas fazem coisas ruins... fazem sem querer.
-O que eles fazem?
-Me deixam triste pelo fato de terem seguido outro caminho, depois de terem moldado o meu.
-Entendo... dói quando estamos fora da realidade e alguém nos acorda, ou algo. Tem se relacionado bem com todos a sua volta?
-Sim, perfeitamente. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, com certeza. O problema é nós descobrirmos o lado errado de nossas vidas e darmos importância demais. Aí, jorra como uma represa...
-Mas isso já não tem mais a ver com os fantasmas, não é?
-Não...
-E tem a ver com o quê? Quer falar?
-Por que pessoas especiais têm que sumir?
-Talvez não sejam elas quem estejam sumindo, mas sim você.
-Já pensei nisso, mas tem a ver com fatos, e não sentimentos.
-Acredito em você. O problema é o seu desajeito em lidar com a busca dos outros pelos seus próprios destinos, eu acho.
-Errado... e mesmo que você estivesse certo, não justificaria nada.
-É... acho que tem razão. Então é só uma fase, eu te conheço. Pare de se preocupar à toa com o que poderia ter acontecido, e observe mais o que você pode vir a realizar.
-Acho que você está fazendo uma idéia errada sobre mim. Sou extremamente consciente e positivo quanto aos meus objetivos, pode estar certa disso.
-Sim, então por que disse aquilo?
-O quê?
-Sobre fantasmas, e depois a represa que jorra. São duas coisas distintas, e sentimentos misturados delatam algum problema ou mágoa. Não vai me contar?
-Está dando uma de psicóloga, ou apenas se preocupa comigo?
-Só conto se você parar de responder minhas perguntas com outras perguntas.
-Desculpe. Sim... há uma coisa errada. Mas eu não quero dizer.
-Então de que adianta?
-Acredite... não é hora e nem lugar.
-Tem a ver comigo?
-Não.
-E então?
-Então o quê?
-Sei lá.
-Droga...
-Você começa com esse papo nada a ver e depois vem com essa história...
-Pare de dar importância pra isso. Não é nada.
-É, vamos encerrar o assunto...
-Olha, desculpe te deixar nervosa, está bem?
-Eu não estou nervosa, fica na sua.
-Todo mundo tem problemas, e é uma pena você não compreender.
-Já está começando a me julgar?
-Não, é sério. Se você está comigo agora e não quer dividir isso respeitando o meu limite então acho que é a pessoa errada. O que quer de mim, além do óbvio?
-E se eu não responder o que você quer ouvir? Vai ficar irritado?
-Se for verdade vou ficar bem tranquilo.
-Jura?
-Juro.
-Então lá vai: o que eu quero de você é a minha identidade.
-Não entendi muito bem... onde esteve toda a sua vida? Numa bolha?
-Fica aí fazendo piadas...
-Bem... não tem nada a ver com o que você disse, mas soou como se você fizesse isso com muita gente.
-O quê? Procurar minha identidade?
-Não, o que você faz pra procurar sua identidade.
-Está completamente errado. Magoa-me ouvir você falar assim.
-Tá, mas então, o que a faz pensar que vai achá-la comigo?
-Por causa de uma coisa que eu sempre te ouvi dizer.
-Sobre filmes ruins?
-Não... você sempre disse que não é ninguém para obrigar os outros a fazerem o que não querem.
-Ah... acho que sua vida está se abrindo diante de mim.
-As pessoas te impõem um modo de pensar... te impõe tudo. Não se pode encontrar a si mesmo nesse mundo.
-... Mmm...
-Não vai ficar chateado, não é?
-Olha, eu conheço as pessoas em geral. Sei que tudo o que elas fazem é por si próprias na maioria das vezes, mas ninguém tem culpa... ou eu nem sei se isso é errado.
-Sabe, você tem o dom de me fazer pensar profundamente nas coisas... afinal, pra quê eu deveria encontrar minha identidade? De que isso adiantaria?
-Ficaria mais feliz consigo mesma, mais orgulhosa, mais impetuosa, mais segura e dificilmente deixaria de realizar algum sonho.
-Puxa... acho que finalmente a encontrei.
