De fato, é como você diz: o espelho só pode refletir uma figura escultural, músculos delineados com absoluta precisão, resultado do árduo trabalho a que se submete diariamente, deixando rastro do suor impregnado no assoalho.
Mas, percebe? Olhe pela segunda vez no espelho. Dê uma segunda chance ao seu olhar. Transparece o mesmo esplendor do corpo em sua fisionomia?
O sorriso bosquejado para acompanhar o musculoso alinhavo do corpo perdeu-se dentre as brumas do olhar quando refletido no espelho e você não foi capaz de retê-lo.
É disso que falo. Da essência que se desnuda, e se desvalida diante da roupagem que você insiste em cobrir seu corpo.
Persista no olhar, meu amigo, e leve com você esse retrato refinado que clama por prudência e refocilamento.
Meu abraço de sempre
CURIOSIDADES:
A lenda de Narciso, surgida provavelmente da superstição grega segundo a qual contemplar a própria imagem prenunciava má sorte, possui um simbolismo que fez dela uma das mais duradouras da mitologia grega.
Narciso era um jovem de singular beleza, filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope.
No dia de seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura.
Indiferente aos sentimentos alheios, Narciso desprezou o amor da ninfa Eco - segundo outras fontes, do jovem Amantis - e seu egoísmo provocou o castigo dos deuses.
Ao observar o reflexo de seu rosto nas águas de uma fonte, apaixonou-se pela própria imagem e ficou a contemplá-la até consumir-se.
A flor conhecida pelo nome de Narciso nasceu, então, no lugar onde morrera.
Em outra versão da lenda, Narciso contemplava a própria imagem para recordar os traços da irmã gêmea, morta tragicamente.
Foi, no entanto, a versão tradicional, reproduzida no essencial por Ovídio em Metamorfoses, que se transmitiu à cultura ocidental por intermédio dos autores renascentistas.
Na psiquiatria e particularmente na psicanálise, o termo narcisismo designa a condição mórbida do indivíduo que tem interesse exagerado pelo próprio corpo.