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Cronicas-->TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (137) -- 04/12/2013 - 10:08 (Walter da Silva) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
TRADIÇÕES, CONTRADIÇÕES (137)
"Ask not what the country can do for you,
ask what you can do for your country"
John F. Kennedy

Sem muita consonància entre si, mas apenas agrupadas em sua proximidade, as datas deste novembro coincidem. Zumbi dos Palmares no dia 20, os aniversários de meu filho Rodrigo (36), os 96 anos de minha mãe - se viva fosse - no dia 21 e o cinquentenário do assassinato de um político norte-americano, John Fitzgerald Kennedy, nesta sexta 22. Excetuando-se meus entes queridos, as datas assinaladas se referem a episódios políticos. A comunidade negra em sua grande maioria, considera Zumbi, o emblemático personagem do quilombo dos Palmares, muito mais importante do que a princesa Isabel, cuja assinatura da lei do vente livre se deu antes da inauguração da República. Houve um tempo em que se cria historicamente ter a realeza abolido a escravatura com a mesma dose de vergonha nacional como o fizera em outros lugares do mundo.
No recente filme de Spielberg "Lincoln", esse sentimento se revela. Cabe porém dizer que o fantasma do preconceito, embora enrustido, permanece vivo. Ainda hoje não consigo entender porque uma melanina a mais provoca às vezes tanta repulsa. Nos anos setenta, período efervescente e cheio de revoltas, o afro americano estampava na cara das gentes o dístico "Black is beautiful". Alguns anos antes ainda se podia encontrar em alguns Estados do tio Sam, vestígios dos locais reservados especialmente para os negros. A cultura americana produziu muito na literatura, na música, no cinema e nas artes plásticas, denunciando a "apartheid" estadunidense. No Brasil, entre os vários temperos culturais, ainda prevalece um bem forte, o da hipocrisia, mormente quando se amorena o negro ou se lhe criam vagas específicas nas universidades.
Sem polemizar ou não, não sei até onde se gerou melhorias na "disputa" entre brancos brasileiros e morenos, negros e pardos. Este último me parece ser invencionice de algum sociólogo enfastiado do IBGE. No último censo, sem muito pestanejar, declarei-me negro. Minha consciência me alerta de que minha etnia não reside na cor da pele mas na ancestralidade. Por isso pude constatar num estudo da instituição, que mais de vinte por cento da população antes considerada morena, assumiu agora seu papel real. Conheci na Bahia uma mulher negra, modelo fotográfico, que portava nos olhos o azul do mar de Amaralina. Dulce fazia jus ao nome e era tão bela que chamava atenção no hotel onde se hospedava. Na universidade pernambucana havia uma quase colónia de Guiné-Bissau, capitaneada por uma mulher diferenciada, estudante de Sociologia. Falava fluentemente três idiomas, incluindo o francês.
As cotas, como se denominam vagas para negros nas universidades, têm gerado certo descontentamento nas associações e grupos étnicos, porque parecem não estar sendo cumpridas. Já se sabe que neste país, o alto número de leis ordinárias está muito longe do aparelho fiscalizatório. Mas o preconceito nacional não se localiza apenas na etnia, mas nas orientações sexual e religiosa. Se não temos ainda uma nítida visão do que sejam direitos civis e igualdades concernentes, temos sim, opiniões quase bem claras sobre quem ganhará a Copa do mundo de futebol. O espectador de futebol, esteja certo, não é o mesmo que luta por direitos iguais. Basta conhecer os preços que se pagará para ver os jogos, parcial ou totalmente. Quando falei em Zumbi dos Palmares, passou batido o fato de que o país adotou feriado nacional apenas em dezessete estados da federação. Imagina se ele tivesse sido uma mulher. E só faço essa ilação quando percebo que uma mulher negra e santa, com o nome de Aparecida, tem muito mais ibope do que um negão estabanado. E isso sem levar em conta que a santa tem um dia especial, concorrendo com as crianças, em 12 de outubro de cada ano.
A ciência biológica com a ajuda da paleontologia e da arqueologia sabe que o homo sapiens primitivo surgiu na savana africana. Tudo leva a crer que fomos, um dia, essencialmente negros. A evolução darwiniana nos ensinou através do estudo da seleção natural que países como o Brasil, um dia serão mulatos ou algo em torno disso. Estou cada vez mais convencido de que a tolerància humana não se dará apenas no tocante à etnia, mas na convicção de que somos espécie de uma única raiz genética. A convivência entre os povos, quaisquer que sejam suas origens, só será possível e pacífica quando o poder não estiver mais priorizado no primeiro item da agenda das nações. Por enquanto e nesses próximos novembros deste século, há dúvida sobre se isso será possível.
E enquanto essa data não chega, regozijemo-nos com a alegria que poderá/deverá nos dar o Santa Cruz Futebol Clube*, nos próximos embates, essa cobra coral verdadeira que deve ser uma das maiores torcidas étnicas do país.
____________________________________________________________________
WALTER DA SILVA
Camaragibe-PE
22.11.2013.

*hoje já saboreamos a conquista do primeiro campeonato do SANTINHA:
Campeão nacional da série C. domingo, 1º/12/2013
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