Encontro-me numa rua deserta e desconhecida. Caminho a esmo. Uma força me guia por trechos sublimes. A rua é silenciosa. A vegetação rasteira percorre o estreito das margens. Vejo uma casa no fim da rua. Ela é branca, simples, sem ornamentos. Sigo em sua direção num misto de curiosidade e perplexidade. Entro sem bater. A porta está aberta. Encontro um homem sentado de pernas cruzadas, mãos entrelaçadas sobre o joelho direito num sala quase deserta. Ele está com a cabeça abaixada com o queixo encostado no peito. Tenta levantar a cabeça com certo esforço. Por cima da mesa, uma garrafa vazia e um copo tombado enfeitam o retiro de um bêbado. Parece. Ao sentir minha presença levanta a cabeça com firmeza. Seus olhos brilham. Ele parece feliz com a minha existência. Sorri. Observo seu semblante empolado e machucado. Parece com a face da melancolia. Ergue-se da cadeira com muita dificuldade, caminha em minha direção e me abraça. Sinto a fraqueza de seus braços, no entanto, faz o possível para me dar um forte abraço. Ao pé do meu ouvido, murmura palavras desconexas e sinto seu forte hálito alcoolizado. Ao soltar-me caminha, a passos lentos, em direção ao quarto. Sem dizer nada, entra e fecha a porta. Começo a ouvir um choro. Não por sofrimento físico, mas de uma lembrança a muito tempo guardada. O pranto cessa. Espero vê-lo sair do quarto. Mas nenhum sinal. Fico curioso e preocupado. Abro a porta e não encontro o homem. O quarto está vazio. O quarto, a alma. Não admiro seu desaparecimento. O homem fora com o entardecer de um dia. Há seis longos anos. Agora, exatamente no dia de sua peregrinação, ele aparece em minha lembrança. Talvez, quem sabe, por saudade.