-Aí é que você se engana. Sua identidade está em milhares de pedacinhos espalhados por todos os lugares. Há uma parte no hospital, na escola, no beco escuro, no asfalto, voando pelo ar, pelas nuvens, pelo céu, na cozinha, no quarto, no banheiro, nos olhos das pessoas da rua sobre os quais você reflete... enfim. É só ir coletando aos poucos.
-Entendo... mas parece um conselho bem idiota.
-E até o é. Mas seu modo de pensar é o único que pode juntar os pedacinhos, e fica impossível enganar a si mesma.
-O que quer dizer?
-Quero dizer que você não precisa ir atrás de nada. Uma hora se encontra.
-Tem certeza disso? Posso confiar em você?
-Deve. Não por eu ter razão, porque é possível que eu não tenha, mas pelo fato de você estar perdendo um tempo precioso da sua vida.
-Acha mesmo?
-Sim.
-Então está bem.
-E agora?
-Agora o quê?
-Você... vai embora?
-Por que a pergunta?
-Acho que o clima está ficando um pouco desfavorável.
-Como assim?
-Parece que você já ouviu muita coisa por hoje... sabe...
-Sei, sei... acha que eu não tenho mais o que fazer aqui.
-Não é bem isso. Eu acho que você não quer mais ficar.
-Você fica adivinhando demais... isso não é agradável. Soa como se estivesse me recriminando.
-Eu sei que não devia agir assim, mas eu sou do tipo que diz o que pensa.
-E por que faz isso?
-É que eu nunca subestimo ninguém quanto à capacidade de entender o que eu digo.
-Não é certo. As pessoas são diferentes.
-É, mas eu sou assim.
-Não está sendo um pouco egoísta?
-Egoísta? O que tem isso a ver?
-Não... acho que eu quis dizer preguiçoso...
-Dá pra explicar?
-Você diz algo pra alguém e não fica nem um pouco preocupado com a possibilidade dela não captar aquilo. Parece preguiça de se fazer entender.
-Não é nada disso. Já falei que eu não subestimo ninguém. É inconsciente.
-Certo, certo.
-Mas então, o que quer fazer agora?
-Não sei, alguma sugestão?
-Não...
-Ah, pois eu tenho. Por que não me conta qual é aquele problema que estava te atormentando?
-Ainda está. E eu já disse que não estou a fim de contar.
-Me dê um bom motivo pra isso e eu paro de insistir.
-Bem, se eu contar é possível que você tenha uma reação histérica.
-O quê?
-É possível, é possível.
-Cara, você acabou de fazer a pior besteira que poderia ter feito.
-Ah, é?
-Acabou de me dar o maior motivo pra continuar insistindo. Pode contar agora senão...
-Eu já falei que digo o que penso.
-Pois se isso tem a ver comigo, eu quero saber. Você mentiu.
-Menti pra não te deixar preocupada.
-Pois agora eu estou mais ainda. Fala.
-Conhece aquela música que diz: “... Porque você me deixou, cego no escuro, sendo machucado pelo meu modo de pensar... Mas agora eu sei disso, então quando preciso de você eu apenas fecho a porta... A porta da minha mente, a porta da minha alma, a porta de tudo o que me faz feliz.”?
-Não, de quem é?
-Não sei. Ouvi no rádio, mas ela é em Inglês.
-Tá, mas o que tem isso a ver?
-Ah... você sabe... esse negócio de ser machucado, e fechar portas.
-Dá pra ser mais claro?
-Quando alguém diz coisas sem pensar, e magoa a gente, costumamos criar um inferno dentro de nós, não é?
-Às vezes. Alguém te disse alguma coisa?
-Bem, sim, todos os dias durante um certo período.
-Disse coisas todos os dias sem pensar?
-É, sem pensar que me deixaria num certo estado mental. Mas nesse caso eu não criei um inferno, mas sim uma espécie de céu, entende?
-Acho que estou juntando as peças...
-Tomara que não.
-...
-O que foi?
-Tô indo, falou.
-Até mais... puxa... é sempre assim. Todos no fim me deixam na pior hora. O que fazer? Pense... clareie as idéias. Ligar para alguém... não... a essa hora... já sei: dar uma volta pra amolecer meu tênis novo...


“Nunca julgue, para não ficar definindo a si mesmo.”
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