Desastre geográfico
Meu primeiro desastre geográfico se deu quando eu tinha uns cinco anos. Disseram-me que a África ficava do outro lado do Brasil. Pois bem, um dia, andando com mamãe pela rua, vi dois homens negros saírem de um buraco. “Olha aí, eles estão chegando da África. Acho que foram cavando, cavando e vieram parar aqui”. Disse isto e nem notei que ela achou muita graça.
O segundo aconteceu na escola, quando eu cursava o terceiro ano primário (hoje 3a série). A professora chegou com um rolo debaixo do braço, abriu e pendurou-o no quadro-negro. Era o mapa do Brasil, que eu já conhecia.
Com uma longa régua ela foi apontando os principais rios brasileiros e, naturalmente, falou bastante sobre o Amazonas. Depois, vieram seus afluentes. Como ela começou pelos que correm do norte para o sul, não tive problema algum de compreensão. Mas no momento em que se pôs a mostrar aqueles que nasciam ao sul do Amazonas e iam desaguar nele, minha pobre cabecinha começou a questionar: se o norte é para cima, o sul para baixo e a água sempre cai, como é que os rios sobem?
Naquela época eu era tímida e não tive coragem de expor minha dúvida. Talvez já tivesse a intuição de que, em certas horas, é preferível calar e matutar do que mostrar a ignorância. Foi o que fiz.
Fiquei olhando o mapa, pensando, pensando, sem escutar o resto da aula. De repente, tudo ficou claro.
Burra, como é que não havia pensado nisto antes?
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