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Contos-->17 minutos e 32 segundos -- 03/10/2001 - 10:43 (Leonardo Almeida Filho) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era Luzelena e tinha uma carinha de fundo de gaveta, assim-assim, xoxa e sem graça. Seu corpo, aquela coisinha atarracada e miúda, coberta por uma pele desbotada, seca e salpicada de marcas-seqüela de catapora antiga e dolorida, movimentava-se numa rapidez incrível dentro daquele cubículo que lhe reservara o supermercado onde trabalhava de quatro da tarde às dez da noite.
Era hábil e de raciocínio lépido, tinha auto-controle e estima, aliados a um talento inato para lidar com pessoas, pelo menos foi essa a anotação que fizeram em sua ficha de entrevista e que lhe garantiu o emprego de caixa executivo. Passou dias a repetir para si Caixa Executivo, Caixa Executivo. Era fantástico, ela chegara lá. Na comunidade paupérrima onde morava, entre dejetos e esgoto a céu aberto, todos os vizinhos comemoravam sua ascensão social. Luzinha, como era conhecida, era agora funcionária com carteira assinada, privilégio que ninguém das redondezas conseguia igualar, além de usar uma roupa linda, toda azul, com um cartãozinho de plástico pendurado no peito, onde estava o nome dela: Luzelena.
Tudo ia muito bem até que num sábado quente, um deslize apenas, unzinho só, questão de segundos, entre dois pacotes de papel higiênico e 7 latas de extrato de tomates, uma troca de números e lá se foi a frieza. Gelou dentro da linda roupa azul e o cartaozinho de plástico com seu nome pulava no ritmo da respiração descompassada e nervosa. Pediu que estornassem o débito, o que lhe valeram alguns minutos de paralização e resmungos do cliente obeso com cara de poucos amigos e cartão de crédito e impaciência. E não é que ele, debaixo daquela enorme capa de banha e prepotência, resolveu reclamar ao gerente que a menina do caixa nove estava muito lerda? que isso era um absurdo? que ele não tinha tempo a perder? que era preciso treinar mais essas pessoas? Que já se passavam 17 minutos e 32 segundos de espera e me faça o favor de tomar alguma providência? E Luzelena ficou estatelada em seu espanto, ouvindo tudo calada, nem um ai, apenas olhava a cara vermelho-ira do Dumbo. Estivera a passar a enorme compra daquele senhor, item por item, com atenção e cuidado, tentava se justificar e tinha certeza que era em vão. A fila crescendo, supermercado supercheio, e mais um erro, estorno, e um item sem o preço, chama a moça dos patins, e tome xingamento.
Luzelena ouviu no silêncio do gerente de caixas, um magrelo torto metido a certinho, uma advertência séria. Não podia chorar, isso não, não choro mesmo. Despachou o hipopótamo e foi convidada a apresentar-se ao gerente do dia. Sabia o que lhe aguardava, adeus carteira assinada, até logo roupa azul bonita, por isso, antes de tomar o caminho da direita, que ia dar na sala da gerência, dirigiu-se à saída, onde o fulano empurrava seus dois carrinhos abarrotados de compras, com o auxílio de uma miniatura dele, um menino catarrento vestido com camiseta Hard Rock de Miami. Ele a reconheceu e fez cara feia, como quem diz, de novo? Já não basta eu ter perdido 17 minutos e 32 segundos na fila, por tua causa?
Ela se aproximou e sussurrou-lhe quase ao pé do ouvido: Porque você, sua baleia escrota, não vai tomar nesse cu gordo, corno filho da puta? E completou bem alto, para que todos pudessem ouvir o quanto ela era gentil e cortês: Vou bem, e o senhor? Como vai? E sua família? E saiu sob o olhar atônito do procurador da república que, gaguejando sua indignação, ensaiava uma reação que não veio.
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