Olá minha cara criança!
Você está bem?
Eu? Eu acho que não estou tão bem como você.
Por quê? Porque estou vendo muita coisa que você ainda não entende. Estou vendo que minha geração está destruindo o mundo em que você está crescendo. Estou vendo que seus pais já não têm tempo para brincar e conversar com você. Estou vendo que o mundo das máquinas recebe muito mais interesse do que seu animal de estimação. Vejo também que você está muito solitário. Já não existe o encontro nas ruas para jogar bola ou empinar pipa. Vejo que você nem conhece carrinho de rolemã e nem sabe fabricar uma pipa em casa. Sua mãe já compra pronta, né?
Você olhou o sol hoje? Não? Também não faz mal porque você veria o sol quadrado igual presidiário, porque na sua casa tem grades na janela não é?
Você está muito atarefado hoje? Ah! Já sei! São as aulas de inglês, natação e judô, não é? Tudo isso depois da escola.
E quando você acabar as aulas, o que você vai fazer? Jogar vídeo game e assistir televisão. Ah sei!
Quando for o fim de semana, vem aqui em casa. Quero falar com você. Quero contar que quando eu era criança, as crianças eram felizes. Poucas delas eram abandonadas nas ruas. Mesmo sendo pobres, as crianças brincavam de bonecas, de casinha e de carrinhos. Agente não tinha tantos brinquedos como você tem agora. Era difícil possuir alguma coisa eletrônica, mas nós tínhamos a rua.
Bonito seu celular. Você ganhou quando fez nove anos, né? O que você iria fazer se não tivesse um desse? Acho que você não sabe a resposta. Não importa. Existem muitas respostas que eu também não sei dar, como por exemplo: o que aconteceu com a inocência e a simplicidade? O que aconteceu com o sorriso sempre presente das crianças? (você viu como as crianças choram mais hoje?). E tem uma pergunta que mais me incomoda e que eu não sei responder. Sabe qual é? Onde é que vamos parar?
Mas agora eu vou parar por aqui, pois você deve estar de cabeça cheia com o que eu falo, né?
Ah! Você quer aprender a fazer pipa? Vem aqui em casa no final de semana, eu te ensino. Depois a gente sai para empinar num parque, porque na rua não pode, ta?
Te vejo então no final de semana!
Um grande beijo para você minha criança do futuro!
Deborah Douglas (pseudônimo Alma Collins)
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