Vovô Zezinho e vovó Adélia eram os pais de minha mãe. Apesar de morar em Caçapava, vovô vinha sempre nos visitar e contava umas histórias divertidas. Dizia que em sua fazenda havia uma árvore que dava dinheiro. De fato, quando lá íamos, ele sacudia um pouco a tal árvore e, para nossa alegria, dela caíam moedas.
Na fazenda havia também uma piscina, construída no tempo em que minha mãe era moça. Era especial, porque a água que a abastecia vinha direto de uma nascente e saía pelo outro lado. Cercando a casa havia um grande terreiro, onde grãos de café secavam ao sol. No final da tarde os empregados juntavam esses grãos, formavam vários montes e os cobriam com lona. Então as crianças escorregavam neles como se fossem tobogãs.
Bem pertinho dali passava a estrada de ferro Central do Brasil e nós adorávamos esperar o trem para dar adeusinho aos passageiros.
Para se chegar da porteira até o terreiro, havia uma avenida com mangueiras dos dois lados e seus troncos estavam sempre pintados de branco. Vovô dizia que gostava de ver suas árvores de cueca.
Eu achava vovó Adélia bem velhinha, ela estava sempre adoentada e por isso não saía de casa. Um dia me contaram que ela havia caído na escada e quebrado as pernas e um braço. Mamãe queria que eu fosse visitá-la, mas eu temia encontrar minha avó feito uma boneca quebrada: só com os tocos das pernas e o toco de um braço. Não suportaria vê-la assim. Tiveram que me explicar que as pessoas quebram a perna de outro modo. Ainda bem.
A mãe de meu pai, vovó Eudóxia, tocava piano e morava perto de nós. Era super vaidosa. Às vezes almoçava conosco e não permitia que meu pai se sentasse à mesa “em mangas de camisa”, quer dizer, sem paletó. Uma vez ela me censurou, disse que meu vestido estava muito “surita”. Eu nem liguei, não sabia o que era aquilo! Depois é que mamãe contou que ela achou o vestido curto demais.
Não conhecemos vovô Pepê, o pai de meu pai. Quando nascemos ele já havia morrido. Mas um de seus irmãos fez o papel de avô para nós, era o vovô Paulo.
Vovô Zezinho costumava distribuir entre as crianças moedas daquela árvore milagrosa. Quando ele morreu, ficamos todos muito tristes e um dos meus irmãos, além disso, preocupou-se também. Perguntou à mamãe:
- E agora? Quem é que vai nos dar esmolinha?