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Poesias-->Noite Sem Fim -- 13/11/2001 - 01:13 (Carlos Santos Lacerda) |
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Agora
Vindo para casa
Eu observava os altos envidraçados
Como são grandes!
As luzes vermelhas do topo me lembram olhos
Olhos da virgem que chorava
Que estranho é olhar o tempo!
E perceber que ele passou e assim continua tão rápido e sem tréguas
O tempo vai indo como o trajeto de um rio
As vezes rápido e tortuoso quando não queremos
Mas também lento e monótono quando mais tendemos
Do alto céu vejo estrelas longínquas e tristes
E assim sinto-me tão feliz
Feliz por estar próximo aos meus
Por ser o que desejei ser
Por estar como estarei ainda um dia
Na escuridão atrás de cada vidraça eu vi a imagem perfeita de um homem
Ele era sereno
Sem medos
Sem sustos
Ele só transparecia a vivência que através daquele vidro nada pode ocultar
Desejos
Volto a mim
Meu coração é como um imenso e profundo túnel de sentimentos
Ao raso tem-se alegria e calmaria
Mas lá no fundo encontro a pujança de uma tormenta catatônica
A vazão que me permito vem preenchendo espaços vazios
Até que o fundo se torna raso
Eu preciso reprimi-los para que não avancem sobre meu corpo
Como pássaros descontrolados
Como ferozes felinos esfomeados
Volto as visões
Cada rosto da rua é uma vida de outras e outras vidas
Em cada lado que olho vejo amores, mortes, declínios e sofrimentos
Sobre cada passo um corpo clamando por atenção
Vejo os meninos do sinal
Tão sem vida!
Seus olhares medrosos me fazem temer o que ainda há por vir
Chego em minha casa
Atrás da porta de entrada sei exatamente o que me espera
Sei que sons escutarei
Que objetos poderei tocar e cada passo que poderei infligir
Mas quem são estes que detrás das portas se mantêm tão sozinhos?
São os filhos da lua que o sol despreza?
São as conchas que o mar cuspiu de seu interior?
E agora ainda tenho alma
Suficiente para pensar nestes que não sei se ainda tem
Não que sejam desalmados
Mas é que para estes a lama afogou qualquer tipo de brilho que faz com que sejamos seres humanos melhores a cada dia
Será que detrás daquela vidraça polida ainda há também o mesmo homem?
Ou será que assim como as estrelas que se envergonham da luz
Se escondem da claridade
Também aquele homem se esquiva
De qualquer lembrança que o faz ver o que ele é
Mesmo que ele não saiba
Oh Deus!
Apaga de teus filhos este pendão de dor e sofrimento
Enterra junto ao último cadáver da noite
A última amargura de uma mãe ao meio
Salve-nos destas penumbras
Que escamoteadas sob a terra lisa e fofa
Amansa o perdão mas aumenta a revolta
Somos poucos de tão poucos que nos deixamos ser
Nos limitamos a nossas vozes baixas e esquecidas
Nos defrontamos em cada palavra que merecia ser dita
Mas ela se silenciou
E assim
Partiu
Como vento que cortando as matas distanciam as folhas
Como a luz que a noite apaga
Como o amor que a saudade extingue
Apenas isso
Apenas
Adeus
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