Ainda que só
É simplesmente um quarto à meia luz.
Nele, existe uma cama,
com almofadas brancas, vermelhas e perfumadas.
As paredes à volta são de um tom rosa
que abrem o apetite.
À minha frente existe um espelho com
uma linda moldura em arabesco.
Estou só...
A música que toca no rádio é sensual e romântica.
A luz direta, ora voltada para meu colo,
ilumina o diário em minhas mãos.
Nele guardo lembranças, poemas, letras de músicas,
fatos, e algumas fotos que não cabem na memória.
Tenho apenas meu corpo, minhas mão, e a fraca
iluminação criando o estimulo visual.
Não tenho voce...
Restaram apenas lembranças do teu olhar,
do sorriso meigo, afável, e delicado.
Dos sentimentos não posso falar, pois só conheço os meus.
Do sexo guardo cada frase, cada gemido,
cada carinho, cada gozo.
É tudo que preciso pra reviver cada momento
de amor, de sexo, de carnes se misturando,
da lingua que passeia em minhas partes,
das partes que alcanço com minha lingua,
do beijo ardente, que tenta em vão alcançar a alma,
do punho cerrado que prende minhas mãos,
que me fazem a mais feliz das escravas.
Da linda cavalgada em pêlo, guiada pelo mastro
em teu poder.
Lindo! Brilhante! Intenso! é o gozo que vejo em teus olhos negros, transformados, transtornados,
em busca do limite que se encontra quando voamos
juntos e finalmente caímos exaustos, repletos,
preenchidos, contentes.
Continuo só, mas tão exausta quanto estives antes...
embora só, tão preenchida quanto antes...
ainda que só, tão feliz, quanto pude ser...
Valentina Fraga
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