Nos últimos dias a imprensa noticiou que Lula negou ser de esquerda, ensaiando uma boutade ao dizer que era apenas um torneiro mecânico. Ora, Lula é um sindicalista e um político profissional há muitos anos, tendo abraçado todas as bandeiras esquerdistas que lhe foram apresentadas, desde a origem. Foi presidente do Foro de São Paulo, entidade que congrega o que há de mais radical em matéria de esquerdismo na América Latina e, se não patrocina, pelo menos dá apoio político à luta armada subversiva. Foi eleito presidente da República por uma ampla coalizão de esquerda.
Lula é de esquerda, logo ele é um mentiroso. Faltou com a verdade de forma leviana.
Alguns analistas políticos costumam descartar a dualidade esquerda/direita enquanto categorias explicativas do processo político. Não concordo com esse ponto de vista. Essa clivagem tem um grande poder heurístico para separar os dois pólos políticos. De um lado, alinham-se à esquerda aqueles que querem reformar a natureza humana e enxergam o Estado como o grande instrumento para alcançar esse fim. Para eles, o Estado pode servir de instrumento para o desenvolvimento econômico, para a distribuição de renda e para instituir “mais” igualdade, mesmo que para isso as liberdades individuais sejam suprimidas. Os esquerdistas renegam a tradição judaico-cristã e buscam a instalação de uma nova ética hedonista, que em tudo e por tudo nega os valores superiores da civilização ocidental. Os esquerdistas defendem a união, na pessoa do burocrata estatal, do poder econômico com o poder político.
No campo da direita política vemos o contrário. O Estado é visto com suspeição, por ser percebido como um instrumento de criação de privilégios, inimigo da sociedade aberta, instrumento de irracionalidade econômica, que aloca mal os recursos escassos e que pratica injustiça contra aqueles que trabalha e produzem as riquezas. O Estado “grande” pratica o mal por atacado. A direita liberal clássica reconhece que o Estado é necessário em funções como a Justiça, a Defesa e Diplomacia, porém jamais deve interferir no processo econômico. Defendem a separação completa entre o poder econômico e o poder político.
É claro que há matizes. Existem os social-democratas, que reconhecem a necessidade das relações capitalistas. Existem os anarco-capitalistas, que querem destruir o Estado a qualquer custo. E existem também os patrimonialistas, de difícil classificação. Contudo, o seu apego ao Estado torna-os companheiros de viagem dos esquerdistas, pois adoram estatizar o que podem e tornam-se parasitas permanentes do Erário, mesmo quando defendem uma ética conservadora. Nunca é demais repetir que o nazismo e o comunismo são irmãos siameses e são os autores das maiores desgraças que a humanidade já conheceu.
Uma mentira fácil dessa proferida por Lula apenas confunde as mentes mais jovens e menos informadas. Ao dizer que não é de esquerda ele se camufla para tentar seduzir a parcela do eleitorado mais conservador, que ainda lhe opõe resistência, numa jogada de marketing eleitoral de forte desonestidade. Sei que tolos podem dar ouvidos à mentira. Mas, da minha parte, sempre faço isso: chamo mentirosos de mentiroso.
